quarta-feira, 30 de maio de 2012

A IGREJA CATÓLICA E A CRISE ATUAL!

Em geral os «media» portugueses não acompanham de forma programada a vida das igrejas nomeadamente da Igreja católica! Referem um caso ou outro mais sensacionalista ou uma tomada de posição do episcopado. As cerimónias de Fátima ou a vinda de um Papa, onde se concentram centenas de milhares de portugueses são um caso á parte, obviamente! Claro que esta relação tem a ver com muitas razões de parte a parte. Em geral a comunicação social acompanha mais o fenómeno religioso enquanto fenómeno de massas!

Assim, poucos são os portugueses que acompanham a ação da Igreja católica nesta enorme crise económica e social que tem afetado toda a Europa e, muito particularmente, Portugal! Podemos no entanto referir que no global a posição da Igreja Católica portuguesa sobre a crise tem sido, a meu ver, dececionante.Com exceção dos movimentos de trabalhadores cristãos JOC,LOC, Pastoral Operária, Comissão Nacional de Justiça e Paz e ainda de uma ou outra tomada de posição de um ou outro Bispo, a Igreja Católica tem sido muito suave ou morna no olhar desta crise, dando fundamentalmente cobertura aos poderes instituídos e às teses dominantes! Veja-se o caso dos feriados! Adotou as teses da troica e do governo sem qualquer distância crítica e pedagógica! Temos que ser justos e dizer que tem atuado no campo da emergência social através da Cáritas e de muitas IPSS ou centros paroquiais! Mas tudo numa dimensão caritativa, de ajudar a suportar o fardo da crise, sem profetismo algum!

Frequentemente a hierarquia fala nos desempregados e na difícil situação das famílias mas é muito discreta, diria mesmo cheia de pudor, quando se trata de falar na defesa dos direitos sociais de quem trabalha, nomeadamente no direito ao trabalho e a um salário digno! No fundo ao calar-se dará cobertura às velhas teses neo – liberais da competitividade e á necessidade de aceitarmos sem crítica as imposições dos chamados mercados!

O que se passou há pouco tempo com a exclusão do grupo «Economia e Sociedade» da Comissão Nacional Justiça e Paz, animado pela economista católica Manuela Silva, é revelador! Este grupo, na continuidade do seu bom trabalho de análise dos problemas económicos e sociais, elaborou um excelente documento sobre a última revisão do Código do Trabalho. Um documento equilibrado e com substancia, relativizando o papel das mudanças da legislação e defendendo o emprego e uma economia humanista! O grupo queria trabalhar com autonomia e não lhe foi permitido! O documento pode ser lido no blogue «A Areia dos Dias».

Esta situação é um velho problema do catolicismo português que nunca fez uma leitura prática (encarnada) das encíclicas sociais e sempre fez uma interpretação ideológica (clerical) das mesmas. Para uma parte substancial da Igreja os patrões sempre estiveram mais perto do coração do que os trabalhadores! As reivindicações laborais são quase sempre vistas como uma manifestação da luta de classes, contrapondo os trabalhadores que as fazem aos trabalhadores que não têm voz!

Resumindo, a Igreja Católica portuguesa poderia ter um outro papel nesta crise que não apenas a da emergência social e a do conforto dos pobres! Sei que são muitos os cristãos que gostariam de ver uma Igreja mais empenhada no mundo do trabalho e na defesa dos trabalhadores que sofrem com esta crise um ataque brutal aos seus direitos sociais! Mas neste capítulo as páginas do catolicismo não são brilhantes! Falta profetismo e utopia evangélica! Temos muita negociação entre poderes, muito calculismo e troca de favores!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

MENSAGEM DE UM PSIQUIATRA!


«Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo
epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com

impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência,

urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das

crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens

infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos

dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos

os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na

escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos

terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade

de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural

que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos,

criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze

anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100

casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo

das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres

humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas

sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém

maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa,

deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos

ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de

alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez

mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família.

Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença

prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e

produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de

três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a

casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma

mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão

cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três

anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de

desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho

presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela

falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição

da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual,

tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar

que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês,

enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à

actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e

complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de

escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando

já há muito foram dizimados pela praga da miséria.


Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com

responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos

números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de

pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um

mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de

um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência

neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.


E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o

estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se

há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma

inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.



Pedro Afonso

Médico psiquiatra



sexta-feira, 25 de maio de 2012

PARA A HISTÓRIA DO ASSÉDIO MORAL!

Em Junho do ano 2000 um grupo de deputados do Partido Socialista, com destaque para o falecido Barros Moura, apresentou na Assembleia da República um projeto lei (nº252/VII) com o título «proteção laboral contra o terrorismo psicológico ou assédio moral». Esta lei tinha apenas cinco artigos e previa a sua regulamentação. Nela se poderia ler o seguinte:

1 - A presente lei estabelece as medidas gerais de proteção dos trabalhadores contra o terrorismo psicológico ou assédio moral, entendido como degradação deliberada das condições físicas e psíquicas dos assalariados tios locais de trabalho, no âmbito das relações laborais. O atentado contra a dignidade e integridade psíquica dos assalariados constitui uma agravante a tais comportamentos.

2 - Por degradação deliberada das condições físicas e psíquicas dos assalariados nos locais de trabalho entendem-se os comportamentos dolosos dos empregadores, conduzidos pela entidade patronal e/ou seus representantes, sejam eles superiores hierárquicos, colegas e/ou outras quaisquer pessoas com poder de facto para tal no local de trabalho.

3 - Os atos e comportamentos relevantes para o objeto da presente lei caracterizam-se pelo conteúdo vexatório e pela finalidade persecutória e/ou de isolamento, e traduzem-se em considerações, insinuações ou ameaças verbais e em atitudes que visem a desestabilização psíquica dos trabalhadores com o fim de provocarem o despedimento, a demissão forçada, o prejuízo das perspetivas de progressão na carreira, o retirar injustificado de tarefas anteriormente atribuídas, a despromoção injustificada de categorias anteriormente atribuídas, a penalização do tratamento retributivo, o constrangimento ao exercício de funções ou tarefas desqualificantes para a categoria profissional do assalariado, a exclusão da comunicação de informações relevantes para a atividade do trabalhador, a desqualificação dos resultados já obtidos. Estes comportamentos revestem-se de um carácter ainda mais gravoso quando envolvem desqualificação externa (para fora do local de trabalho) dos trabalhadores, através do fornecimento de informações erradas sobre as suas funções e/ou as suas categorias profissionais e de desconsiderações e insinuações prejudiciais à sua carreira profissional e ao seu bom nome.

Artigo 2.º - Anulabilidade dos atos discriminatórios

1 - Os atos e decisões atinentes às alterações das categorias, funções, encargos ou mesmo as transferências, atribuíveis à degradação deliberada das condições físicas e psíquicas dos assalariados nos locais de trabalho são anuláveis a pedido da vítima.

Artigo 3.º - Regime sancionatório

1 - O(s) autor(es) dos atos de terrorismo psicológico ou assédio moral são condenados a uma pena de um a três anos de prisão ou, em alternativa a uma coima de cinco milhões de escudos (5 000 000$00).

2 - O atentado contra a dignidade e integridade psíquica dos assalariados constitui uma agravante a tais comportamentos, sendo neste caso a pena agravada para dois a quatro anos de prisão ou, em alternativa, a uma coima de vinte milhões de escudos (20 000 000$00).

3 - A entidade patronal e/ou os superiores hierárquicos dos autores materiais dos actos de terrorismo psicológico e/ou assédio moral incorrem solidariamente nas sanções previstas para estes, quando estejam de qualquer modo envolvidos numa tal estratégia, de forma ativa, como ordenantes ou encorajantes, ou passiva, tendo conhecimento dos factos e nada tendo feito para os impedir.

Artigo 4.º - Regulamentação

O Governo deve proceder, no prazo de 90 dias, à regulamentação das disposições da presente lei necessária à sua boa execução……

Após esta data já se realizaram várias alterações ao Código do Trabalho. Incluiu-se a figura do assédio moral e sexual mas não de forma tão completa como a queriam aqueles deputados.

