terça-feira, 28 de março de 2023

AS LUTAS DOS PROFESSORES E O SINDICATO S.T.O.P

 

Caso esta grande mobilização dos profissionais da educação a que se juntaram os sindicatos da UGT da CGTP e independentes dê frutos para a classe docente o grande protagonista é , sem dúvida o Sindicato de Todos os professores S.T.O.P que tembém associa outros profissionais da educação e não poderá ser mais ignorado pelo Ministério da Educação e pelos outros sindicatos do sector.

Com a entrada em cena deste pequeno mas activo sindicato  a luta dos professores não apenas se


radicalizou mas também se alargou, ou seja, conseguiu mobilizar professores  e outros profissionais que raramente tinham participado nas lutas ou desiludidos, deu importância às comissões de greve, delegados sindicais e outros activistas,procurou envolver os encarregados de educação e os directores das escolas.Por outro lado, fez das suas fraquezas forças, ou seja ,não sendo capaz de ter gente para enquadrar as lutas permitiu uma certa espontaneidade dos participantes com palavras de ordem, declarações e cartazes e proprios, fazendo assim alguma diferença relativamente aos sindicatos mais antigos e mais disciplinados.

Por outro lado, a organização das chamadas greves «self service», plenários locais e outras iniciativas, lançaram uma grande perturbação nas escolas,levando ao estabelecimento, julgo que pela primeira vez, dos serviços mínimos.Serviços mínimos polémicos e de duvidosa legalidade.

Nas suas reivindicações o STOP pretende colocar em cima da mesa a degradação da Escola Pública e, em particular, as deficientes condições de trabalho, as injustiças no que respeita às carreiras, tempo de trabalho congelado e precariedade dos professores.

Todavia, a luta do STOP teve e tem algumas debilidades que não conseguiu e será dificil conseguir superar.Uma delas foi a questão da aliança com os outros profissionais da educação.Estes pertencem a outros sindicatos da Função Pública e têm reivindicações próprias que nem de perto nem de longe estiveram no caderno do STOP.Falou-se fala-se dos senhores professores,mas pouco da nossa classe, como dizia uma auxiliar de educação.Eram eles/as que sempre fechavam as escolas com as suas greves perante o «lavar de mãos» dos professores!Neste sentido muitos dos auxiliares de educação, actualmente assistentes operacionais, viram no apelo do STOP um certo oportunismo.

Outra debilidade natural foi que o Sindicato STOP não tinha quadros formados para dinamizar estas lutas, embora agora possa aproveitar os activistas que emergiram nestas lutas.A melhor formação é a ação, retirando lições dos erros cometidos.

Finalmente queremos acreditar que todos os sindicatos vão aproveitar esta situação para se aproximarem e convergirem na ação para que possam conseguir algumas reivindicações.A saúde física e psiquica dos profissionais de educação está em risco.São muitos os que esperam a aposentação como uma libertação! Grave!

A armadilha da competição sindical, do centralismo e do vanguardismo, apesar da unidade dos profissionais na base, pode matar esta luta resultando em frustração colectiva e em descrença generalizada.

Note-se que uma vitória dos professores mesmo que não a 100%, dará força a outros sectores profissionais revigorando a sua luta e melhorando as suas condições salariais e de trabalho.Este horizonte estará na mente dos governantes que apostam tudo« nas contas certas».Daí que será de evitar o «tudo ou nada»! 

quinta-feira, 9 de março de 2023

OS GOVERNOS DO PARTIDO SOCIALISTA E AS LUTAS SOCIAIS

 

Há amigos escandalizados mais uma vez(!) com o comportamento do governo do PS perante as lutas


sociais, em particular as greves.Eu digo-lhes que o PS português, o antigo de José Fontana e o moderno, fundado por Mário Soares, nunca teve uma relação pacífica com o Movimento Operário e sindical sendo frequentemente ambíguo e até hostil com as lutas sociais.

O Partido Socialista histórico teve um importante papel na criação e dinamização das primeiras associações de classe nos finais do século XIX e primeira década do século XX.O seu eleitoralismo e ambiguidade política ajudaram ao seu distanciamento e perda de influência no movimento sindical e operário, mais influenciado pelo anarco-sindicalismo primeiro e pelos comunistas posteriormente.

O PS moderno nunca teve raízes no movimento operário

O PS moderno de Mário Soares e Salgado Zenha, sendo claramente antifascista e democrático era essencialmente um partido de advogados, de classe média, sem grandes raízes nos meios operários  e aos sindicalistas.Dada a evolução da Revolução portuguesa o PS assumiu muito cedo o poder para reconstruir o Estado com democratas e fascistas reciclados.

Ao assumir o poder e sendo partido fundamental do novo regime o PS teve que se confronfrontar com um movimento sindical forte e influenciado pelos comunistas e outros sindicalistas de esquerda, católicos e até do PS, mas críticos das governações e das políticas laborais do partido socialista.Basta lembrarmos a famosa frase de Gonelha, um dos primeiros ministros de Mário Soares, que jurou «quebrar a espinha à Intersindical», a central sindical  portuguesa que lutou contra a ditadura e pelo sindicalismo livre.

Apesar de rachar o Movimenho Sindical unitário ao criar com o PSD a União Geral de Trabalhadores (UGT) o PS viria a ter sempre uma grande dificuldade em crescer sindicalmente porque estar no poder e «meter o socialismo na gaveta», gerar as crises do sistema e puxar para o patronato não permite grande popularidade no seio das classes trabalhadoras.

A Direção do PS não ouve os sindicalistas socialistas

Apesar de ter a UGT, essencialmente de serviços, e um grupo de sindicalistas na CGTP a direção do PS não ouve, não escuta os sindicalistas socialistas, ou estes não se fazem ouvir!O actual Primeiro Ministro ouve  mais as confederações patronais, a Comissão Europeia, O FMI e a OCDE do que os trabalhadores.

Mas o que mais espanta é o autismo dos governantes do PS na Educação onde até tinham uma forte base eleitoral e militantes sindicalistas.O governo PS está mais preocupado com a legalidade das greves e os serviços mínimos do que em dialogar abertamente com os sindicatos.

Na Função Pública onde o Estado é o patrão os governos PS são uma desgraça, não negoceiam nem ouvem.Reunem para cumprir formalidades.Parece que os governantes do PS não estudaram a história do Partido, não cultivam o diálogo social.O Partido não lhes deu formação básica sobre as matérias laborais e sobre um Partido que tem mais de 150 anos!

As políticas das «contas certas» adoptadas pelos governos COSTA e a falta de sensibilidade e formação sindical dos governantes , típica dos políticos do neo-liberalismo,afundam mais uma vez uma oportunidade do Partido Socialista!