quinta-feira, 28 de junho de 2012

INSPEÇÃO DO TRABALHO E REFORMA DO ESTADO!

Bernd Treichel, perito da OIT em sistemas de inspeção do trabalho, escreveu em 2003 o seguinte concluindo um artigo sobre a estratégia daquela Organização Internacional para as inspeções do trabalho:

«A inspeção do trabalho é uma das instituições mais importantes relacionadas com o domínio dos direitos humanos e a saúde e segurança no trabalho. Face a isto, a disponibilização de recursos adequados a todos os serviços de inspeção do trabalho é essencial para a promoção das normas fundamentais sobre o trabalho, a ideia de um trabalho digno e com direitos e o conceito de SST no século XXI.A inspeção do trabalho proporciona um solução abrangente para uma diversidade de problemas que surgiram em resposta á globalização. A necessidade de reforçar os sistemas de inspeção tornou-se mais evidente em anos recentes, e esforços com o Quadro de Avaliação, os Dez Passos as atividades de auditoria da OIT, bem como muitas outras iniciativas progressivas são necessárias para garantir o sucesso das inspeções do trabalho. No mundo dinâmico dos dias de hoje, as estratégias que reforçarem as inspeções do trabalho enquanto atores na batalha pela promoção de um trabalho digno e com direitos devem ser promovidas – e merecem o nosso apoio coletivo.»

Constata-se, porém, que numa grande parte dos países não têm sido colocados mais recursos ao serviço das inspeções do trabalho. Antes pelo contrário, com a desculpa da crise os recursos escasseiam nomeadamente em Portugal. Os recursos financeiros para a ACT em 2012 levaram um forte corte. Os cortes financeiros, as constantes mudanças orgânicas e de direção, bem como as permanentes alterações á legislação laboral retiram parte da eficácia á inspeção do trabalho. É verdade que a ACT foi reforçada em mais de uma centena de inspetores do trabalho e dezenas de técnicos superiores ainda no tempo do ministro Vieira da Silva! Mas para uma organização funcionar bem não basta reforçar o seu plantel. Há que ter um rumo, uma direção estável e motivada e uma vontade politica de levar a cabo a sua missão.

Temos, por vezes, a sensação de que o poder político não sabe bem para que serve e qual a missão da inspeção do trabalho nos tempos de hoje. A maioria dos governantes ou candidatos a tal estão eivados de uma ideologia ultra liberal que tem uma grande fé no mercado e nas «suas bondades» de regulação! Consideram que fiscalização e controlo nas relações de trabalho são contraproducentes para a competitividade. Assim, na opinião destes dirigentes, a inspeção deve ir mais pelos conselhos, pela pedagogia, pela informação e pelo incentivo á auto- regulação. São claramente as teses da patronal europeia e nacional! O resultado está bem visível: aumento do trabalho não declarado e do trabalho quase escravo, concorrência desleal, assédio e aumento de certo tipo de acidentes que são clara negligência e menor empenhamento na segurança e saúde do trabalho.

Como diz o perito acima referido as inspeções do trabalho são atores fundamentais da promoção do trabalho digno, particularmente num quadro de crise como esta. Eu acrescentaria ainda, as inspeções do trabalho são atores para uma economia saudável e transparente, uma economia sustentável social e ambientalmente. Uma inspeção operacional, motivada e bem assessorada tecnicamente, com rumo, consciente da sua missão insubstituível. Este objetivo não se compadece com uma visão meramente economicista da reforma do Estado e, pior ainda, com uma visão de que o Estado democrático e social é um empecilho!Ler mais sobre desafios das inspeções do trabalho

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O STRESSE DOS GESTORES!

