máximo da Igreja Católica.Mas para os leitores da TIMES Bolsonaro foi a «personalidade do ano».Incrível! Mais um sinal da (in)cultura dominante nas elites económicas.
Francisco não é um grande pensador nem
teólogo.É fundamentalmente um homem simples com uma larga e profunda experiência social
e eclesial.
Ele representa uma teologia e uma pastoral
progressista que beneficiou das grandes transformações políticas, sociais e
eclesiais ocorridas na América latina e na Europa nas décadas 60/70 do século
passado.Essa teologia apelidada de «Teologia da Libertação» colocava os pobres
e excluídos no centro das suas reflexões e debates convergindo em muitas das
suas análises e práticas com a reflexão dos movimentos políticos anticoloniais,
anti imperialistas e que lutavam contra as ditaduras.
Essa reflexão colocava as chamadas periferias,pobres,
indígenas e trabalhadores no centro das transformações considerando-os actores
da sua emancipação e com direito ás suas próprias culturas
O Papa Francisco insere-se nas correntes mais
moderadas destes movimentos e coloca as periferias, nomeadamente imigrantes,
indígenas e trabalhadores precários no centro das suas preocupações a par da
necessária purificação da Igreja Católica, extremamente clerical, apesar do
Concílio Vaticano II, e atravessada pelo escândalo da pedofilia.
Os seus encontro repetidos com os Movimentos
Populares de todos os continentes são uma das marcas da sua governação.Apoia
claramente as reivindicações centrais destes movimentos de um teto, terra e
trabalho digno.Critica a Europa e outras regiões ricas por construirem muros em
vez de acolherem os imigrantes e refugiados.
Nesta linha de coerência o Papa distancia-se
de toda uma estratégia assistencialista predominante na pastoral de largos
sectores da sua Igreja, nomeadamente a portuguesa.A linha assistencialista é
fundamentalmente paternalista, pastoral dos aflitos,dar o pão ao pobre e
marginalizado.É uma pastoral do socorro, do SOS, das instituições da emergência.Esta
pastoral deveria ser secundária na Igreja Católica.A primeira deveria ser a de
tornar a periferia, os excluidos e pobres actores sociais e capazes de
reivindicarem o seu quinhão de pão e de vida digna.Acreditar neles, dar-lhes
esperança e voz, investir nos movimentos dos trabalhadores e outros actores
sociais.
Será qur a prática e a voz de Francisco
perdura para além da sua morte?Depende das bases da própria Igreja Católica.Ele
deixa dois documentos inovadores e profundos que vão ao encontro dos anseios dos
homens e mulheres de todo mundo.Temo que esses documentos tenham sido lidos
pelos responsáveis eclesiais mas que não iniciem qualquer movimento em direção ao horizonte apontado pelos mesmos.
Fratelli Tutti é um hino a uma Igreja mais profétia e preocupada com o nosso futuro.Em
vez do poder clerical quer implementar e aprofundar a estratégia do samaritano,
do cuidar de todos e de cada um, da fraternidade.É um texto libertador!