Compare-se a definição de assédio que este projeto lei defendia e a que consta no artigo nº29 do atual Código do Trabalho:

«1.Entende-se por assédio o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado em fator de discriminação, praticado aquando do acesso ao emprego ou no próprio emprego, trabalho ou formação profissional com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.»



quinta-feira, 24 de maio de 2012

TRABALHO CLANDESTINO AUMENTA EM PORTUGAL!

A Autoridade para as Condições do Trabalho realizou no ano de 2011 mais de 12.000 visitas inspetivas direcionadas aos fenómenos de trabalho total ou parcialmente não declarado ou clandestino. Foram detetadas quase 3000 infrações a que correspondeu a aplicação de coimas cujo montante mínimo totalizou o valor de quase 4 milhões de euros e o montante máximo de quase 10 milhões. Foram ainda efetuadas quase 1300 advertências pelos inspetores do trabalho.

Estes também detetaram 112 infrações na dissimulação de contratos que inclui figuras como a falsa prestação de serviços, os falsos estágios remunerados. Relativamente á utilização irregular de contratos de trabalho a termo foram realizadas mais de 2500 visitas sendo detetadas mais de 260 infrações.

Os dados da ACT revelam que este tipo de trabalho tem vindo a aumentar desde o ano de 2008.Confrontados com estes dados alguns sindicalistas contatados consideram que são uma pequena amostra da realidade que se vive em alguns setores de atividade, nomeadamente na agricultura, construção e hotelaria!

O trabalho irregular e clandestino prejudica a prazo o trabalhador, em particular na sua reforma, a economia, porque as empresas que o utilizam fazem concorrência desleal, e a sociedade que não recebe impostos nem descontos para a segurança social!

O combate ao trabalho clandestino no território continental está a cargo da Autoridade para as Condições do Trabalho. Os sindicatos, e os cidadãos em geral, também devem combater este tipo de trabalho, sem todavia terem a autoridade que tem esta entidade tutelada pelo Ministério da Economia.

A promoção da cidadania no trabalho em regime capitalista implica um forte combate pelo trabalho com direitos económicos e sociais. A luta pelo trabalho digno é hoje um objetivo democrático fundamental!



segunda-feira, 21 de maio de 2012

MÀQUINAS AGRÍCOLAS: Travar os acidentes de trabalho!

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) promove no dia 5 do próximo mês de Junho, na Escola Superior Agrária,em Santarém, um seminário sobre segurança e saúde no trabalho agrícola e florestal onde será abordado o plano de ação para o setor promovido por aquela Autoridade em parceria com diversas instituições públicas e associativas durante todo o ano de 2012.

Nos setores agrícola e florestal do continente ocorrem inúmeros acidentes de trabalho, inclusive mortais, verificando-se igualmente uma elevada taxa de incapacidade temporária e permanente nos profissionais que exercem aquelas atividades. A utilização de tratores, motosserras, maquinaria pesada, pesticidas e o desrespeito pelas regras de segurança estão na origem desta situação preocupante.

Com efeito as estatísticas disponíveis mostram que entre 2000 e 2010 ocorreram mais de 3500 acidentes envolvendo veículos agrícolas dos quais resultaram 380 vítimas mortais, 512 feridos graves e quase 4000 feridos ligeiros nas estradas portuguesas. Entre 2001e 2011 foram comunicados e inquiridos pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) 161 acidentes de trabalho mortais ocorridos naqueles setores de atividade.

Sabemos também que na Assembleia da República se prepara a ratificação da Convenção da OIT nº184 sobre segurança e saúde na agricultura.Segundo algumas estatísticas europeias os trabalhadores agrícolas sofrem 1,7 vezes a taxa média de acidentes de trabalho não mortais e 3 vezes a taxa média de acidentes mortais.VER

quarta-feira, 16 de maio de 2012

OS FILMES NAPO!

