segunda-feira, 18 de junho de 2018

NÂO BATAM MAIS NOS PROFESSORES!


Uma greve dos serviços públicos é sempre uma greve impopular!As greves dos professores são particularmente impopulares porque afectam  não apenas as crianças e os jovens mas também os pais que  ficam apreensivos porque não sabem o que fazer com os filhos enquanto trabalham.
Todavia, reconhecer esta realidade não significa concordar com as críticas de portugueses que, não conhecem, nem procuram conhecer devidamente as reivindicações dos professores,criticam  os mesmos de elitistas e privilegiados , aconselhando-os a abdicarem do reconhecimento de todo o tempo de serviço para efeitos da carreira sem se lembrarem  que estes profissionais sofreram pesados cortes salariais como ,aliás, uma grande parte dos funcionários públicos!
 Muitos dos professores conheceram e ainda conhecem  a precariedade ou  tiveram que trabalhar a centenas e milhares de quilómetros de sua casa!Muitos estão de baixa há meses e anos com pesadas depressões  e esgotados porque não aguentaram tanta mudança, tanta instabilidade , tanta agressão mediática!Por acaso os portugueses críticos sabem desta realidade?Preocupam-se com a saúde e bem estar destes trabalhadores?
Em boa verdade o Estado não apenas deveria reconhecer todo o tempo de trabalho congelado mas inclusive deveria reembolsar os cortes salariais a todos os trabalhadores públicos.Em rigor no tempo da crise  o Estado deveria ter feito cortes salariais transformando-os em empréstimos (títulos de tesouro) como ocorreu na primeira intervenção do FMI na década de oitenta do século passado sendo Primeiro Ministro Mário Soares. De facto, o salário é a propriedade de quem não tem propriedade.Certamente que se  tirassem a propriedade  a milhares de portugueses como tiraram parte do salário a outros milhares teríamos uma guerra civil!
Uma parte dos portugueses continua a ter uma cultura conservadora, benévola para com os grandes e crítica de quem contesta e reivindica.Prefere a «caridade», a esmola ao pobre, a vitimização.Uma mentalidade de pequenos patrões e proprietários.
Dito isto não se pode deixar de considerar que os sindicatos de professores também devem fazer melhor esclarecimento da população e fazer um maior esforço para terem os pais com eles.É, aliás, de louvar a posição de compreensão tanto da associação nacional de pais como de directores de agrupamentos de escolas.
Por fim cabe ao governo, que fez pontes políticas inéditas em Portugal, a missão de reatar as negociações com os professores e as suas associações de classe.Para o bem desta própria solução política, para o bem dos professores, mas, acima de tudo para o bem da escola pública portuguesa.


segunda-feira, 11 de junho de 2018

ECONOMIA DIGITAL E TRABALHO DIGNO!

De 7 a 9 deste mês participei num seminário sobre a economia digital , a valorização do trabalho e a dignidade dos trabalhadores realizado em Braga e promovido pela Liga Católica Operária/Movimento dos Trabalhadores Cristãos.Economistas, sociólogos, sindicalistas e animadores de diferentes movimentos e organizações sociais nacionais e internacionais debateram os desafios que as tecnologias colocam aos trabalhadores e respectivas organizações.
Claramente os participantes evitaram tanto as perspectivas apocalípticas como as idílicas, ou seja, procurou-se  ver com realismo o que está a acontecer na economia e as possíveis tendências.O que estamos a ver não nos permite grandes optimismos.Pelo menos no chamado «capitalismo de plataforma» como as ubers,cabifay,amazon, deliveroo, etc.Estas empresas procuram fazer transportes, turismo ,comércio e distribuição com os mínimos custos de trabalho.Colocam milhares de trabalhadores a trabalhar de forma autónoma sob a sua direção e horários, mal pagos e com um estatuto de falsos independentes.Os ganhos vão para os que estão no controlo,os que governam a plataforma.Não existem custos com a segurança social nem com os riscos profissionais, como seguros de acidentes e médico do trabalho.Estas empresas  visam contratos dos tempos antigos chamados «trabalho à jorna», trabalho à peça, sem um clássico contrato de trabalho.
Na luta pelo trabalho digno há que combater este tipo de práticas tanto a nível sindical como legal.É imporatnte que em Portugal seja publicada legislação para enquadrar plataformas como a uber e outras.
No passado dia 4 de junho o jornal «El Pais» dava conta de uma sentença do tribunal de Valencia que ganha particular importância neste momento.Um trabalhador pôs a empresa digital Deliveroo, de distribuição de comida, em tribunal porque a empresa no despedimento considerou-o um trabalhador independente quando era de facto um trabalhador dependente, com enquadramento de horários, direção de dependencia  no seu dia a dia.A sentença do tribunal foi favorável ao trabalhador que rejeitou um acordo prévio e seguiu com o processo até ao fim permitindo agora que outros o façam e estimulando a aprovação de legislação adequada.Aliás os trabalhadores desta empresa fizeram em 2017 uma greve para que a empresa tivesse um comportamento responsável.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

ECONOMIA DIGITAL E AS ORGANIZAÇÕES DE TRABALHADORES


A evolução tcnológica nas últimas décadas tem sido estonteante, em particular nos últimos anos com o aparecimento da internet, computador e telefones móveis com as suas múltiplas funcionalidades
A evolução complexa da programação informática e do tratamento e armazenamento de dados, as aplicações que nascem como cogumelos e as plataformas digitais, novas fábricas do nossos século, anunciam um mundo fantástico para os optimistas e um mundo de terror para os pessimistas.
Prefiro não alinhar nem por uns nem por outros e dizer que a evolução dependerá de vários factores económicos, políticos e sociais,muito em particular da força dos sindicatos.Nada de determinismos tecnológicos ou outros.
Ná década de 70 do século passado falava-se na maravilha que viria com o futuro e com as novas tecnologias.Falava-se na sociedade da informação e no novo paraíso com menos horas de trabalho, mais lazer, mais igualdade salarial.Os mais velhos sabem que isso não foi assim.Nunca se trabalhou tão intensamente como hoje e os horários de trabalho não diminuiram assim tanto.Para muitos trabalhadores a carga e o horário de trabalho até aumentou.Sabemos como o fosso salarial tem aumentado escandalosamente entre os gestores e quadros e a massa laboral.
Ora, uma das consequências do novo salto tecnológico pode ser precisamente,para além da dstruição de emprego, a polarização entre um grupo de trabalhadores com competências específicas na economia digital e o grosso dos trabalhadores menos qualificados, os «jornaleiros do digital» que trabalham  à hora, à peça, sem condições de segurança e saúde , proteção social, enfim sem estatuto laboral.
O capitalismo de plataforma digital (Uber,Amazon,facebbok,etc) está a caminhar nesse sentido, impondo regras globalizadas,ficando com o valor do trabalho, pagando aquilo que muito bem enetendem e sem custos de segurança social e fiscalidade!
Felizmente que os sindicatos já estão a estudar estas questões procurando intervir nas instâncias europeias e nacionais, colocando reivindicações nestas matérias e exigindo que o direito do trabalho funcione.Em Portugal é urgente que se finalize a legislação relativa  aos transportes geridos por plataformas como a Uber, que a Inspeção do Trabalho ganhe competências para actuar nas empresas digitais, que se cimente uma aliança forte dos movimentos sociais e sindicais com as universidades e centros de investigação .