Um artigo que estuda o stresse e sofrimento no trabalho dos executivos e gestores das empresas!Eles são trabalhadores e humanos que ,muitas vezes, se pensam não vulneráveis!O seu empenhamento no sistema e dedicação á carreira leva-os a situações complicadas!Dizem os autores do artigo a dado momento:

«...A competição e o conflito nas organizações têm efeitos relacionados à saúde dos executivos. A competição e a pressão prolongadas podem elevar os batimentos cardíacos, a tensão muscular, a pressão arterial e diminuir a atividade do sistema imunológico. Os efeitos a longo prazo são debilitantes e expõem os executivos a um grande número de riscos médicos e psicológicos à saúde. Alguns desses riscos podem ser altamente letais (Quick et al., 2003).
 O ambiente organizacional extremamente competitivo e com constante mudança, exigindo maior dedicação, mobilidade geográfica e flexibilidade de horários, desfavorece as mulheres executivas casadas, e em especial as que possuem filhos. Os sintomas de estresse também são evidentes nas mulheres executivas, além de insatisfação com a falta de equilíbrio entre suas vidas pessoais e profissionais (Tanure, Carvalho Neto &Andrade, 2006).»ler

segunda-feira, 25 de junho de 2012

OS MINEIROS DAS ASTURIAS E DE LEON!

Duzentos mineiros de Astúrias e Leon partiram numa «marcha negra» para Madrid protestando contra o fim dos apoios estatais às respetivas minas, ou seja, ao fim dos seus empregos. A marcha chegará á capital espanhola no dia 11 de Julho precisamente no dia em que o Presidente do Governo comparecerá no Congresso ou seja no parlamento do país vizinho.


Durante a longa caminhada de centenas de quilómetros a Cruz Vermelha apoiará os mineiros. As famílias e os municípios por onde vão passar também lhe darão preciosa ajuda! Passarão as noites em pavilhões desportivos, em escolas e casas de militantes sindicais e amigos! Por todo o lado por onde passam os mineiros sentem uma miríade de sinais de solidariedade. São olhados com respeito! Ainda concebem a sua profissão como algo que os define e os enobrece! Alguns são filhos e netos de mineiros. Desde pequenos escutam a velha canção de Santa Bárbara!

No meio de uma crise tremenda a Espanha, que anda nas bocas do mundo pela sua famosa equipa de futebol e pelo empréstimo á banca nacional, relega para secundaríssimo lugar esta luta dos mineiros asturianos e leoneses pelos seus empregos e pela economia regional.

Alguém decidiu, entretanto, que aquelas minas poderão diminuir a produção. Alguém decidiu que não era importante apoiar as minas. Por quanto tempo? Certamente as decisões têm a ver com o preço do minério nos mercados, com as ações de capital na bolsa. Daqui a algumas décadas uma multinacional qualquer decide o contrário, ou seja, será bom explorar novamente as minas! Entretanto, a economia daquelas regiões foi destruída, as gentes tirão que emigrar e os mineiros mais velhos irão para a reforma curar as mazelas e esperar pela morte!

É contra este cenário possível que os mineiros estão a lutar. Existe riqueza debaixo da terra capaz de fazer crescer a economia e dar trabalho a todos. Mas existem os interesses escondidos do mercado e dos investidores. Os mesmos que preparam um resgate a Espanha e já o fizeram á Grécia e a Portugal. São os que, na sombra, pretendem conduzir as nossas vidas! Os mineiros das Astúrias e Leon podem ser vencidos porque deram luta….O pior é mesmo quando, á partida, nos declaramos vencidos!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

NOVA ESTRATÉGIA PARA A SAÚDE DOS TRABALHADORES!

Nos últimos tempos a Comissão Europeia adotou a política do deixa andar no domínio da promoção da segurança e saúde dos trabalhadores.
Após duas décadas de intensa produção legislativa, através de diretivas, a Comissão foi evoluindo para uma posição de evitar regulamentar mais as condições de trabalho, nomeadamente as condições de segurança e saúde com o argumento que é preferível não levantar constrangimentos às pequenas e médias empresas e promover antes a simplificação da legislação existente e os acordos entre os parceiros sociais.
Dos programas de ação para a segurança e saúde passou para a elaboração de uma estratégia europeia da qual decorrem depois as estratégias nacionais.

Na prática na última década não houve substanciais progressos no domínio da segurança e saúde no trabalho em termos legislativos. Apenas alguns acordos-quadro entre os parceiros e a referida Estratégia Europeia de SST. Esta situação é compreensível á luz da evolução da União nos últimos anos. A Comissão passou de um «governo europeu» embrionário com iniciativa para um gabinete de apoio ao Conselho Europeu! Entrou numa deriva neo - liberal, em particular com Barroso, desregulamentando e abrindo brechas na Europa Social, aproveitando o quadro da crise económica e da moeda única.

