quinta-feira, 27 de novembro de 2014

STRESSE E SOFRIMENTO NO TRABALHO!

Felizmente ou infelizmente nunca, como hoje, se escreve tanto sobre stresse, assédio moral, violência no trabalho, enfim, de sofrimento dos trabalhadores, na sua grande maioria sujeitos a grandes pressões físicas e psicológicas! 
A fadiga crónica e a depressão são o resultado de uma deficiente qualidade de vida e de trabalho, num contexto de crise provocada pelo sistema financeiro e pela ideologia gestionária moderna que ensina a explorar o trabalhador como um recurso e não a trata-lo como uma pessoa! Existe hoje uma guerra relativamente silenciosa entre os que defendem que as doenças modernas provocadas pelo stresse são de difícil quantificação e estão relacionadas com as vulnerabilidades dos trabalhadores e os que consideram que o stresse e as doenças psicológicas está fundamentalmente relacionado com as novas formas de organização do trabalho.
O lote dos primeiros é constituído em geral por gestores, dirigentes e alguns cientistas e técnicos que apenas valorizam a quantificação e não outras dimensões importantes da vida, nomeadamente a experiência e a subjetividade. Tudo o que não seja mensurável, reduzido a estatísticas e números não tem verdadeira importância! Claro que os interesses económicos sustentam esta visão e pagam para que a mesma se propague sob a capa do cientismo.
Do outro lado, dos que consideram que na base das doenças modernas no trabalho está fundamentalmente a organização do trabalho capitalista, temos a maioria dos médicos do trabalho, dos sindicatos e dos cientistas sociais. Esta clivagem ou fratura faz parte da atual guerra ideológica que o sistema promove globalmente contra o mundo do trabalho! Uma guerra surda, quotidiana, que cria sofrimento, despersonalização, humilhação e doentes para os sistemas públicos de saúde e muito dinheiro para as indústrias farmacêuticas!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O GOLPE!

 Sem querer embarcar na teoria da conspiração, um defeito muito apontado às gerações que lutaram contra a ditadura, não me sai da cabeça a ideia de que a prisão de José Sócrates, ex-Primeiro Ministro de Portugal, e a sua encenação posterior e respetiva ampliação nos «media», foi mais um golpe bem preparado e oportuno da direita portuguesa no poder para liquidar as hipóteses eleitorais do PS de António Costa e, assim, se perpetuar no poder, apesar das políticas anti sociais e de destruição do Estado Social e de direito. 
Todo este «romance», que poderá ter fundo de verdade, foi vendido por alguém do interior do aparelho da justiça portuguesa que está mais que enxovalhada! Foi vendido e vai sendo agora dado a conta - gotas aos leitores de alguns jornais para que estes possam vender mais ao longo dos próximos meses! Tudo bem gerido poderá envenenar o tempo político que decorre até às próximas eleições! Esta estratégia seria ouro sobre azul se a direita estivesse livre de casos semelhantes! Mas, não está! Esta situação, dramática para o regime saído do 25 de Abril, e em particular para o PS coloca em cima da mesa várias interrogações. Pretende a direita no poder eternizar-se no governo até ultimar o seu golpe final, ou seja, acabar com esta Constituição anulando o PS e restante oposição? É natural que assim seja. Porém, o PS e restante esquerda podem responder a este desafio com imaginação se conseguirem ir ao encontro dos anseios e raiva dos cidadãos.
 Este golpe também responde àqueles dirigentes socialistas que ainda há poucos dias consideravam que as alianças naturais do PS seriam com os partidos da direita, nomeadamente do PSD. Já agora, porque não juntar os dois partidos? Será que os partidos portugueses estão rachados ao meio, em particular o BE,PS e PSD? Rachem, porra, para que nasçam outras formações mais coerentes!

domingo, 23 de novembro de 2014

MAIOR DEMOCRACIA NO TRABALHO, POIS CLARO!

