Enquanto se fazem palestras, seminários e campanhas sobre o stresse laboral não falta gente a colocar como critério de recrutamento de trabalhadores a capacidade de resistir ao mesmo, do viver com doses consideráveis de stresse como um valor. Encontramos inclusive em alguns sistemas de avaliação do desempenho o item, considerado favorável, de resistir ao stresse.
É óbvio que são os gestores ou os consultores de recursos humanos que fazem estes instrumentos de recrutamento e de avaliação. Eles consideram uma qualidade interessante a capacidade de trabalhar em contexto de stresse, ou seja, a de trabalhar numa situação de permanente superação de obstáculos e de enfrentar solicitações desproporcionadas face aos meios ao seu dispor, enfim, de alcançar inclusive objetivos que se revelam pouco realistas.
Temos casos muito concretos nomeadamente na saúde onde retiram meios humanos, logísticos e técnicos e exigem simultaneamente mais rendimento aos trabalhadores, mais carga horária, mais procedimentos burocráticos.
A chamada gestão empresarial dos hospitais exige a «racionalização», a redução de custos permanente. Consequências? Aumento do stresse e da fadiga no pessoal médico e de enfermagem, a falta de camas, aparelhos clínicos, a concentração de meios cirúrgicos e naturalmente o erro, a asneira, a falta de tempo para atender todos os doentes de forma conveniente!
E o próprio trabalhador? Como se sente? A imprensa vai dando conta.
Os técnicos do INEM, os enfermeiros e médicos dos hospitais que se sentem em «bournout», queimados, desgastados!
Mas, o mais chocante é que na prática se mandem às ortigas todas as recomendações e medidas de prevenir o stresse, ou gerir o stresse como alguns gostam mais de dizer! Queremos «salvar» o Serviço Nacional de Saúde destruindo física e mentalmente os seus trabalhadores? Queremos maior produtividade sem condições de trabalho? Não é possível, ou seja, poderá ser possível num tempo muito curto até á falência humana.
O que vemos é que ao discurso da melhoria das condições de trabalho sucede na prática em vários setores o retrocesso da qualidade do trabalho, nomeadamente o aumento das horas de trabalho, o esmagamento dos preços nas subcontratações, estagnação de salários, a precariedade, o assédio e a ausência de condições de segurança e saúde no trabalho.
Na base desta realidade está uma filosofia de gestão que apenas pensa no aumento dos lucros dos acionistas e dos generosos salários dos gestores! É a tal «economia que mata» segundo uma expressão feliz do Papa Francisco.