sexta-feira, 30 de maio de 2008

QUANDO O LOCAL DE TRABALHO É UM LOCAL DE TORTURA!


Telefonou-me dos Açores. Andou uma semana até conseguir o meu contacto. Tinha lido um artigo meu num jornal regional sobre o assédio moral e violência no trabalho .Tudo aquilo que lera estava a passar-se com a sua irmã Sofia que via definhar-se, abandonar o trabalho e a sua auto - estima .O marido preocupadíssimo com ela e com os filhos, ainda pequenos, não sabia o que fazer!
A história, ao telefone, resumia-se a muito pouco. O responsável de um restaurante começou a perseguir sistematicamente a sua irmã Sofia, funcionária do mesmo. Para ele a Sofia não valia nada, não cumpria , estava em decadência e já se adivinhava o futuro de insucesso. A situação era de permanente conflito durante meses. Um dia o malvado até lhe atirou com uma peça de carne à cara!
Este dia a dia de tortura levou Sofia a um poço sem fundo. Não se cuidava pessoalmente, não tratava dos filhos e nem olhava para o marido!
Muito preocupada a irmã de Sofia queria fazer alguma coisa para a salvar .A solução foi abandonar o trabalho. Todavia, não queria deixar esta situação impune. Vou para a Inspecção do Trabalho e vou para a imprensa se for necessário...ele não se vai rir mais uma vez. Sim, pelos vistos o dito perseguidor era contumaz e reincidente!
Já a terminar animei-a vivamente a prosseguir nesse caminho de combate num caso de verdadeiro assédio moral e de violência psicológica! Não é um caso isolado nos dias que correm! Na empresa e a nível pessoal há que promover estratégias de prevenção do assédio moral, destruidor das pessoas!Os riscos psíquicos podem destruir como os físicos, químicos ou biológicos!O caminho da destruição pode ser, porém, extremamente doloroso!

terça-feira, 27 de maio de 2008

EMPRESAS DO FUTURO-LOCAIS DE TRABALHO SEGUROS E HUMANOS?


Com as mudanças em curso na vida económica e, concretamente, nas relações de trabalho, colocam-se com pertinência uma série de questões que requerem respostas urgentes no dia a dia. Com as mudanças constantes na gestão e organização do trabalho, com as novas exigências dos clientes, com a introdução de novas tecnologias de informação e comunicação, com o tele-trabalho e as empresas virtuais pergunta-se: que locais de trabalho estamos a construir e como podemos garantir, no futuro, a segurança e saúde dos trabalhadores, o equilíbrio entre produtividade e bem-estar no trabalho?
Tem sentido falar em inadaptação do trabalhador? Não deve , pelo contrário falar-se em adaptação do trabalho ao homem tal como o define a ética humanista e a ergonomia a psiquiatria e outras ciências da saúde?


São questões que interessam a todos e, em particular, aos gestores, representantes dos trabalhadores e serviços de segurança e saúde no trabalho (SST).
Com efeito, a maioria dos especialistas em gestão afirmam que hoje e no futuro as pessoas são o elemento chave do desenvolvimento económico e social. Pessoas competentes, autónomas com saúde mental e física; pessoas com tempo para a vida social e familiar; pessoas com tempo para si próprias!


Ora, se não trabalharmos correctamente ao nível das empresas e, nomeadamente, dos locais de trabalho em sentido amplo, não conseguiremos estes objectivos. Para além de lembrarmos as medidas técnicas de prevenção, para bem implantarmos e organizarmos os locais de trabalho tradicionais saliento três preocupações para o futuro.
Uma delas tem grande actualidade no contexto do debate europeu sobre a flexisegurança. Há que pensar bem nas consequências da flexibilidade organizacional, nomeadamente na natureza dos locais de trabalho, dos horários e da mobilidade geográfica.
Há que ter em conta os efeitos e os custos humanos e económicos do trabalho realizado em locais de trabalho instáveis, em casa ou em quase existência virtual. Como compatibilizar a saúde dos trabalhadores com essas formas de exercer uma actividade? Como evitar o stress, por exemplo, que está na origem de diversas doenças?


