sexta-feira, 1 de julho de 2022

TRABALHO E TRABALHADORES: os grandes ausentes da reflexão do Sínodo da Igreja Católica?

 

Para começar devo dizer que o que aqui vou escrever são reflexões empíricas fruto de algumas leituras de sínteses de grupos católicos que


têm sido publicadas em alguns órgãos como o jornal online «Sete Margens» em Portugal.Num ou noutro caso também tenho lido reflexões de grupos católicos alemães, franceses e brasileiros.Diagamos que ainda é cedo para tirar conclusões fundamentadas.No entanto, devo dizer que, por aquilo que vou lendo, já é possível avançar algumas hipóteses de trabalho.

Algumas reflexões dos grupos católicos já têm décadas de debate e quase nada se avançou como é o caso paradigmático do celibato obrigatório do clero.Já foi tema candente no Concílio Vaticano II mas o Papa Paulo VI cabou por confirmar mais uma vez a doutrina tradicional.A falta de padres nas comunidades Católicas e a pedofilia vieram acrescentar actualidade ao tema.Neste caso o actual Papa tem sido discreto mas não no caso da pedofilia.

A este tema juntou-se um relativamente novo que é o clericalismo ou o poder do clero na estrutura da Igreja e a pouca participação e responsabilidade dos leigos, em particular das mulheres.Foi também um tema do Vaticano II e muito caro ao actual papa Francisco, mas que o coloca como alvo dos sectores conservadores da Igreja Católica.

Outro tema que preocupa muitos grupos no estrangeiro e em Portugal é, sem dúvida, o afastamento dos jovens e a incapacidade que a Igreja mostra em ter uma abordagem correcta, inclusive uma linguagem, para este segmento de pessoas.

Economia e trabalho pouco presentes nas reflexões do sínodo

Mas a grande lacuna que eu noto são as referências à economia e ao trabalho, bem como á importância dos movimentos sociais como actores de transformação social e cultural.Um tema muito caro ao Papa Francisco que, por diversas vezes, se referiu a esta economia neo liberal que descarta pessoas como a« economia que mata».Tem promovido diversos encontros com os movimentos sociais de todo o mundo,de jovens, de economistas, de indígenas de camponeses, propondo a luta pelo teto, pela terra e pelo pão.

É impressionante como os católicos são sensíveis ao sofrimento e morte, nomeadamente animam em todo o mundo as lutas anti aborto,e  estão pouco ou nada sensíveis ao sofrimento e morte  no trabalho.Nas sinteses que tenho lido é quase absoluta esta lacuna!Parece que a maioria dos grupos já consideram o mundo do trabalho uma guerra perdida, mesmo para os católicos mais abertos e progressistas.

Parece que aceitam como um dado adquirido que o mundo do trabalho e as organizações de trabalhadores não são vida das pessoas que exiga também uma leitura ou abordagem à luz da fé cristã.

Ora, o sofrimento no trabalho e o bem estar dos trabalhadores são temas tão importantes que ocupam uma parte significativa da investigação na área das ciências sociais,  afecta milhões de trabalhadores e motiva organizações internacionais como a OIT e a OMS.O mal estar no trabalho , que se tornou  uma questão aguda e pertinente neste modelo do capitalismo, coloca questões várias ao nosso modelo de sociedade.Questões até de dignidade da pessoa humana, núcleo central do cristianismo.A intensidade do trabalho até ao esgotamento, o assédio moral e sexual até ao suicídio, a morte por doença profissional ou acidente de trabalho afectam profundmente a dignidade e destino das pessoas.

A morte e o sofrimento no trabalho não preocupam os católicos?

As mortes no trabalho, acidentes e doenças profissionais, que matam anualmente mais do que qualquer guerra,não preocupam a maioria dos grupos católicos que estão no caminho sinodal?A exploração intensiva e as criminosas lacunas no domínio da segurança e saúde dos trabalhadores existentes em algumas empresas não são causas de morte no trabalho?Segurança e saúde no trabalho que foi agora considerada pela OIT, em junho, principio e direito fundamental dos trabalhadores a par do combate ao trabalho infantil e ao trabalho escravo.

Nesta linha a maioria dos católicos, incluindo parte do clero, nem conhece nem se interessa por movimentos como a Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos ( LOC/MTC) que se destina a organizar os trabalhadores e a ler o mundo com os olhos do evangelho e a agir em consequência numa luta constante pelo trabalho digno!

É caso para dizer:trabalho e trabalhadores? Tarenego!