O Comité Executivo da Confederação Europeia de Sindicatos aprovou no passado mês de outubro uma Resolução propondo á Comissão Europeia uma nova diretiva comunitária capaz de dar um novo impulso á democracia no trabalho, reforçando a informação, consulta e participação dos trabalhadores nos conselhos de administração das empresas. 
O documento da Confederação estabelece os mínimos para esse quadro jurídico que viria a reforçar a influência dos trabalhadores nas sociedades económicas. Influência que devido ao quadro de crise e às taxas de desemprego tem vindo a diminuir nos últimos anos, aproveitando o patronato europeu e multinacional para afastar os sindicatos das empresas. A proposta da CES é, no fundo, implementar uma espécie de cogestão, pois os representantes dos trabalhadores nos conselhos administrativos teriam os mesmos direitos e estatuto que os representantes dos acionistas.
Apesar dos riscos que tal proposta tem, nomeadamente em matéria de controlo pelos trabalhadores dos seus representantes, vale a pena debater esta questão, e fazer participar os militantes sindicais e de comissões de trabalhadores nesta matéria. Qualquer quadro de informação, consulta e participação não pode ser elaborado á margem das organizações sindicais! Não existe uma verdadeira sociedade democrática sem democracia laboral. As empresas não podem apenas servir os interesses dos acionistas ou seja do capital.
O poder dos trabalhadores tem que ser reforçado nas empresas e na sociedade em geral. É um combate central da democracia. A direita liberal e conservadora, refletindo os interesses do capital financeiro e das multinacionais, olham para as organizações de trabalhadores como um fardo, como algo que pouco a pouco deve ser banido do projeto europeu e da realidade de cada país! Ora, o que se defendia como nuclear ao projeto europeu era o diálogo social e o protagonismo central das organizações de trabalhadores a par dos patrões. Esvaziar esta questão na construção europeia é regredir e afastar milhões de cidadãos produtores do futuro europeu.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

INTOXICAÇÕES EM CALL CENTER...um negócio tóxico!

O que aconteceu no call center da PT em Beja, intoxicação de dezenas de funcionários, é mais uma demonstração das condições de trabalho suportadas pelos trabalhadores destas «fábricas do seculo XXI».
 Se foi chamada uma empresa do exterior para fazer a desinfeção de um parasita que existiria no local de trabalho onde estava o serviço de segurança e saúde do trabalho da empresa? Quem chamou a empresa para efetuar um trabalho sem competência como estamos a ver pelos resultados? Tudo indica que aqueles trabalhadores não estão abrangidos pela vigilância obrigatória da sua saúde e segurança. Tudo indica que aqueles trabalhadores não têm um estatuto igual aos outros trabalhadores. Em geral são contratados a prazo ou por empresas de trabalho temporário e ganham salários muito baixos. São mão- de -obra barata e qualificada.
Daí que os homens do negócio digam que Portugal tem excelentes condições de rentabilidade neste domínio! É necessário e urgente fazer uma avaliação de riscos sem batota para determinar as causas da intoxicação e, em consequência, tomar as medidas adequadas de segurança e saúde dos trabalhadores que, aliás, estão previstas na legislação. Será que a inspeção do trabalho vai retirar as devidas conclusões e responsabilidades patronais no acidente?

sábado, 15 de novembro de 2014

AS GREVES!

