A CGTP realiza o seu XIV º Congresso nos dias
14 e 15 de fevereiro na cidade do Seixal.Centenas de delegados irão participar
nesta magna reunião da histórica Central Sindical.O formato tradicional do
documento base para o congresso, embora numa linguagem muito tradicional,
manifesta as principais preocupações da CGTP.Em cinco capítulos o documento
aborda as questões que hoje se colocam à organização sindical, os objectivos
prioritários para a reivindicação, as condições de trabalho dignas, os direitos
sociais e os serviços públicos e a luta pela paz e pelas mudanças progressistas
a nível internacional.
Diria que aspectos importantes da realidade
laboral e social são abordados no documento cuja versão inicial, francamente
pobre, foi melhorada e ainda o será mais com o debate até ao Congresso.No
entanto, gostaria de apontar alguns desafios que se colocam à CGTP e que a meu
ver nem todos poderão ter uma resposta
adequada.Neste artigo apenas abordo dois que considero importantes.
Sustentabilidade financeira
Os sindicatos portugueses, nomeadamente a CGTP,
têm um problema de financiamento que se vai agravar no futuro.A falta de
recursos financeiros são uma ameaça à autonomia e independencia , bem como à
sustentabilidade da ação sindical e de todo um conjunto de serviços de apoio
que exigem qualidade.As medidas de reestruturação e centralização organizativa
não são suficientes e estão a criar mega organizações onde muitos sectores
profissionais não se sentem devidamente incluídos e representados.Tal situação
será propícia ao nascimento de novos sindicatos profissionais independentes.
A falta de meios financeiros podem levar
algumas organizações sindicais a lançar mão de formas novas de financiamento
solidário para sustentar as suas lutas.É assim absolutamente necessário pensar
em novas formas de financiamento solidário, para além de se ligar esta questão
à sindicalização e pagamento de quotas.
A fragilidade sindical nos locais de trabalho
é a causa principal da fragilidade financeira.Grandes sindicatos de outrora com
mas de cem mil sindicalizados não chegam hoje aos vinte mil.Os trabalhadores
reformados poderiam eventualmente ser convocados a uma especial solidariedade
sindical, nomeadamente no momento de lutas que também os envolvem.Não basta ter
uma organização de reformados.Os activistas sindicais deveriam ser convocados
para debater a sustentabilidade financeira das suas organizações de uma forma
menos formal, mais activa que não passe apenas por aprovação do relatório de
contas nas Assembleias Gerais.
A organização sindical de base é o maior
desafio!
Mas hoje o principal desafio da CGTP e do
sindicalismo em geral está na organização sindical de base, tantos nos locais
de trabalho fixos e estáveis, como nos empregos que ainda chamamos
atípicos,plataformas on line, à distância, em casa, partilha de serviços, call
centers etc.
Nos locais de trabalho estáveis , ainda em
maioria, os sindicalizados estão a diminuir.As novas sindicalizações não
compensam as deserções.As razões são múltiplas e convém aprofundar as
causas.Isto não vai lá apenas com slogans e boa vontade.
Convém convocar sindicalistas e cientistas
sociais para o debate para encontrar
estratégias para o futuro.Há que encontar formas de seduzir os trabalhadores
para a organização sindical de base,os alicerces de qualquer sindicalismo com
futuro.Há que estudar todo o percurso formativo e profissional dos jovens para
ver onde entra o sindicalismo.Este assunto é um problema sindical mas também um
problema de democracia no trabalho e de cidadania.
Nos locais de trabalho temos trabalhadores de
todas as idades , credos religiosos e políticos.O sindicato não pode aparecer
como o prolongamento de um partido, qualquer que seja,na linguagem, nas
reivindicações e nas táticas de luta.O activista sindical antes de ser
eventualmente um militante partidário é um sindicalista.Este une todos os
trabalhadores na ação concreta contra a exploração e pelos direitos de todos os
trabalhadores.Procura evitar equívocos entre ações que são sindicais e
partidárias.O sindicalista tem que ser credível e aceitar que todos os
trabalhadores, independentemente das suas convicções pessoais,podem pertencer
ao sindicato e defender os seus direitos e interesses.É a unidade na ação!Por
isso o sindicato é uma organização de massas, aberto a todos os trabalhadores!Em
próximo artigo abordarei outros desafios.