A última Estratégia Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho vai agora acabar em 2012 e prepara-se, entretanto, a Estratégia até 2020.O balanço que se vai fazer não será particularmente positivo. Não se alcançou a meta de redução de 25% dos acidentes de trabalho e, como o documento não estabelecia outras metas quantificadas, poder-se-á avaliar mais ou menos positivamente os resultados alcançados.

Para além da falta de vontade política da Comissão Europeia e de alguns parceiros, com destaque para os patronais, a crise ajudou a esta paralisia no campo da promoção da saúde, segurança e bem- estar dos trabalhadores. Paralisia que atravessou todos os estados europeus, nomeadamente Portugal, onde a Estratégia Nacional também pouco influenciou os níveis reais de segurança e saúde nas empresas.

Questões a incluir na nova Estratégia

Para a nova Estratégia Europeia temos muitas e diversas matérias a incluir. A incluir com metas concretas e quantificáveis. Temos assim a necessidade de quantificar metas ao nível da saúde no trabalho, em particular no que respeita aos riscos químicos, ao amianto e á prevenção do cancro. Este novo documento tem que dar um forte impulso a esta matéria e não apenas á valência dos acidentes de trabalho. Mas mesmo neste campo há que definir metas concretas dado que se corre o risco de um aumento generalizado da sinistralidade num quadro de crise.

Depois será necessário avançar com legislação ao nível da prevenção das lesões músculo-esqueléticas, uma autêntica calamidade na Europa, com pesado sofrimento em particular para as mulheres. Mas também são necessárias medidas para a prevenção dos riscos eletromagnéticos e sobre a penosidade no trabalho. Esta matéria já tem inclusive uma lei em França e noutros países.

Finalmente a questão da prevenção do stresse e dos riscos psicossociais exige que seja equacionada e incluída na nova Estratégia. O sofrimento no trabalho devido á carga mental no trabalho ao assédio e ao stresse está a aumentar em toda a Europa. Algumas formas de organização e gestão estão a criar um mal- estar no trabalho pois são um atentado á dignidade da pessoa e não ajudam nada á recuperação da economia nem a um desenvolvimento sustentável social e ambientalmente!















sexta-feira, 15 de junho de 2012

TRABALHO DIGNO!-para além dos manifestos!

Nos últimos dias têm sido noticiadas iniciativas de juristas e académicos com manifestos e tomadas de posição sobre as alterações laborais e os atentados aos direitos sociais de quem trabalha. Surgiram apelos para que o Presidente da República vete essas propostas legislativas que vão alterar a nossa legislação laboral, reforçando escandalosamente o poder patronal, diminuindo drásticamente os custos do trabalho e golpeando a contratação coletiva e as organizações dos trabalhadores! A luta hoje neste contexto é, efetivamente, uma luta pela dignidade no trabalho!

É importante que se proteste e se denuncie esta manobra que vai reforçar o despedimento de muitos e a exploração intensiva de quem ficar no trabalho. No setor público aplicam-se idênticas medidas! É uma política coerente da direita que não pretende um crescimento económico que beneficie a maioria, mas antes uma acumulação da riqueza em alguns e o empobrecimento generalizado.

Perante esta situação fico perplexo com as teorias de alguns dirigentes de partidos de esquerda quando dizem mais ou menos isto: não será fácil a unidade das esquerdas. Acrescentam alguns, inclusive, que tal objetivo não é muito importante pois cada partido já tem o seu programa! Logo, os leitores que votem! Que direi? São surdos? Não estão a ver a realidade? Ou não sentem verdadeiramente a crise na pele? Não beneficiam eles, mesmo na oposição, de um bom estatuto na vida?

Alguém que não tenha esse estatuto de «político» e esteja no desemprego ou tenha o emprego ameaçado pode estar tranquilo? Não terá a maioria do povo português que estar ofendida com esta gente que vive á sombra da Assembleia da República ou de uma autarquia, ou de um cargo do Estado ou do partido? Gente que não está nada preocupada em encontrar alternativas com outros, porque já tem o seu partido, o seu programa, o seu objetivo estratégico. Ou não têm?