O NAPO é um boneco de filmes da prevenção que ganha cada vez mais fama!Os filmes procuram sensibilizar os trabalhadores europeus para  a necessiadde de prevenir os riscos profissionais  e têm o NAPO como herói que representa um trabalhador confrontado com diversos riscos na empresa.
Uma experiencia de animação muito interessante apadrinhada pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho e que pode servir para organizar sessões com jovens e até com adultos..Ver

segunda-feira, 14 de maio de 2012

SOFRIMENTO NO TRABALHO E LAMÚRIA!

Embora contra a corrente, nomeadamente do pensamento do primeiro-ministro de Portugal, quero aqui falar de um assunto- sofrimento no trabalho- que, no nosso país, é assunto de que não se fala e nada ou pouco tem interessado aos investigadores da área da segurança e saúde no trabalho. Na área da psicologia social já aparece uma ou outra pessoa a tratar do assunto ou a referir investigadores internacionais como a equipa de Dejours. O sofrimento no trabalho é assunto económico, social e político. A sua existência e a sua eventual progressão nas nossas sociedades atuais é um sinal de alarme.


Hoje com as novas formas de organização do trabalho criadas para responder cada vez mais á competição, às exigências dos clientes e às encomendas, bem como ao lucro rápido, aparecem cada vez mais os problemas de stresse no trabalho e a depressão relacionada com este. A sobre-exploração dos trabalhadores, possível por essas formas de organização do trabalho e pelas enormes potencialidades das novas tecnologias, pode criar um mundo laboral doente, tanto sobre ponto de vista físico como psíquico!

Claro que este discurso ainda é olhado com desconfiança por muita gente! Alguns, inclusive, especialistas, dizem, por exemplo, que não podemos dar acolhimento a uma mentalidade lamurienta e de queixinhas! Dizem, inclusive, quanto ao stresse no trabalho, que há «stresse bom e stresse mau». Dizem ainda que a maioria dos trabalhadores «está muito bem e até anda satisfeita» e, portanto, atenção, não vamos «pôr em causa o trabalho»!

Ora, vamos então colocar as questões no seu lugar. Primeiro as «queixas» dos trabalhadores são um elemento fundamental a ter em conta na avaliação de riscos e no estabelecimento de medidas de segurança e saúde. Quando ouço alguém desvalorizar estas queixas está tudo dito!

Em segundo lugar temos que dizer quanto ao stresse o seguinte. Existe o stresse ocasional, agudo, e o stresse crónico que se prolonga por tempo indeterminado. O stresse agudo, caso seja meramente pontual e não tenha afetado o trabalhador de forma traumática não acarreta problemas de maior para a nossa saúde! Já o stresse crónico pode comportar vários problemas para a saúde do trabalhador. Quanto mais prolongado pior.

Quanto á ideia de que existe uma minoria de trabalhadores com problemas de saúde há que estar atento ao seguinte. Os efeitos das doenças profissionais em geral não se manifestam de imediato. Podem levar anos e, em alguns casos décadas. Por outro lado, o facto de termos um trabalhador doente num local de trabalho deve servir de alerta para nos interrogarmos sobre o que poderá estar a acontecer no mesmo ou na empresa.

A existência de um caso evidente de depressão num local de trabalho pode ser um indicador de um alto nível de sofrimento que está a atingir uma larga percentagem de trabalhadores.

A existência de um serviço efetivo de segurança e saúde no trabalho, o recurso á formação de trabalhadores, nomeadamente de representantes para a SST, na dimensão dos riscos psicossociais, a elaboração de guias de apoio, a criação de grupos na empresa para falar destes problemas são medidas que podem ajudar a prevenir o sofrimento no trabalho.


Num quadro de grande desemprego e precariedade, o medo e a concorrência entre trabalhadores aumenta. A aplicação de sistemas de avaliação competitivos, a meritocracia endeusada e o assédio são os grandes fatores do desgaste, do medo de não «estar á altura», de não «responder aos desafios»!

Para os ideólogos do velho pensamento liberal, agora globalizado, estes são os condimentos necessários, o caldo cultural do «novo homem» que querem construir. Um «homem» que colocam como modelo a seguir-forte e não lamuriento- mas que não passa de um escravo moderno que mais tarde ou mais cedo vai quebrar! Desde sempre os homens se revoltaram contra a escravatura. Adoecer também poder ser uma revolta!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

«AS OITO HORAS FOI UM GRANDE PULO!»

