Nos últimos meses tenho ouvido frequentemente esta questão:como é possível uma tão grande passividade dos trabalhadores e das suas organizações sindicais perante as falências, algumas fraudulentas, de empresas, aplicação , em alguns casos abusiva, do lay-off e despedimentos por vezes pouco justificados no quadro da crise presente, uma das mais gaves dos últimos séculos?Por vezes o conflito gerado quase não chega a conflito, com os trabalhadores a pedirem o subsído de desemprego com a maior celeridade possível, para irem para casa tratarem da sua vida!Uma ou outra vez organiza-se uma vigília ou procura-se impedir a saída dos bens das empresas e pouco mais!
Mesmo na França, com grandes tradicções de lutas sindicais radicais, foram poucas as ocupações ou os sequestros das administrações!
Não faltarão oportunidades certamente para os estudiosos trabalharem esta questão através de investigações oportunas.
Numa primeira reflexão, porém,será interessante salientar alguns aspectos que me parecem pertinentes:
1ºA crise-uma crise do capitalismo liberal na sua dimensão de casino financeiro ocorre num contexto em que a relação de forças é desfavorál aos trabalhadores por motivos objectivos e subjectivos.Dominação das multinacionais, feroz competitividade mundial, desregulação do trabalho,desindustrialização,aumento dos serviços,enfraquecimento da contratação colectiva e da sindicalização.O desemprego em alguns países já era significativo quando a crise chegou.
2.Neste contexto o sindicalismo está em crise, reorganizando-se com dificuldade a nívei internacional-constituição da Confederação Internacional (CSI),alargamento da Confederação Europeia de Sindicatos(CES) com países do Leste que lhe retiram dinâmica reivindicativa.Ao nível de cada país os sindicatos perdem filiados, principalmente nos sindicatos operários, têm dificuldade em atrair os jovens trabalhadores e as mulheres que entraram em força nas empresas e serviços públicos.
Por outro lado, a precariedade do trabalho, incluindo a modalidade do trabalho temporário, tem sido avassaladora em quase todos os países afectando a sindicalização e a moblização para as lutas e reivindicações!
Porque será que nem a CES nem a CSI nem qualquer outra platafora sindical organizou até hoje qualquer manifestação extraordinária perante a crise? (greve geral, cimeira, manif,outra) .Sim a CES organizou em Maio um lote de manifs.... fez declarações e cartas. A CSI também enviou cartas e declarações aos G20, etc, etc.Mas são actividades normais já realizadas em situações de não crise.
Porque será que os sindicatos nacionais e internacionais estiveram tão quietos e porque será que os trabalhadores estão pouco disponíveis para lutar pelo emprego e por um papel mais activo nos destinos das empresas e da economia? ?Porquê o silencio ensurdecedor dos sindicatos dos bancários quando tantos aconteciments gravosos tiveram lugar?
3.Existe hoje pouca convicção na eficácia das lutas sociais colectivas.Aumentou a convição de que neste contexto é preferível «o cada um por si» ou salve-se quem puder.Porque será?
4. A existencia de um Estado social mínimo que garante um subsídio a uma parte dos desempregados será desmobilizador? E então os que não têm subsídio?
5. O papel dos mecanismos e entidades de controlo/jornais ,televisão, igrejas, autoridades .Será que desempenharam um papel importante em evitar fracturas sociais produzindo e reproduzindo o discurso da crise e gerando uma certa impotencia?
Será importante aprofundar estas e outras questões para que se aprenda alguma coisa com a crise!