quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O PAPA FRANCISCO É A VERDADEIRA PERSONALIDADE DO ANO!

 

 Uma das figuras mais marcantes da actualidade mundial é sem dúvida o Papa Francisco, responsável


máximo da Igreja Católica.Mas para os leitores da TIMES Bolsonaro foi a «personalidade do ano».Incrível! Mais um sinal da (in)cultura dominante nas elites económicas.

Francisco não é um grande pensador nem teólogo.É fundamentalmente um homem simples com uma larga e profunda experiência social e eclesial.

Ele representa uma teologia e uma pastoral progressista que beneficiou das grandes transformações políticas, sociais e eclesiais ocorridas na América latina e na Europa nas décadas 60/70 do século passado.Essa teologia apelidada de «Teologia da Libertação» colocava os pobres e excluídos no centro das suas reflexões e debates convergindo em muitas das suas análises e práticas com a reflexão dos movimentos políticos anticoloniais, anti imperialistas e que lutavam contra as ditaduras.

Essa reflexão colocava as chamadas periferias,pobres, indígenas e trabalhadores no centro das transformações considerando-os actores da sua emancipação e com direito ás suas próprias culturas

O Papa Francisco insere-se nas correntes mais moderadas destes movimentos e coloca as periferias, nomeadamente imigrantes, indígenas e trabalhadores precários no centro das suas preocupações a par da necessária purificação da Igreja Católica, extremamente clerical, apesar do Concílio Vaticano II, e atravessada pelo escândalo da pedofilia.

Os seus encontro repetidos com os Movimentos Populares de todos os continentes são uma das marcas da sua governação.Apoia claramente as reivindicações centrais destes movimentos de um teto, terra e trabalho digno.Critica a Europa e outras regiões ricas por construirem muros em vez de acolherem os imigrantes e refugiados.

Nesta linha de coerência o Papa distancia-se de toda uma estratégia assistencialista predominante na pastoral de largos sectores da sua Igreja, nomeadamente a portuguesa.A linha assistencialista é fundamentalmente paternalista, pastoral dos aflitos,dar o pão ao pobre e marginalizado.É uma pastoral do socorro, do SOS, das instituições da emergência.Esta pastoral deveria ser secundária na Igreja Católica.A primeira deveria ser a de tornar a periferia, os excluidos e pobres actores sociais e capazes de reivindicarem o seu quinhão de pão e de vida digna.Acreditar neles, dar-lhes esperança e voz, investir nos movimentos dos trabalhadores e outros actores sociais.

Será qur a prática e a voz de Francisco perdura para além da sua morte?Depende das bases da própria Igreja Católica.Ele deixa dois documentos inovadores e profundos que vão ao encontro dos anseios dos homens e mulheres de todo mundo.Temo que esses documentos tenham sido lidos pelos responsáveis eclesiais mas que não iniciem qualquer movimento  em direção ao horizonte apontado pelos mesmos.

Fratelli Tutti é um hino a uma Igreja  mais profétia e preocupada com o nosso futuro.Em vez do poder clerical quer implementar e aprofundar a estratégia do samaritano, do cuidar de todos e de cada um, da fraternidade.É um texto libertador!