A CGTP realiza o seu Congresso nos próximos dias 23 e 24 de fevereiro.Numa grande Assembleia,neste caso de sindicatos,a histórica central sindical portuguesa debate o trabalho realizado e aprovará as linhas de orientação político-sindical para os próximos quatro anos.Normalmente
refrescam-se também os órgãos dirigentes da Organização.
Embora este debate seja fundamentalmente dos
sindicalistas da CGTP não podem outras pessoas ligadas ao trabalho deixar de
falar neste evento que tem significado e importância para a sociedade
portuguesa, nomeadamente partidos políticos e outras organizações de
trabalhadores e movimentos sociais.
Lendo o projeto de programa de ação há apenas
continuidade estratégica em todos os sentidos,ou seja, são apresentadas as
mesmas receitas para os problemas que afectam a classe trabalhadora.Também é
verdade que a maioria dos problemas são os mesmos ,alguns dos quais agravados!
Todavia, nos últimos quatro anos, atravessados
por uma trágica pandemia , uma guerra na Europa e uma inflação histórica, houve
mudanças sociais e culturais assinaláveis na sociedade portuguesa e em toda a
Europa.Mudanças no trabalho e na realidade sócio-política com o crescimento das
ideias conservadoras e de extrema direita.Este caldo cultural e político que
emerge deve necessáriamente preocupar os
sindicalistas e responsáveis de organizações sociais e políticas.
Algumas preocupações e interrogações
Neste sentido avanço com algumas preocupações
que não são apenas minhas:
1.Perante um capitalismo cada vez mais
predador dos recursos naturais e dos trabalhadores não será necessário
aprofundar a unidade sindical a nível nacional e internacional?Não será
necessário um reforço das ações conjuntas envolvendo todas as organizações que
defendam os direitos dos trabalhadores,independentemente da inspiração política
das mesmas?Ações que também mostrem à sociedade portuguesa,aos cidadãos em
geral, que os sindicatos se unem à volta de valores essenciais como a defesa
dos trabalhadores e o aprofundamento da democracia?
A nível internacional não seria importante a
filiação da CGTP na maior central sindical mundial, a Confederação Sindical
Internacional(CSI,) aceitando o desafio de trabalhar com a maioria dos
sindicatos sem ter como obstáculo a ideologia dos mesmos,mais ou menos social
democrata?Tal não significaria abandonar a colaboração com outras organizações
sindicais com as quais a CGTP se sente mais próxima.
2.Perante a erosão dos serviços
públicos,nomeadamente da saúde e escola pública,perfilhando-se no seu horizonte
o esvaziamento/mercantilização dos mesmos não seria de promover uma forte e
ampla aliança sindical na base de um programa reivindicativo e mobilizador
envolvendo utentes do sistema de saúde e encarregados de educação e que tivesse
como objetivo apoiar o fortalecimento da escola pública e do SNS?Uma estratégia
mais política do que corporativa que procurasse compatibilizar o trabalho
digno,nomeadamente a defesa dos direitos dos trabalhadores, com o objetivo de
fortalecer os serviços públicos?
3.Face às novas formas de trabalho,à
individualização do contrato de trabalho,teletrabalho e desvalorização da
negociação coletiva,bem como os desafios da inteligência artificial não seria
importante aprofundar o debate sobre
como alargar a representatividade sindical,face à diminuição preocupante da
sindicalização,como organizar os teletrabalhadores e outros trabalhadores digitais?
Que experiências estão ocorrendo neste domínio
nos vários países da Europa e como aproveitar também o saber e os estudos dos
cientistas sociais e centros de investigação colaborantes?
4.A meu ver é também necessário repensar a
estratégia sindical no setor dos transportes.As lutas neste setor, nomeadamente
as greves,castigam particularmente os trabalhadores no ativo e mais pobres,
apofundando cada vez mais a animosidade anti grevista em muitos cidadãos que
pagam o seu passe e são muito mais prejudicados que as próprias empresas de
transportes.As formas de luta devem ter em conta esta situação e a percepção
dos cidadãos sobre as mesmas lutas.Não será necessário criar protestos e formas
de luta que melhorem a confiança dos trabalhadores nos sindicatos e que os
lesem o menos possível?
5. Finalmente uma última questão.Como
mobilizar mais activamente os trabalhadores reformados no quadro do Movimento
sindical.Mais do que organizar os reformados em organizações próprias nãos
seria melhor organizá-los no quadro de cada sindicato?Hoje ser velho é um
estigma e uma organização só de reformados não tem sido frutuosa em
Portugal.Hoje os reformados têm mais anos de vida e novas competências que
podem ser úteis aos seus sindicatos e não devem ser acantonados em organizações
que só pensam nos problemas dos reformados.Hoje o salário e a reforma estão
estreitamente ligados,bem como os preços, a inflação,etc.As próprias lutas nas
empresas podem ter o apoio dos trabalhadores reformados.
Reforçar a CGTP como «Casa Comum»
6.Chegam ecos de que no interior da própria
central também existiu o debate e o confronte entre correntes sindicais nos
últimos anos ,debate que criou bloqueios, animosidades , com poucos contributos
para a solidez e crescimento da Central e para uma efectiva unidade sindical do
topo à base.Seria importante nos próximos tempos encontrar formas eficazes de
diálogo e solidariedade reforçando a CGTP como «Casa Comum»!
Mais do que um poder ou um contra
poder,utilizável sob ponto de vista político, os sindicatos devem ser
organizações autónomas, abertas a todos os trabalhadores como organizações de
massas que são, para defenderem os direitos e interesses de todos os trabalhadores.Trabalhadores
com as suas diferentes convicções políticas,filiados ou não em partidos ou
confissões religiosas!