Não será absolutamente urgente, imperativo até, preparar uma plataforma política capaz de nas eleições varrer esta direita incompetente que tem como objetivo varrer a nossa Constituição e tudo o que ela significa em termos de modelo de sociedade? De um trabalho com direitos e deveres nas empresas pretende-se a que apenas as empresas tenham direitos! O trabalhador será um mero recurso e como tal deve ser o mais barato possível! Esta contra- revolução em curso não exige uma resposta adequada tendo como base programática a nossa constituição? Ou mesmo na esquerda já temos gente que há muito não está com a nossa Constituição?





I IMPACTO DAS TIC NAS CONDIÇÕES DE TRABALHO!

O Centro de Análise Estratégica da Direção Geral do Trabalho do Estado Francês publica um excelente relatório sobre o Impacto das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas condições e bem estar dos trabalhadores.É uma área pouco trabalhada partindo-se do princípio que os riscos não são muitos.

Todavia, o Relatório, em françês,acaba por concluir que existem cinco principais riscos ligados ás TIC no que respeita ás condições de trabalho.São:

1.Redução da autonomia do trabalhador.Maior controlo da sua atividade;
2.Aumento do ritmo e intensificação do trabalho;
3.Enfraquecimento das relações interpessoais e/ou dos coletivos dos trabalhadores;
4.Desaparecimento das fronteiras entre o trabalho e o resto da vida;
5.Grande sobregarga informacional.

Embora extenso este documento é um excelente instrumento de trabalho para quem reflete sobre o trabalho e o que se passa nos locais de trabalho modernos, nomeadamente a nível sindical.LER

terça-feira, 12 de junho de 2012

ACIDENTES DE TRABALHO-o discurso da culpa!


Ainda hoje são frequentes os discursos sobre os acidentes de trabalho culpabilizantes dos trabalhadores.Não raras vezes ouvimos, antes mesmo de qualquer inquérito, dizer que existiu falha humana...Mesmo algum discurso técnico não está isento de responsabilidade neste culpabilizar a vítima de um sistema que por não estar bem é que produziu o acidente!Antes de mais um acidente de trabalho é um sintoma de que algo não está bem na organização/empresa.Interessante este artigo de um autor brasileiro.Diz ele na introdução:

«Apesar dos avanços no campo da análiseacidentológica (ALMEIDA, 2006; BINDER, ALMEIDA & MONTEAU, 1995; OSÓ-RIO, MACHADO & MINAYO-GOMEZ, 2005), as concepções que responsabilizam os próprios trabalhadores pelos acidentes de que são vítimas mantém-se com vigor no dia-a-dia das fábricas (OLIVEIRA, 1997; SANTOS, 1991).

Como veremos adiante, o binômio atos inseguros-condições inseguras mantém seu poder de sedução.Ato inseguro e condição insegura são os conceitos centrais da “teoria dos dominós” elaborada na década de 1930. Para Heinrich (1959), o acidente seria causado por uma cadeia linear de fatores, como uma seqüência de dominós justapostos, que culminaria na lesão. A primeira peça do dominó seria os “fatores sociais e ambientais prévios” responsáveis pela formação do caráter dos operários. A segunda peça, os comportamentos inadequados dos trabalhadores, frutos de características herdadas ou adquiridas. Esses comportamentos inadequados poderiam vir a constituir-se em atos inseguros, isto é, em comportamentos de risco que, juntamente com a presença de condições inseguras (atos e condições inseguros são a terceira peça do dominó), levariam à ocorrência do acidente e, por fim, à lesão (respectivamente a quarta e a quinta peças da seqüência de dominós» LER

segunda-feira, 11 de junho de 2012

ESTUDO SOBRE RISCOS PSIQUICOS DOS PROFESSORES!

O jornal «Público» de hoje faz uma referencia a um estudo de investigadoras do ISPA sobre a situação dos professores portugueses relativamente ao risco psicológico!Interessante o texto e será necessário estar atento ao estudo.A indisciplina dos alunos, a extrema burocracia e o execesso de carga letiva são fatores importantes de stresse e exaustão!