Uma outra preocupação, não menos importante, prende-se com a questão da emergência de alguns riscos profissionais que se acentuaram nos tempos modernos como o ruído, a carga física e mental, o stress, o assédio ou coacção psicológica e a violência no trabalho.
Estes riscos, cada vez mais estudados, estão hoje no centro das preocupações de organizações internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) ou a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (AESST).
Na sua origem está frequentemente um estilo de vida e uma organização do trabalho propiciadoras do stress. Pela sua complexidade e impacto económico e social exigem um particular esforço dos serviços e técnicos de SST, bem como uma especial atenção das chefias.
Finalmente não podemos esquecer um princípio fundamental para a prevenção dos riscos profissionais cada vez mais decisivo no futuro: a prevenção deve estar integrada no projecto de uma obra, de uma cadeira, de uma máquina, de uma ferramenta. A prevenção na concepção dos locais de trabalho por sua vez evita muitos acidentes e doenças profissionais. Nesta linha há que dar cada vez mais espaço à ergonomia. O esquecimento deste princípio fica muito caro às empresas e a toda a sociedade.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

AOS OPERÁRIOS QUE MORREM NAS OBRAS EM ESPANHA!

Sentou-se silenciosamente no banco vazio à minha frente colocando uma pequena mala ao seu lado.Oferecei-me para lhe colocar a bagagem no espaço reservado para o efeito mas ela agarrou-se á mala esboçando um sorriso que alegrou um pouco a sua cara triste .Os cabelos com muitas brancas e uns olhos particularmente vivos davam-lhe uma certa beleza, apesar dos anos e de um ar sofrido reflectido nas suas maõs morenas e calejadas pelos trabalhos manuais.O ar simples e humilde e as roupas escuras indiciavam talvez uma camponesa que regressva da cidade, depois de visitar os familiares.
Dei-me conta que depois de se sentar no seu canto olhou para mim com alguma curiosidade ,dando sinais de querer encetar conversa para melhor passar a viagem.A estação de destino que serviu para o início da conversa serviu também para descobrirmos que afinal também tinhamos nascido na mesma aldeia e concelho.Curiosamente até tínahmos sido companheiros de brincadeiras na escola.
Palavra puxa palavra, o coração começa a falar e a contar um rosário de vida que marcaram a história de cada um.
O brilho do olhar dela porém esfumou-se quando lhe perguntei pelo marido.O luto que a acompanhava era pelo homem falecido em Espanha numa obra de auto-estrada.A escassez de trabalho naquela altura empurrou o marido para os lados de Valladolid na busca de melhores oportunidades.Os filhos estavam todos criados mas ainda tinham os netos e as dívidas da casa que ,finalmente puderam comprar com um pouco de terra para uma horta!Terra que os seus pais e avós nunca tiveram naquele Douro tão duro para eles!
Os salários em Espanha eram bem melhores.A vida teria um rumo melhor se não fosse aquele acidente que lhe roubou o marido e companheiro de uma vida de tantos anos.As indemnizações recebidas esfumaram-se em pouco tempo. Os trabalhos que agora lhe aparecem já não são para as suas forças, embora ainda não esteja velha!
Mas , o que mais lhe doeu foi ver o companheiro partir vivo para Espanha e regressar assim frio e dentro de uma urna funerária.Para ela a vida acabou ali.Nunca mais a sua alma abandona o luto.Aquele acidente confirmou infelizmente e ao arrepio dos tempos ,um velho ditado:"De Espanha nem bom vento, nem bom casamento!"
ORTEGA

terça-feira, 20 de maio de 2008

UMA PEQUENA AMOSTRA DO QUE SE PASSA POR ESSE PAÍS!


