A demissão do governo de António Costa,
suportado pelo Partido Socialista, e a dissolução da Assembleia da República
colocaram novamente o país a caminho de eleições legislativas.Na base desta
crise está a suspeição de corrupção de membros do actual governo.
UGT e CGTP reagiram com cautela a esta
situação de algum modo surpreendente e chocante.Pedem que a justiça seja célere e que haja transparência na
investigação.A maioria da população parece inclinar-se para eleições
antecipadas e para a aprovação do OE.
Uma crise provocada pelos « donos disto
tudo»?
O que actualmente se passa em Portugal é uma
crise provocada pelos «donos disto tudo»!Uma crise que mais não é do que um
rearranjo de poder que envolve as elites ou os estratos social e económicamente
dominantes da sociedade portuguesa.O povo português viveu meses de inflação e juros históricos altos e não se
revoltou,nenhum facto grave divide os portugueses ou incendeia o seu
animo.Apenas o grosso da comunicação social vai massacrando as gentes com
suspeições, casos e casinhos...É verdade que o governo, ia agitando a modorra nacional dando alimento
à agenda mediática.
Segmentos importantes dos interesses
económicos nacionais e internacionais não estavam a beneficiar da governação
Costa/PS, discordavam da sua política relativamente aos dinheiros do PRR, ao
salário mínimo, aos impostos , aos serviços públicos e ao investimento.Os
sectores mais direitistas consideram este orçamento para 2024 muito
distributivo e pouco amigo das empresas.Existem sectores do capital que se
estão a inclinar para dar poder ao Chega e já trabalham para este objectivo há
anos!Há nesta crise algum do capital revanchista e reacionário!
A situação nos próximos meses vai ser de
campanha eleitoral e esperamos nós que se debatam ideias ,nomeadamente sobre os
valores de Abril pois vamos celebrar os 50 anos do golpe dos capitães que deu
origem a um processo revolucionário e a uma das constituições mais democráticas
e progressistas da Europa!
Defender os valores de Abril
Neste quadro é muito importante defender os
valores de Abril e a Constituição.Valores que eu considero de esquerda mas não
me oponho a que alguma direita também os apadrinhe.Valores que o sindicalismo
europeu e a BASE-FUT também defendem para a União Europeia,nomeadamente o direito
a um trabalho digno com aumentos salariais justos, acabando com a política de
baixos salários.Os patrões mostraram que o podem fazer quando falaram na hipótese
de 15º mês;um trabalho seguro e saudável, promovendo, a negociação colectiva e
a qualidade do trabalho e não apenas a quantidade do mesmo.
Mas os patrões e os partidos mais liberais
apregoam também duas falácias ampliadas pelas televisões: que em Portugal se
pagam muitos impostos e que por isso não se produz a riqueza necessária para se
pagarem melhores salários!Quais as propostas deles?Que o Estado diminua a carga
fiscal para o trabalhador ter mais rendimento,ou seja,o Estado que pague os
aumentos!Que o Estado diminua a carga fscal das empresas para que estas possam
ter mais riqueza para distribuir.Nunca falam em diminuir ou suspender o pagamento aos acionistas e administradores.
Ou seja, são todos muito liberais mas querem que o Estado faça o que compete às empresas.
É o que se chama virar o bico ao prego.A
verdade é diferente:em Portugal há pouca gente a pagar impostos e não são as empresas e os
empresários que mais pagam !Mais de 40% dos portugueses não tem rendimentos
para pagar irs e quem paga são os trabalhadores que auferem salários acima do
mínimo.Há semanas uma noticia de um semanário dava conta que o salário médio
dos gestores e administradores das empresas declarado às finanças seria de
pouco mais de 1600 euros mensais!Alguem acredita?Quanto rendimento se aufere
nas empresas que não passa pelas declarações das finanças?
A inaceitável influência das grandes
empresas na governação
Outra questão importante para debate eleitoral
e político é a questão da influência dos grandes interesses nacionais e
estrangeiros nos governos de Portugal e, de facto, nos governos de todo o
mundo.Esta crise mostra mais uma vez que existem indicios de pressões de
grandes empresas sobre o governo para agilizar procedimentos e fazer vingar
investimentos.Estas pressões existem ao nível micro e macro,local e regional
até ao continental.Mas nem todas as pressões são legitimas e transparentes.Algumas
são inaceitáveis!
As grandes empresas utilizam diversos e
poderosos instrumentos para «levarem a água ao seu moinho»!Não há nenhuma
grande empresa europeia ou americana que não tenha um poderoso lobi em Bruxelas
para influenciar as políticas da UE.Até onde será aceitável esta política?Quem
governa afinal,ou quem manda nas nossas economias?
As formas de influenciar os poderes do lado
das organizações de trabalhadores são transparentes:são as reivindicações,as
greves, as manifestações,as reuniões com as entidades e governos para
convencer,para pressionar à vista de todos.A força dos trabalhadores está na
unidade,na democracia, na trasparência, na mobilização e solidariedade!