Em geral os «media» portugueses não acompanham de forma programada a vida das igrejas nomeadamente da Igreja católica! Referem um caso ou outro mais sensacionalista ou uma tomada de posição do episcopado. As cerimónias de Fátima ou a vinda de um Papa, onde se concentram centenas de milhares de portugueses são um caso á parte, obviamente! Claro que esta relação tem a ver com muitas razões de parte a parte. Em geral a comunicação social acompanha mais o fenómeno religioso enquanto fenómeno de massas!
Assim, poucos são os portugueses que acompanham a ação da Igreja católica nesta enorme crise económica e social que tem afetado toda a Europa e, muito particularmente, Portugal! Podemos no entanto referir que no global a posição da Igreja Católica portuguesa sobre a crise tem sido, a meu ver, dececionante.Com exceção dos movimentos de trabalhadores cristãos JOC,LOC, Pastoral Operária, Comissão Nacional de Justiça e Paz e ainda de uma ou outra tomada de posição de um ou outro Bispo, a Igreja Católica tem sido muito suave ou morna no olhar desta crise, dando fundamentalmente cobertura aos poderes instituídos e às teses dominantes! Veja-se o caso dos feriados! Adotou as teses da troica e do governo sem qualquer distância crítica e pedagógica! Temos que ser justos e dizer que tem atuado no campo da emergência social através da Cáritas e de muitas IPSS ou centros paroquiais! Mas tudo numa dimensão caritativa, de ajudar a suportar o fardo da crise, sem profetismo algum!
Frequentemente a hierarquia fala nos desempregados e na difícil situação das famílias mas é muito discreta, diria mesmo cheia de pudor, quando se trata de falar na defesa dos direitos sociais de quem trabalha, nomeadamente no direito ao trabalho e a um salário digno! No fundo ao calar-se dará cobertura às velhas teses neo – liberais da competitividade e á necessidade de aceitarmos sem crítica as imposições dos chamados mercados!
O que se passou há pouco tempo com a exclusão do grupo «Economia e Sociedade» da Comissão Nacional Justiça e Paz, animado pela economista católica Manuela Silva, é revelador! Este grupo, na continuidade do seu bom trabalho de análise dos problemas económicos e sociais, elaborou um excelente documento sobre a última revisão do Código do Trabalho. Um documento equilibrado e com substancia, relativizando o papel das mudanças da legislação e defendendo o emprego e uma economia humanista! O grupo queria trabalhar com autonomia e não lhe foi permitido! O documento pode ser lido no blogue «A Areia dos Dias».
Esta situação é um velho problema do catolicismo português que nunca fez uma leitura prática (encarnada) das encíclicas sociais e sempre fez uma interpretação ideológica (clerical) das mesmas. Para uma parte substancial da Igreja os patrões sempre estiveram mais perto do coração do que os trabalhadores! As reivindicações laborais são quase sempre vistas como uma manifestação da luta de classes, contrapondo os trabalhadores que as fazem aos trabalhadores que não têm voz!
Resumindo, a Igreja Católica portuguesa poderia ter um outro papel nesta crise que não apenas a da emergência social e a do conforto dos pobres! Sei que são muitos os cristãos que gostariam de ver uma Igreja mais empenhada no mundo do trabalho e na defesa dos trabalhadores que sofrem com esta crise um ataque brutal aos seus direitos sociais! Mas neste capítulo as páginas do catolicismo não são brilhantes! Falta profetismo e utopia evangélica! Temos muita negociação entre poderes, muito calculismo e troca de favores!