ACT levanta 82 autos em inspecção ao Fórum Montijo A Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) levantou 56 autos de notícia e 26 de advertência no Fórum Montijo, numa inspecção que envolveu 119 lojas.
«As infracções autuadas diziam respeito aos limites máximos dos períodos de trabalho, diários e semanais; registo de ponto dos trabalhadores; registo do trabalho suplementar; falta de exames de saúde, na admissão e periódicos e falta de seguro de ACIDENTES de trabalho», refere a ACT em comunicado. Nas 119 lojas visitadas, que empregam 331 trabalhadores, foram detectados 15 trabalhadores estrangeiros, sendo que um estava ilegal e está a ser legalmente integrado na respectiva entidade empregadora, e outro não estava declarado à Segurança Social.
«Foi também efectuada uma notificação para apresentação de prova de autorização de utilização de câmara de vídeo-vigilância num estabelecimento comercial», acrescenta o documento. A operação contou com a presença de 31 inspectores, afectos a várias unidades orgânicas da Direcção-Regional de Lisboa e Vale do Tejo. Diário Digital / Lusa


Esta é uma pequena acção regional da ACT.Apenas num complexo comercial de uma pequena vila tanta ilegalidade!Note-se que a questão dos horários é a pior!!

sábado, 17 de maio de 2008

A CONTRATAÇÃO COLECTIVA PODE SER PROGRESSO E BEM ESTAR


Um dos pontos de maior fricção nas negociações para a revisão do Código do Trabalho é, sem dúvida, a questão da caducidade das convenções.Os patrões acusam os sindicatos de cristalizados, parados no tempo e outros mimos procurando ganhar a opinião pública para a sua tese política de que é necessária uma maior mobilidade neste domínio para que se possam actualizar os conteúdos das convenções.Os sindicatos acusam os patrões de quererem modificar os conteúdos das convenções negociadas no essencial nas décadas pós revolução do 25 de Abril de 1974.A questão da necessidade de actualizar os conteúdos ,embora pareça inocente, leva óbviamente água no bico.Será que o patronato estaria tão interessado na actualização das convenções se o conteúdo das mesmas estipulassem menos direitos e regalias?Não seriam então os patrões os imobilistas?
Mas vamos a uma questão prática.Nas sucessivas revisões que já se efectuaram em vários sectores como se explica que os conteúdos sobre segurança e saúde no trabalho sejam na generaliadde tão pobres?Apesar dos acordos sociais e da legislação europeia sobre esta matéria!Então não estaria aqui uma excelente oportunidade do patronato mostrar que queria investir neste domínio introduzindo conteúdos avançados ,aliás previstos na legislação?Nomeadamente mais e melhores serviços de segurança e saúde no trabalho(SST), comissões de SST nas empresas, eleição de representantes de trabalhadores para a SST, avaliação de riscos.Lamentavelmente nem 50% das empresas portuguesas enviam o relatório anual sobre a matéria para a ACT.
Não está aqui a prova clara de que a revisão pretendida é para baixar os patamares de direitos e regalias dos tarbalhadores?
Na realidade o quadro político mundial e a relação de forças entre o capital e o trabalho cria as condições para o patronato exigir um baixo nível de direitos sociais em todo o mundo e nomeadamente na Europa!É esta a questão central que temos pela frente.No tempo da elaboração do Codigo do trabalho com Paes Antunes /Bagão Félix os sindicatos tinham toda a esquerda na sua rectaguarda.Com o PS no Governo a base de apoio às posições dos sindicatos diminui e a esquerda aparece dividida. Uma parte da esquerda quer aproveitar as tibiezas do PS
nesta matéria para ganhar votos!!
Uma questão, porém, é certa, os sindicatos não podem pactuar mais com a erosão dos direitos sociais e com a precariedade.Será o seu fim e o fim da contratação colectiva, elemento essencial de estabilidade social, progresso económico e democrático!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A VITÓRIA DOS BIGODES!