Nesta semana de novembro tivemos dois acontecimentos grevistas com elevado significado político e social. Um foi a greve do metropolitano de lisboa, marcada para o passado dia 13 que acabou por não se efetivar á última da hora, e, outro, foi a greve dos enfermeiros marcada para 14 e 21 do mesmo mês. Aparentemente são mais duas greves e apenas isso. Todavia, estas duas greves merecem alguma análise. 
A greve do metro de 24 horas, depois de convocada por todos os principais sindicatos da empresa, nomeadamente dos quadros, não resistiu ao tribunal arbitral. Ao contrário do que é habitual a empresa não pôde encerrar porque os árbitros decretaram como serviços mínimos a circulação obrigatória de 25% das composições e abertura de todas as estações e a respetiva afetação do pessoal considerado necessário para o efeito.
Esta decisão do tribunal arbitral teve o voto de vencido do árbitro que representava os trabalhadores. O argumento central do tribunal é que o direito á circulação é um direito fundamental bem como outros direitos, como, por exemplo, o de chegar ao emprego a horas. O direito á greve não poderia, assim, pôr em causa esse direito de circulação. Ora, esta interpretação esbarra com o facto de que existiam outros transportes alternativos na cidade para além de que 25% das composições é furar uma greve! Ora, aqui é que está o tal problema político. Existe, cada vez mais na sociedade portuguesa, uma corrente de juristas que relativiza o direito á greve como direito fundamental, esvaziando assim os efeitos desta arma dos trabalhadores.
 A greve dos enfermeiros serviu para uma ação de propaganda do governo que pediu ao sindicato para não fazer a greve do dia 14 por causa do surto de legionella em curso. Diga-se que até ao momento felizmente ainda ninguém morreu num hospital por causa de uma greve. Diga-se também que o sindicato caiu na esparrela da propaganda ao mostrar intransigência! Foi mais um motivo para morder no direito á greve! Não havia razão para suspender a greve? Claro que não! Todavia, a saúde é uma área muito sensível para a população e o sindicato sairia muito bem se aproveitasse para, ao mesmo tempo que adiava a greve falasse das suas reivindicações. Seria amplamente ouvido e teria a simpatia de muita gente.
A limitação do direito á greve está em curso e a direita vai aproveitar todas as situações para aumentar esta limitação e dar o passo final tornando quase a greve ilegal. Daí que seja necessário um fino sentido político dos dirigentes sindicais em vez de uma firmeza previsível pelo adversário! Firme nos princípios e flexível na tática, não é assim?

terça-feira, 11 de novembro de 2014

MOVIMENTOS POPULARES NO VATICANO!

Promovido pela Comissão Pontifícia Justiça e Paz em colaboração com a Academia Pontifícia das Ciências Sociais e dirigentes de vários Movimentos Populares de todo o Mundo, teve lugar, em Roma, no final do passado mês de Outubro (27- 29), um Encontro Mundial de Movimentos Populares, o que, só por si, é um evento que merece a devida ponderação, tanto pela sociedade civil como por parte das comunidades eclesiais. 
O discurso do Papa Francisco na altura é sem dúvida um discurso histórico! Pela primeira vez vejo um Papa falar não de um púlpito como uma autoridade mas como um homem com as mesmas causas dos participantes. Quais causas? A causa da justiça, da organização popular para combater a injustiça, a falta de teto, de trabalho e terra! O Papa falou a mesma linguagem e deu esperança à centena de militantes presente que representavam mais de 100 movimentos populares! As conclusões deste Encontro inédito e o discurso do Papa estão a criar muita urticária nos conservadores e na direita católica e no mundo dos negócios! Como dizia recentemente Frei Bento Domingues parece que este Papa é incorrigível!
Este discurso do Papa vai ser metido na gaveta e não serão muitas as igrejas locais europeias a dar visibilidade a um tal discurso. É um texto que incomoda os acomodados, os defensores do assistencialismo, os mentores do negócio das obras dos pobres!
Secretamente há muito católico a dizer que este Papa é comunista, progressista, pois tem uma linguagem que lhes lembra o PREC, o 25 de abril, a democracia em Espanha, a evolução no Brasil, os sindicatos, os movimentos de camponeses que querem terra, os que querem uma casa digna e precisam de algum rendimento mínimo ou um aumento da pensão de miséria!
A burguesia católica, instalada nas catedrais e capelas limpas e cheirosas ,de missa ao Domingo, está a ficar confusa com este Papa que vivia nos subúrbios das cidades argentinas e rezava missa para os ciganos, párias e mendigos…. Por isso mesmo é necessário divulgar este discurso porque é um discurso de humanidade, de esperança e de combate ao império do dinheiro que está a substituir os valores da fraternidade da humanidade, da esperança!
UM ACONTECIMENTO SEM PRECEDENTES disseram alguns lideres dos Movimentos presentes!VER

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O SILÊNCIO NO TRABALHO!

