domingo, 6 de setembro de 2009

SINDICALISMO AUTÓNOMO EM PORTUGAL(Crónica III)

De 1933 a 1934 Salazar definiu o essencial do Corporativismo inspirado na doutrina ultraconservadora do Centro Católico e dos fascistas italianos!Nesse sentido criou os sindicatos nacionais com quotização obrigatória para os sindicalizados e para os outros trabalhadores abrangidos por uma espécie de contratação!

Os sindicatos nacionais eram a única organização de trabalhadores admitida pelo regime.Todas as outras foram ilegalizadas e a maioria dos seus dirigentes foram presos ou tiveram que fugir para o estrangeiro!O movimento sindical livre foi completamente esmagado e os principais dirigentes (anarquistas,comunistas e socialistas) enviados para Angola, Tarrafal, Açores e Madeira.

Os sindicatos nacionais não tinham qualquer autonomia.Os seus dirigentes eram na generalidade afectos ao regime e ao Estado.As direcções sidicais eram homologadas pelo governo.
Nos primeiros anos os católicos sociais acreditaram que o regime corporativo fascista embora laico, poderia ser cristianizado!Todavia,o corporativismo e o sindicalismo do regime era fundamentalmente anti marxista e nacionalista. Poucas ou nenhumas referencias existiam às encíclicas socias católicas.

Benevolentes numa primeira fase os trabalhadores católicos, com Abel Varzim na dianteira, tornaram-se pouco a pouco desiludidos e críticos.Em 1933 a 36 ainda houve uma tentativa de se
criarem sindicatos cristãos independentes do Regime, mas Salazar cortou logo o problema pela raiz e mesmo a própria Acção Católica portuguesa, que Cerejeira queria apenas com uma dimensão espiritualista, não era do agrado do ditador.Assim os católicos, de forma organizada, nunca tiveram um grande peso nos sindicatos nacionais para poderem, no seu seio, darem-lhe uma orientação autónoma, aliás impossivel no quadro do regime!Contribuiram, no entanto, para cavarem mais adiante uma importante fractura entre o regime e o sector católico mais progressista!
Os comunistas, que numa primeira fase se organizaram autónomamente na CIS acabaram por praticar o "entrismo".O PCP, seguindo orientações do movimento comunista internacional decidiu trabalhar no interior dos sindicatos nacionais , mesmo contra a vontade de muitos dos seus militantes!No quadro do regime desenvolveram o trabalho possível para ocupar o aparelho sindical para lhe dar mais tarde a sua orientação!Sempre muito perseguidos animaram em alguns períodos algumas lutas operárias juntamente com outros sindicalistas e foram impulsionadores da luta pela conquista de direcções sindicais para a oposição, estratégia que viria a culminar com a criação da Intersindical no início da década de 70.

Os anarquistas, que animaram o sindicalismo durante quase três décadas, acabaram por ser os mais prejudicados na medida em que não definiram nenhuma tática de sobrevivencia na ditadura.Foram de peito aberto e foram quase aniquilados e também abandonados por uma fracção do operariado!A sua posição de autonomia e de não pactuarem com qualquer organização política e muito menos com a ditadura foi decisiva para a situação!

A corrente socialista teve também muitas dificuldades na luta contra o regime principalmente porque o Partido Socialista, depois de enveredar por táticas pouco claras, autodissolveu-se em 1933 deixando os trabalhadores socialistas uma situação complicada, muitos deles também no exílio e sem qualquer orientação sindical!

Note-se que aspectos importantes do sindicalismo na ditadura ainda precisam de mais estudos e uma parte da historiagrafia existente sobrevaloriza a acção da corrente comunista e subvaloriza a acção das outras correntes.
Podemos, no entato, dizer que as correntes sindicais referidas tentaram á sua maneira lutar contra a ditadura e subtrair o operariado português á influencia do regime fascista!

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