“...O anseio de libertação do estigma de “criado doméstico” de dignificação profissional e de elevação no estatuto social, já tinha levado alguns empregados de mesa a fazerem greve e outros a deixarem de se empregar por os quererem obrigar a cortar o bigode.
Foi por isso natural que a leitura de El Syndicato - órgão dos criados de mesa de Buenos Aires- onde os camaradas denunciam “alguns maricas que assentam em cortar o bigode para servir certas pessoas nobres que agora visitam a Argentina” tivesse servido de faísca para a tomada de medidas da associação.
Na Assembleia Geral, Felício Rodrigues, no seu estilo fogoso e anticlerical, intervém a propor medidas para que a classe deixe de ser equiparada aos “caras rapadas”- os padres e jesuítas.
A questão foi debatida seguida de uma eleição de uma comissão para ir conferenciar com todos os proprietários de hotel no sentido de os levar a abdicar da humilhante exigência do corte do bigode aos seus empregados.
Na assembleia seguinte a comissão informa que os hotéis Continental, Duas Nações, Europa, Borges, aliança, Bragança, Central e Durand aceitam que os empregados possam usar bigode...
Ai fim de dois meses de negociações a comissão do bigode apresentou-se na assembleia geral e comunicou que tinha chegado a acordo com todos os hotéis de Lisboa incluindo os renitentes Avenida Palace e Francforte.
O acordo estipulava que a partir de 20 de Dezembro de 1910 todos os criados de mesa podiam usar bigode....”

Do Livro “HOTELARIA - de criados domésticos a trabalhadores assalariados “ de Américo Nunes. Um livro redigido por um sindicalista que conta a história da classe na luta por melhores condições de vida e de trabalho .

quinta-feira, 15 de maio de 2008

NO DORSO DA ALBUFEIRA

A barragem do Cabril está uma maravilha!Os visitantes ficam entusiasmados!Que técnica!Que harmonia de linhas! E a albufeira tão azul, a reflectir nas margens as casas, as árvores e as flores!Encanto!
Pois nela o Ramalho apanhou uma silicose, quando marteleiro e capataz nos túneis.Está quase no último grau.
Um dia, vem-lhe a ideia de se matar.
Noutro, fica meio louco.
Noutro, conforta a mulher e os filhos.
Noutro, estende-se na pobre cama e chora.
Noutro, sai da barraca, tira a boina e...pede esmola.
Que vergonha para nós!
Quando. em nossa terra, a reforma e a assistencia a que Ramalho tem direito?
Que linda está a barragem de Cabril!
Em dias claros, podemos vê-la reflectida nas águas.
Quando lá passo, vejo sempre a boiar, no dorso da albufeira, os pulmões do Ramalho.
5 de Abril de 1957

De "O LODO E AS ESTRELAS" de Telmo Ferraz.Um livro que apenas pôde ser publicado depois da Revolução de Abril de 1974.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

REVISÃO DO CÓDIGO DO TRABALHO-Breves considerações de segurança e saúde no trabalho



A proposta do Governo sobre a revisão do Código do Trabalho está no centro das atenções políticas. O debate tem sido interessante e permite ver quais os interesses em jogo e as políticas de trabalho em confronto.
O ângulo de análise da proposta do Governo que aqui escolho é para responder a esta questão: que custos para a saúde, segurança e vida familiar e social dos trabalhadores podem eventualmente comportar as propostas políticas do Governo?
Todavia, antes de entrar propriamente na matéria permitam-me duas observações preliminares
.

A primeira é que a proposta ainda é um documento político para negociação e não uma proposta de diploma. Em consequência não é fácil vislumbrar em toda a plenitude as alterações a efectuar e quais as consequências futuras das opções. Aliás, a este respeito muitas das propostas apenas poderão ser avaliadas depois de praticadas.

A segunda questão é para salientar que o documento, como aliás os trabalhos da Comissão do Livro Branco para as relações Laborais, vai na linha e segue muito de perto as linhas propostas pela Comissão Europeia sobre a flexibilidade laboral e nomeadamente sobre as propostas da chamada flexisegurança. No entanto, nesta matéria os Estados têm muita liberdade de acção ao contrário da política monetária.

Feitas esta duas observações vamos então abordar algumas questões que considero pertinentes sob ponto de vista de segurança e saúde dos trabalhadores e no quadro de uma desejável conciliação entre vida profissional e familiar, uma das questões igualmente importantes na política de emprego da UE.