Maria Rosa Viseu foi protagonista de uma luta que a fez conhecer a prisão e a tortura da polícia política, mas que contribuiu decisivamente para a conquista das oito horas de trabalho na agricultura.

A conquista aconteceu a 12 de maio de 1962, há precisamente 50 anos, tinha então Rosa Viseu 27 anos.

Não fez parte do grupo de cinco mulheres e 10 homens presos dias antes (na noite de 27 para 28 de abril), mas conheceu demasiado perto a crueldade da tortura, incluindo a da privação do sono (por duas vezes, uma cinco dias e cinco noites e outra três dias e três noites) e o espancamento.

Foi levada pela PIDE (polícia política do Estado Novo) na madrugada do dia 19 de janeiro de 1961. Ficou presa sete meses, mas nunca denunciou nenhuma das sete mulheres por quem era responsável dentro da organização do Partido Comunista Português (PCP), contou à agência Lusa.

"Até virem as eleições de 1958 eu não sabia nada. Eu achava que de facto tinha que haver os senhores e os pobres. Não tenho vergonha de o dizer. Então, ninguém me explicava nada. Mas depois veio o movimento, agarrou-me. Eu comecei a ler: 'espera aí'. Então a Maria Rosa avançou. Na praça vá de pedir condições, vá de estudar a maneira com que a gente havia de falar todos", disse.

Na "praça de jorna" - onde, ao domingo ao fim do dia, os trabalhadores discutiam com os patrões o preço da jorna da semana (30 a 40 escudos/15 a 20 cêntimos por dia) e onde eram contratados - estavam vigiados.

Maria Rosa era então uma das que mobilizava os outros para "pescarias e piqueniques" na celebrizada localmente "ponte da caleira", junto ao rio, onde combinavam a estratégia para a "praça de jorna".

Se a ameaça de não aparecerem ao trabalho por vezes resultava em melhor jorna, porque eram precisos braços para mondar o arroz, já a reivindicação das oito horas teve que ser imposta.

Combinada nos piqueniques dos domingos de 01 e de 08 de maio, no dia 12 os camponeses do Couço chegaram aos campos às 08:00, já o sol ia alto, e, perante a estupefação dos capatazes, às cinco da tarde "abalaram" rumo a casa.

"Pousaram as suas ferramentas e foram para casa e por mais que os capatazes lhes dissessem que o sol ainda não se tinha posto, elas impuseram o horário de trabalho", disse à Lusa Paula Godinho, a antropóloga que fez a sua tese de doutoramento sobre as lutas do Couço.

"As oito horas foi um grande pulo que se deu para os camponeses, coitadinhos. Depois eu até dizia 'deixámos de ser bichos'. Erámos uns bichinhos porque saíamos às quatro ou cinco da manhã, conforme a distância" (percorrida a pé até ao local do trabalho), disse Rosa Viseu à agência Lusa.

Até aí, as mulheres, que andavam sobretudo na monda do arroz, horas seguidas dentro de água, saíam de casa às quatro, cinco da manhã e só regressavam já noite feita.

As tarefas de casa, incluindo a lavagem de roupa à mão, faziam-se ao sábado - "saíamos hora e meia antes do sol se pôr" - ao domingo e ao começo da manhã de segunda-feira - "pegávamos ao meio dia" - e ainda era preciso ajudar o marido na horta, recordou.

"Foi uma vida tão triste. Eu nem quero pensar nela", disse, recordando que os filhos [teve dois] ficavam entregues a mulheres mais velhas, que já não trabalhavam, a quem as mães entregavam o valor de um dia de trabalho por semana.

Se a luta valeu a pena? "Valeu sim senhora, olha, olha. Eu nunca tive quieta e não estou nada repesa (arrependida). Sofri um bocado", confessou Rosa Viseu à Lusa, segurando na mão uma edição do jornal Avante!.

"Naquele tempo era o [Avante!] pequeno para o metermos aqui [entre os peitos] para ninguém ver. Como é que eu sabia se não estivesse ligada a isto?".