Há quem fique admirado por não existir maior contestação laboral em Portugal, tendo em conta os efeitos da crise económica e social dos últimos anos. Numa análise mais profunda poderemos encontrar várias explicações para o silêncio de muitos trabalhadores individualmente considerados sobre as suas condições de trabalho, nomeadamente salariais e de segurança e saúde. 
A situação de desemprego e precariedade é de tal modo constrangedora que conduz a esse silêncio, uma certa inatividade e até afastamento da ação sindical. Outra das razões fundamentais é a erosão dos coletivos de trabalhadores. Hoje os sindicatos são frágeis ou não existem numa larga percentagem de empresas. Os trabalhadores não têm porta-vozes que exprimam os seus anseios, reivindicações e problemas. Há patrões que querem despedir um trabalhador simplesmente por ter ido duas vezes ao médico.
Hoje o desequilíbrio é tão grande entre patrão e trabalhador que este sente que não pode falar, inclusive fazer queixa às autoridades inspetivas! Vejo pessoas a dizerem que os sindicalistas exageram na análise às relações de trabalho, que usam uma linguagem agressiva e que a situação em muitas empresas não é conflituosa e que existe um bom clima laboral! Ou seja, o problema são os sindicalistas. Não podemos esquecer que o medo de ficar sem emprego (sobrevivência) conduz o trabalhador a valorizar esse aspeto, ou seja o emprego, e a desvalorizar tudo o resto, incluindo os seus direitos mínimos, e a resignar-se á situação! Não existe paz mais silenciosa que a paz dos cemitérios!
O bom clima laboral em qualquer empresa deve ser sustentado pelo diálogo e pelo respeito dos direitos fundamentais dos trabalhadores, nomeadamente do direito ao salário justo, ao direito de se organizar e falar livremente, ao direito ao descanso e a um horário legalmente estabelecido, de cuidar dos descendentes e ascendentes, de ter vida social, enfim, de ter um trabalho humano, na medida do que é possível no contexto do trabalho assalariado.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

TRABALHADORES DAS IPSS SÃO DE SEGUNDA?

A crise atual, provocada pelo capitalismo, afetou profundamente os Estados nacionais, em particular o português, com graves consequências para a economia e para os trabalhadores! As políticas engendradas pelas organizações internacionais OCDE e FMI, bem como pelas instituições da União Europeia geraram um exército de desempregados e o alargamento da pobreza em Portugal! 
Para remediar esta situação o governo reforçou a rede assistencialista das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) sem todavia lhes dar suficientes meios financeiros. 
Apesar de muitos dos seus dirigentes serem afetos á maioria que sustenta este governo é frequente ouvirem-se queixas daqueles, clamando por mais apoios! Em alguns distritos cerca de 50% destas instituições chegaram á falência e foram vivendo através de empréstimos bancários e recorrendo á caridade dos cidadãos! Uma das consequências desta política do governo foi a estagnação dos salários dos trabalhadores do setor e até a redução salarial silenciosa em alguns casos! A assistência aos pobres é assim feita através da geração de mais pobreza!
Ainda há pouco, e a propósito do aumento do salário mínimo, o dirigente máximo da confederação destas instituições referia que tal medida criaria problemas às respetivas IPSS! Ou seja, uma medida fundamental para combater a pobreza- o aumento do salário mínimo- era contraproducente pois ia criar problemas ao «negócio» do assistencialismo e seus mentores!
Assim, quer se goste ou não de ouvir, não deixa de ser verdade que estas instituições sociais conseguem alcançar os seus fins humanitários através da sobre exploração laboral! Em geral os trabalhadores do setor social ganham abaixo da Função Pública, trabalham, por vezes, mais do que oito horas e são «pau para toda a colher»! Atenção pois aos mentores da caridade que, em geral, não gostam de sindicatos e de greves… tudo em nome de fazer bem às pessoas, pois claro! Gostaria de os ouvir a exigir mais ao governo de Mota Soares, deixando de ser tão complacentes! E ainda que não aceitassem tão de boa vontade os desempregados que lhes mandam para substituir trabalhadores com todos os direitos e deveres constitucionais. É que os trabalhadores das IPSS não são voluntários!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A «RELIGIÃO» DA PRODUTIVIDADE!