1.A flexibilidade dos vínculos de trabalho

Lidas com atenção as propostas nota-se uma vontade de, embora moderadamente, flexibilizar mais as relações de trabalho em Portugal em nome da necessária competitividade das empresas. Flexibilizar fundamentalmente em dois sentidos, ou seja, em proporcionar maior poder de acção ao empresário no que respeita á estabilidade do vínculo e aos horários de trabalho. Claro que existem algumas propostas que eventualmente poderão proporcionar penalizações a quem aposta demasiado no trabalho precário...Mas a opção de fundo é: mais vale um trabalho precário legalizado do que clandestino! A ideia, não provada, é que assim teremos mais emprego. Aliás, as taxas de desemprego sobem ao mesmo tempo que sobre a precariedade.
Ora, a segurança e estabilidade do vínculo é muito importante para os trabalhadores portugueses na medida em que sentem que no desemprego a protecção social nem sempre é eficaz e suficiente e que não é fácil conseguir outro emprego num mercado de grande desemprego e recheado de licenciados!
Assim, a flexibilidade no vínculo (facilidade no despedimento) é sentida como uma ameaça pessoal bem como à sobrevivência da família, sinónimo de empobrecimento de uma carga de trabalhos sem fim, nomeadamente com dívidas por pagar, mensalidade de casa, filhos nas universidades etc. Podemos dizer que no nosso contexto, e em particular para os mais velhos, a precariedade é fonte de insegurança material e psicológica, de stress, de ansiedade e angústia. Mas, para os jovens, embora talvez menos, não deixa de comportar graves problemas de inviabilidade de uma vida autónoma.
Claro que as entidades patronais gostam mais de valorizar outros aspectos do problema como sejam: a flexibilidade permite que as pessoas não se instalem, que sejam mais activas a procurar emprego facilitando a renovação do pessoal, enfim mudar de pessoas como se muda por exemplo de tecnologias!
Claro que estas matérias não são politicamente neutras!

2.Flexibilização dos horários de trabalho

O documento do Governo, embora avançando com ideias concretas, ainda vai ser muito trabalhada até que tenhamos uma proposta de diploma .Mas esta é uma exigência fundamental do patronato, o que se compreende. Para a competitividade e na óptica do capital é muito importante embaratecer o trabalho e dispor de trabalhadores nos momentos mais convenientes para os negócios empresariais.
Há aqui um amplo espaço para a negociação sectorial e empresa a empresa. Todavia, a tendência flexibilizante defendida pelos governos e empresários tem, que ter limites e balizas muito claras .Caso contrário, a saúde dos trabalhadores e a conciliação vida profissional e familiar não passará de retórica na UE com consequências muito sérias para a vida das pessoas e para a segurança social e economia do País. Lembro que as doenças e acidentes representam 4% do PIB mundial!
Podemos ganhar dinheiro por um lado e perder por outro, nomeadamente com famílias destruídas e as doenças psicológicas a aumentar de tal modo que a OMS estima que estas estarão em primeiro lugar em 2020!
Os horários extensos e o trabalho nocturno podem ser fonte de fadiga e de acidentes de trabalho bem como de perturbações graves do ritmo biológico!
Outras propostas relativas à maternidade e paternidade poderão ajudar a estabilidade familiar e o crescimento equilibrado das crianças. A questão na prática é esta: até que ponto essas regalias serão usufruídas pelos trabalhadores com vínculos precários?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

MILHARES DE EDIFÍCIOS COM AMIANTO

Saúde: Canalizações apresentam riscos ainda maiores

Amianto está no telhado de 600 mil edifícios.Há em Portugal cerca de 600 mil edifícios com coberturas de telhas de fibra de cimento, material que contém na sua composição entre dez a 15 por cento de amianto, um mineral cancerígeno totalmente proibido desde o ano passado, divulgou ontem Maria do Carmo Proença, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Na I Jornada do Amianto, que ontem decorreu em Lisboa, a investigadora sublinhou, contudo, que 'estas coberturas apresentam um risco baixo, sendo que as situações mais preocupantes verificam-se na presença de amianto em material friável (maior facilidade de libertação das fibras) e que há em canalizações, portas corta-fogo ou isolamento entre compartimentos', acrescentou.
Para João Hipólito, da direcção da Incidades - entidade responsável, em parceria com o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, por esta iniciativa - 'há uma necessidade urgente de realização de um inventário a nível nacional para se saber a real dimensão do amianto nos nossos edifícios'.
Por sua vez, Mariana Neto, da Direcção-Geral de Saúde, precisou que por ano morrem em Portugal entre 25 a 30 pessoas vítimas de mesotelioma, um tumor cancerígeno raro, com uma incidência de um a dois casos por ano por cada milhão de habitantes, em regra trabalhadores expostos ao amianto. Em 1994 houve 15 vítimas mortais, valor que subiu para 28 em 2001, registando-se 29 em 2004 e 24 em 2005.
A exposição a fibras de amianto é também responsável por doenças como cancro broncopulmonar, lesão pleural benigna e fibrose broncopulmonar.O subdiretor do Conselho Directivo da Escola Nacional deSaúde Pública, João Prista Silva, destacou que 'onde há factor de risco há risco que pode ser diminuto, mas existe'. Recordou que 'a variabilidade biológica traz-nos exemplos de pessoas que são capazes de suportar o inimaginável, e casos de pessoas supersensíveis'.