Lusa, 11 de Maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

PINGO DOCE: novas misericórdias?

As recentes e mediáticas promoções do Pingo Doce são uma versão moderna das misericórdias e da «sopa dos pobres»? Será que os gestores e responsáveis do marketing desta cadeia são os novos samaritanos dos novos tempos? Porque será que estes homens e mulheres em geral vestidos de escuro, tipo seminarista, avançaram para ações desse género no primeiro de Maio, prolongando a difícil relação com os sindicatos do setor? Que pretendem provar? Qual é a sua mensagem? Que vantagens vão tirar desta iniciativa arriscada?


Diga-se antes de mais que a iniciativa, sendo polémica, conseguiu chamar a atenção dos órgãos de comunicação social obrigando a inúmeras tomadas de posição de partidos, sindicatos, personalidades e comentadores, sendo tema de diversos programas televisivos. Em termos de opinião pública a iniciativa foi um êxito pois «encheu as bocas do mundo»! Em termos comerciais provavelmente também, dado que a empresa conseguiu milhões em poucas horas! Todavia, também existirá o outro lado da medalha. O ter escolhido o 1º de maio trouxe a animosidade sindical e politica, bem como a repulsa de muitos cidadãos de esquerda que se sentiram ofendidos nos seus valores pelo simbolismo desta data histórica. Os atos que se seguiram, nomeadamente de discriminar os trabalhadores que não estiveram a trabalhar naquele dia prolongaram a animosidade sindical e de outros setores da opinião pública! Senti a minha antipatia a crescer por estes supermercados.

Por outro lado, não faltou quem chamasse a atenção para possíveis ilegalidades de uma iniciativa destas e do possível esmagamento dos produtores, neste caso o elo mais fraco do processo, juntamente com os trabalhadores e o pequeno comércio!

Acrescente-se ainda os conflitos entre consumidores que ocorreram em diversas localidades, o açambarcamento e as críticas de alguns clientes que, inesperadamente naquele dia, se sentiram defraudados e pasmados perante as prateleiras vazias!

A meu ver esta iniciativa comercial não beliscou minimamente as comemorações do Primeiro de Maio, embora possa ter sido um dos objetivos.

Com descontos a 50% mostraram um grande poder de mobilização? Quem não mobilizaria? Que as pessoas aproveitaram e não foram às manifestações da CGTP e da UGT? Não se notou! Que cada vez há mais gente a trabalhar no Primeiro de Maio? Certamente. Também ao Sábado e ao Domingo! E daí?

A questão central continua e agudiza-se. Portugal afunda-se com esta política de austeridade que afeta a grande maioria de portugueses, com exceção de uma minoria rica e arrogante que ainda está melhor do que antes! Enquanto existir pobreza e desigualdade haverá luta social. Não serão as sopas dos pobres nem as promoções do pingo doce que a evitarão!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

PRODUTIVIDADE E ASSÉDIO MORAL!

«O objetivo deste artigo é mostrar o modo como as práticas organizacionais e a cultura dos locais de trabalho podem levar a experiências de humilhação e a situações constrangedoras no trabalho. A discussão baseia-se em entrevistas realizadas no decorrer de 2007, com 20 trabalhadores de três fábricas de calçados localizadas no Ceará.

A análise de conteúdo das entrevistas indica que, apesar da humilhação e do constrangimento serem formas de violência conduzidas por indivíduos investidos de poder e autoridade na empresa, essas práticas transcendem as relações interpessoais e estão relacionadas às políticas de gestão organizacional centradas no estabelecimento de metas de produção a serem cumpridas pelos trabalhadores. As políticas determinam quanto e como produzir e, ao mesmo tempo, as relações interpessoais que se estabelecem dentro das fábricas.»

Um artigo de investigadores brasileiros com muito interesse sobre uma temática cada vez mais pertinente e atual!Infelizmente os nossos investigadores tardam na abordagem destas questões naturalmente incómodas porque têm uma dimensão social.VER

quinta-feira, 3 de maio de 2012

RISCOS PSICOSSOCIAIS E DIREITO EUROPEU!