O discurso da e sobre a produtividade tornou-se avassalador no pensamento dominante. Tão dominante, que as instâncias do próprio Estado reproduzem até ao fastio essa lenga – lenga! Não há discurso sobre economia que não coloque o enfoque na competitividade e na produtividade. Mas, também ouvimos discursos sobre a educação e sobre a saúde a falarem da produtividade!
 Prevenir o Stresse? Claro, para sermos mais produtivos! Melhorar a escola? Claro, para fazermos homens mais produtivos! Melhorar o transporte? Sim, para aumentar a produtividade do trabalho! Enfim, uma autêntica ideologia, por vezes mesmo uma religião! A produtividade é assim uma espécie de deus a quem tudo se deve sacrificar! 
Nesta religião sacrificial também é desenvolvido em grande escala o sentimento de culpa. Se, não existe suficiente produtividade quem é o culpado? O trabalhador! Como castigo aumenta-se o horário de trabalho sem remuneração, cortam-se dias de férias e feriados, facilita-se o despedimento! E vem depois todo o discurso fascista de que «são preguiçosos», grevistas, querem emprego mas não querem trabalhar, e logo agora que não falta trabalho, é só querer! Mas, porque será que no estrangeiro trabalham tanto? Porque será que pouco se aposta na formação dos trabalhadores? Porquê tanta resistência a aumentar o salário mínimo e a falarem em redução salarial em tantas empresas, em vez de aumentarem para motivarem quem trabalha? Em Portugal ainda se pensa em aumentar a produtividade através do chicote! 
Mas a questão principal nem é esta do aumento da produtividade! O discurso da produtividade tem como principal objetivo aumentar a exploração dos trabalhadores em benefício do capital! Para o capitalismo o trabalhador é um instrumento de produção que, bem afinado, pode gerar mais riqueza para ser na sua grande parte apropriada e não distribuída com justiça! Bem afinado significa bem enquadrado, bem manipulado no seu espírito, na sua alma! É aqui que se aplica bem o ditado popular «não vendas a alma ao diabo»! Não entendo é como existe tanta gente a reproduzir o discurso do diabo! Alguns ganham bem com isso, mas outros….

PATRÃO CONDENADO POR DEIXAR MORRER TRABALHADOR!

O TRIBUNAL de Bruxelas, na Bélgica, condenou a 18 meses de cadeia com pena suspensa um patrão de construção civil que largou numa rua o corpo de um operário português que tinha tido um ataque cardíaco numa obra onde trabalhava de forma ilegal. Em novembro de 2011, António Nunes Coelho estava a fazer um biscate numa obra, com mais dois funcionários, quando teve um ataque cardíaco e caiu dos andaimes.
Em vez de chamar assistência, o dono da empresa e dois funcionários, um deles também condenado, abandonaram o corpo numa rua em Uccle, localidade onde estava a obra. António Nunes Coelho, de 49 anos, natural da freguesia de Ervedal, trabalhava há 12 anos na Bélgica. Desempregado desde 2010, estava ilegal. Estucador, aceitou fazer um biscate num feriado belga por 22 euros à hora. Depois de ter caído do andaime, após o ataque, a vítima ainda estava com vida e o patrão, Vítor Correia Narciso, também português, preferiu livrar-se do corpo, ao que tudo indica para evitar multas e problemas com a inspeção do trabalho.
 Diz que conduziu durante duas horas para encontrar um hospital, mas acabaram por abandonar o corpo na via pública, a três quilómetros do local do acidente. Abandonado como lixo Os três eram acusados de homicídio negligente, mas acabaram por ser condenados por omissão de auxílio.
O patrão foi sentenciado com 18 meses com pena suspensa, assim como a 3 3 mil euros de multa. Um funcionário foi condenado a 15 meses e o outro foi absolvido. O Ministério Público tinha pedido dois anos de cadeia para o patrão. Segundo Jean-Paul Tieleman, o advogado da viúva, citado pela Imprensa belga, António ficou gravemente ferido da queda, mas estava vivo quando o patrão o retirou da obra e largou-o "como um saco do lixo" na rua.
O patrão terá oferecido 10 mil euros à viúva de António Coelho para evitar que ela apresentasse o caso à Polícia. "Nunca iria aceitar aquele dinheiro sujo. Deixaram-no morrer e desfizeram-se dele como se fosse um cão", disse Maria de Lurdes, em 2012, ao jornal belga "La Dernière Heure".
 ALEXANDRE PANDA Jornal de Notícias de 2/11/2014