Pena que também não se façam estudos sobre o restante pessoal não docente onde o que ocorre é uma autentica calamidade!Há escolas que estão com um terço do pessoal auxiliar em estado de doença física ou psíquica!Para quem se queixa a resposta é: «meta baixa!»As diretivas europeias e legislação de segurança e saúde no trabalho não existem nas escolas....é trabalhar e calar!


«Luís e Catarina são professores do ensino básico e sentem frequentemente que não conseguem estar à altura do que a profissão lhes exige. Ambos sofrem da chamada síndrome de burnout, um estado físico, emocional e psicológico associado ao stress e à ansiedade que, nos casos mais graves, pode mesmo levar à depressão.

Os dois não estão sós. Segundo um novo estudo conduzido por duas investigadoras do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), metade dos professores portugueses sofre deste distúrbio, que se manifesta mesmo nos níveis mais elevados em 30% dos docentes. O estudo resultou de inquéritos a 807 professores de escolas públicas (a larga maioria) e privadas de Portugal continental e regiões autónomas.

Luís (nome fictício) tem 40 anos, 18 dos quais a dar aulas de Língua Portuguesa e Oficina de Teatro a alunos do 3.º ciclo do ensino básico e a leccionar em Cursos de Educação e Formação, destinados a alunos com mais de 15 anos e com um historial de insucesso escolar. Catarina (que também pediu para não ser identificada pelo nome verdadeiro) tem 48 anos e é professora desde 1984. Dá aulas de Língua Portuguesa, Estudo Acompanhado e Formação Cívica no 2.º ciclo, apoia dois alunos com necessidades educativas especiais e é há vários anos correctora de exames nacionais, além de ser directora de turma e coordenadora de ciclo.

"Um grande vazio"

"O sentimento de ansiedade tornase gradualmente presente, assim como as suas consequências, nomeadamente o recurso prolongado a ansiolíticos", sintetiza Luís, garantindo que há "muitos professores" que recorrem a ajudas de "carácter psicológico e psiquiátrico, que incluem medicação forte".

"Esta é uma realidade observável através dos comportamentos, da forma de andar e falar. As queixas habituais revelam o extremo cansaço e até mesmo um tom de desespero, justificados pelas situações crescentes de indisciplina e desinteresse dos alunos, o que gera um sentimento de impotência e inevitabilidade", explica o docente.

Catarina concorda: "Muitas vezes, a sala de professores parece o muro das lamentações", conta. "A diversidade de tarefas é uma evidência" e "a carga horária é cada vez maior", diz esta professora, que exemplifica ainda com as "as reuniões constantes e intermináveis", "os alunos mais agitados e sem regras" e "os pais e encarregados de educação que 'entram' na escola de forma muito negativa". "Inicialmente senti-me angustiada por verificar que a minha verdadeira função estava a ser posta em causa", descreve a professora, salientando que procurou sempre adaptar-se ao que lhe foi sendo pedido. Mas hoje sente "um grande vazio".

De acordo com a investigação realizada por Ivone Patrão e Joana Santos Rita, são sobretudo os profes sores do sexo feminino, mais velhos e com vínculo profissional que apresentam níveis de burnout superiores. O primeiro aspecto apontado pelos docentes como causa para o distúrbio prende-se com a dificuldade de gestão dos problemas de indisciplina na sala de aula, com a percepção da desmotivação para o estudo por parte dos alunos e pela pressão para o sucesso. O segundo factor relacionase com a insatisfação com a carga lectiva que lhes é atribuída, por todas as responsabilidades não-educacionais e pela falta de trabalho em equipa e de suporte das chefias, além da pressão de supervisores no que toca à avaliação de desempenho.

Luís não tem mesmo dúvidas em afirmar que o actual sistema de avaliação de desempenho, que considera "desonesto e injusto", contribuiu decisivamente para o estado em que se encontra e que o leva a questionar cada vez mais o interesse que sente pelo ensino.

As duas investigadoras do ISPA concluíram ainda que os professores do ensino secundário apresentam valores mais elevados de stress e exaustão emocional, sendo também os que mais se queixam de falta de reconhecimento profissional. Além de se sentirem colocados perante níveis de exigência e expectativas superiores para a execução do seu papel, criticam a falta de condições organizacionais nas escolas e a muita burocracia associada à profissão.