SUBSTÂNCIA GERA SILÊNCIO E CONTESTAÇÃO CONFIDENCIAL

O Instituto Ricardo Jorge não divulga quais os edifícios em que foram diagnosticadas situações de risco e consequente realização de obras para retirada do amianto. Na I Jornada também não foram quantificadas acções realizadas.

TRIBUNAL

A Associação Sindical dos Juízes Portugueses critica que a Autoridade para as Condições de Trabalho, alertada para a presença de amianto no Tribunal de Arganil, nada fez para a averiguar uma situação que pode ameaçar a saúde pública.

TRABALHO

Electricistas, pedreiros e canalizadores são das profissões de maior risco por exposição ao amianto. A Autoridade para as Condições do Trabalho aplicou no ano passado coimas no valor de 16 mil euros e este ano inspeccionou 38 locais.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A FADIGA É MÁ CONSELHEIRA!


A exagerada flexibilização de horários, tema actual, dada a sua negociação por motivo de revisão do Código do Trabalho, pode ter consequências graves para a saúde e vida familiar e social do trabalhador.



A fadiga é frequentemente apontada como causa imediata de graves acidentes de trabalho, em especial no sector dos transportes, onde para além do motorista outras pessoas sofrem as consequências dos desastres. O Verão e as épocas festivas são tempos particularmente propícios a situações de trabalho excessivo, horários desregulados e ausência de repouso por parte de alguns profissionais. A fadiga, porém, pode e deve ser prevenida para se evitarem custos humanos e económicos bem graves!


A fadiga é o resultado de um trabalho continuado que provoca uma redução reversível da capacidade do organismo e, em simultâneo, uma degradação da qualidade desse trabalho. É causada por um conjunto de factores complexos, nomeadamente fisiológicos, como a intensidade e duração do trabalho físico e intelectual, sem esquecer os psicológicos como a monotonia e a falta de motivação, e ainda os factores ambientais e sociais como a iluminação, o ruído, temperaturas e relações sociais.
A fadiga resulta frequentemente da exposição do trabalhador a situações de stresse, concebendo este como resposta do organismo a factores que exigem adequada adaptação a solicitações e desafios.


Embora não se conheçam totalmente os mecanismos causadores da fadiga existem estudos suficientes que nos revelam quais são as principais consequências da mesma.
Assim, uma pessoa fatigada tende a simplificar a sua tarefa, eliminando tudo o que não é essencial e tornando-se menos precisa e segura. Os índices de erro começam a crescer. Um motorista fatigado, por exemplo, está menos atento aos instrumentos de controlo e reduz a frequência das mudanças.
A fadiga física, desde que não ultrapasse certos limites, é reversível podendo o organismo recuperar através de pausas durante o trabalho ou com descanso diário. O mesmo não acontece com a fadiga crónica que não é aliviada por pausas ou sonos e tem um efeito cumulativo. Este tipo de situação, particularmente complexo nas suas causas, exige acompanhamento médico.
Alguns aspectos do problema estão contemplados no normativo comunitário e na legislação nacional referindo-se em especial os ritmos de trabalho, as pausas e a rotatividade de tarefas[i].