A 29 e 30 do passado mês de Setembro reuniu-se um conjunto de especialistas em Bordeus,França , nas Jornadas Internacionais sobre riscos psicossociais no ãmbito do direito comunitário.Países do Norte e do Sul da Europa;política comunitária, jurisprudencia.Tribunal Europeu.

Numa sintese de pouco mais de 90 páginas conseguimos ter um panorama da situação, nomeadamente de Portugal onde Manuel Roxo, Sub-Inspetor Geral do Trabalho (ACT), sistematiza e faz o ponto da situação, na óptica jurídica, da questão dos riscos psicossociais e como este tema tem vindo a emergir na nossa sociedade.
Um trabalho muito interessante e que se encontra em francês limitando assim um mais amplo acesso ao documento.
Neste momento decorre em Portugal uma Campanha Europeia sobre avaliação de riscos psicossociais promovida pela inspeções de trabalho da Europa e dinamizada em Portugal pela ACT, com incidencia no setor da saúde.VER

quarta-feira, 2 de maio de 2012

ENVELHECER NO TRABALHO?

«Os problemas de saúde de longo prazo e as doenças crónicas aumentam com a idade. Por conseguinte,cerca de 30% dos homens e das mulheres no grupo etário dos 50-64 anos necessitam urgentemente de adaptações no local de trabalho, devido aos seus problemas de saúde e a fim de prevenir os riscos de reforma antecipada e de incapacidade de trabalho.

 Os principais problemas de saúde consistem em perturbações músculo-esqueléticas e perturbações do foro mental. Atualmente, a depressão constitui também um dos motivos mais comuns para a incapacidade de trabalho e a reforma antecipada. O decréscimo da capacidade física para o trabalho à medida que se envelhece é nítido: a capacidade cardiorrespiratória e a força muscular diminuem cerca de 1-2% por ano a partir dos 30 anos de idade. A redução da capacidade física constitui um problema, sobretudo nas profissões com uma elevada carga.» diz documento da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho.

A percentagem de trabalhadores mais velhos na União Europeia aumentará nas próximas décadas.- Diz o documento-As tendências entre a população ativa da UE-27 apontam para um crescimento de cerca de 16,2% (9,9 milhões) do grupo etário dos 55-64 anos entre 2010 e 2030. Todos os outros grupos etários evidenciam uma tendência decrescente, de 5,4% (grupo de 40-54 anos de idade) a 14,9% (grupo de 25-39 anos de idade). Esta acentuada mudança demográfica deve-se ao aumento da esperança de vida e à diminuição das taxas de fertilidade.

 Uma das suas consequências será que a força de trabalho na Europa atingirá níveis etários nunca antes registados. Em numerosos países, os trabalhadores mais velhos representarão 30% ou mais da população ativa.Na UE-27, as taxas de emprego dos trabalhadores mais velhos (55-64 anos de idade) são atualmente inferiores a 50%. A nível mundial, apenas 15 países registam uma taxa de emprego de trabalhadores mais velhos superior a 50%. Mais de metade dos trabalhadores mais velhos suspendem a sua atividade profissional antes da idade de reforma obrigatória, por uma diversidade de razões. Impõem-se, pois, com caráter de urgência, melhores e mais longas carreiras profissionais para financiar e apoiar a vida mais longa dos cidadãos europeus.

O Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre as Gerações 2012 visa promover a qualidade de vida e o bem-estar da população europeia, sobretudo das pessoas mais velhas, e incentivar a solidariedade entre as gerações. Uma boa vida profissional é uma plataforma importante para promover o envelhecimento ativo. Por conseguinte, a saúde e a segurança no trabalho desempenham um papel crucial, contribuindo para o envelhecimento ativo através de uma vida profissional melhor e mais longa. O emprego de qualidade também promove a cooperação entre as gerações jovens, as de meia idade e as mais velhas.

Mais um texto com boas (?) intenções!Numa altura em que as diretrizes da UE são claras no sentido da sobreexploração e da redução dos custos do trabalho,continua o discurso bondoso enquanto se pratica a maldade!