Mais intervenção

O estudo, iniciado em 2009, ainda está em curso, salientam ao PÚBLI- CO as autoras da investigação. "Vamos continuar a recolher dados", diz Ivone Patrão, explicando que falta avaliar, face aos dados já apurados, "quem recorre à medicação e quem está a realizar intervenção psicológica". Joana Santos Rita revela, por outro lado, que agora estão interessadas em perceber quais "os factores e as estratégias que facilitam a resiliência e o envolvimento dos professores que mantêm níveis elevados de bemestar" profissional.

Apesar da falta de investimento nesta área e de terem consciência de que "é impossível ter um psicólogo em cada escola", as duas investigadoras defendem a necessidade de "dar o salto para a intervenção" através de "metodologias que partam das experiências boas e más dos professores".

Ivone Patrão salienta que os próprios professores inquiridos no estudo apontam "necessidades formativas": 53% querem formação em gestão de conflitos, 22% em competências comunicacionais e 19% em desenvolvimento pessoal. Embora em menor número, há quem também peça formação em actividades mais dirigidas para os alunos ou para a promoção da saúde física e mental dos estudantes.

Joana Santos Rita garante que "esta oferta formativa não existe", mas "cada escola pode definir as suas próprias intervenções". As comunidades de aprendizagem "podem ser o caminho" e "qualquer escola pode ganhar com uma intervenção em grupo", acrescenta Ivone Patrão.
Apesar da "descrença" e do "desânimo", Luís ainda não perdeu a esperança. Considera "que é fundamental continuar a acreditar" que as coisas vão mudar e que vai conseguir "manter interesses e actividades que compensem o sentimento de perda".

807 Professores de todo o país foram inquiridos para o estudo. A maioria é do sexo feminino e a média de idades ronda os 45 anos »

João d'Espiney









sexta-feira, 8 de junho de 2012

DIAGÓSTICO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO!

Se é membro de uma organização sindical, representante dos trabalhadores para a SST , técnico de segurança ou gestor, precisa de fazer um diagnóstico das condições de trabalho da sua empresa. Mesmo não sendo nenhuma destas coisas poderá ter interesse em fazer essa análise para obter uma ideia real da situação em que trabalha.

Abaixo poderá, apenas com um clique, ter acesso a um diagnóstico das condições de trabalho para aplicar na empresa.É um modelo e não é o único.O importante é fazer efetivamente o diagnóstico das condições de trabalho que poderá levar mais tarde a uma avaliação de riscos mais ponderada e mais profunda, inclusive lançando mão a especialistas em áreas mais complexas  da prevenção de riscos profissionais.
O documento pode também ser utilizado para uma ação de sensibilização para as condições de trabalho na empresa ou estabelecimento.Ver

segunda-feira, 4 de junho de 2012

REFLEXÃO DE UM ERGONOMISTA SOBRE A CRISE!

Francois Daniellou, conhecido ergonomista francês da École National Supérieure de Cognotique, do Instituto Politécnico de Bordéus faz uma reflexão sobre a crise atual a situação dos trabalhadores e o futuro do trabalho.

«Esa situación dramática de los asalariados franceses, incluso los directivos, interpela a los ergónomos. Los temas del trabajo y de la salud laboral no son un lujo que se podría dejar de lado en tiempo de crisis. De la crisis no todas las empresas saldrán ilesas, muchos trabajadores ya han perdido o van a probablemente

perder su empleo. Algunas empresas piensan que el camino

de la supervivencia pasa por un refuerzo de las órdenes descendientes, del control, y en algunas de ellas, del desprecio.

Podríamos estar tentados de esperar a que la crisis pase. Pero tenemos que afirmarlo, basándonos en nuestro patrimonio

profesional: la crisis industrial es una crisis de pérdida del contacto con la realidad del trabajo y con los objetos de trabajo, una crisis de los enfoques totalmente top down, de un funcionamiento

en el cuál sólo valen las informaciones descendientes,

una crisis del mundo de cristal alimentado por visiones y niveles desconectados de la realidad, una crisis de los modos de gobierno basados en la omnipotencia del cálculo anticipado, en el desprecio a la inteligencia y a la capacidad creativa de los trabajadores.Ler