Uma empresa ou serviço sem condições de segurança e saúde no trabalho é propícia à existência de fadiga nos trabalhadores, embora saibamos que as características individuais e o tipo de vida de cada um têm, igualmente, influência no aparecimento daquela.
Algumas pessoas são mais sensíveis à fadiga do que outras. Certos trabalhadores cansam-se mais com determinado tipo de trabalho ou em determinadas épocas do ano ou, ainda, em algumas fases da vida. As chefias e o médico do trabalho devem estar particularmente atentos a sinais que indiciem a existência de fadiga nos trabalhadores.
Neste sentido a prevenção é a estratégia acertada para combater esta “doença” passando nomeadamente pela implementação de um serviço de saúde e segurança. Como medidas concretas a nível individual podemos apontar as seguintes:
ü Aprender a gerir o tempo, planificando tarefas e delegando funções;
ü Dormir regularmente;
ü Banir hábitos tóxicos (álcool e tabaco);
ü Fazer uma alimentação racional;
ü Conversar com os colegas.
Relativamente à prevenção na empresa e no âmbito de uma correcta organização das actividades de segurança e saúde no trabalho exigidas por lei, destacamos:


Organizar o trabalho flexível que permita a criação de pequenos grupos ou equipas de trabalho motivadas, com autonomia e com rotatividade e diversidade de tarefas;
Flexibilizar os horários permitindo ao trabalhador a participação na gestão do seu tempo de trabalho;
Introduzir pausas, quer sejam espontâneas promovidas pelo trabalhador, quer introduzidas por regulamento da empresa ou serviço;
Promover ritmos de trabalho adequados ao bem estar do trabalhador em concreto
Sendo necessário efectuar trabalho por turnos é aconselhável que os mesmos sejam de curta duração, evitando acumulação de perdas de sono e conciliando a vida profissional com a vida familiar e social. Estes trabalhadores devem ser especialmente acompanhados pelo médico do trabalho.


Para terminar este breve apontamento podemos afirmar que a existência de casos de fadiga numa empresa é um sintoma de alerta que deve obrigar a gestão e, em especial, os serviços de segurança e saúde no trabalho, a uma avaliação de riscos, nomeadamente a uma análise das condições e organização do trabalho.
Em situações concretas pode existir de facto uma relação entre fadiga, acidentes de trabalho, produtividade e absentismo.








segunda-feira, 5 de maio de 2008

CANTONEIRO NÃO RESISTE AO ACIDENTE!

Paulo Campos, de 42 anos, não resistiu aos graves ferimentos provocados pela queda do estribo do camião de recolha do lixo em que seguia na sexta-feira de manhã. O funcionário da Câmara Municipal de Oeiras (CMO) foi assistido no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, onde fez uma pequena cirurgia. mas acabou por morrer pelas 21h10 de sexta-feira, doze horas após o acidente ocorrido na rua Conde de Rio Maior, em Paço de Arcos.
Segundo Raquel Viana, porta-voz da CMO, a autarquia está de luto e solidária com a família de Paulo Campos e seus colegas de trabalho. "A Câmara Municipal já falou com a família e vai suportar todas as despesas dos serviços fúnebres", disse Raquel Viana ao CM.
A CMO vai accionar os seguros de vida e de trabalho do cantoneiro que morreu num acidente de viação em trabalho. Segundo os bombeiros locais, Paulo Campos foi projectado do camião no momento em que este passava por uma lomba, tendo caído desamparado no chão, onde bateu com a cabeça.
O acidente ocorreu numa curva a descer que antecede o Jardim de Infância do Alto da Lomba.A lomba que provocou o acidente fatal e ferimentos ligeiros ao outro cantoneiro, José Constâncio, de 44 anos, tem cerca de 15 centímetros.O velório e o funeral de Paulo Campos ainda não têm data marcada uma vez que se aguarda o resultado da autópsia, a realizar no Instituto de Medicina Legal de Lisboa.

NOTA: Será que vai ficar tudo na mesma até que caia outro "homem do lixo"?Não seria de rever todos os procedimentos de trabalho, nomeadamente a forma como viajam estes trabalhadores, bem como o necessário equipamento de protecção, em particular da cabeça?