segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O SILÊNCIO NO TRABALHO!

Há quem fique admirado por não existir maior contestação laboral em Portugal, tendo em conta os efeitos da crise económica e social dos últimos anos. Numa análise mais profunda poderemos encontrar várias explicações para o silêncio de muitos trabalhadores individualmente considerados sobre as suas condições de trabalho, nomeadamente salariais e de segurança e saúde. 
A situação de desemprego e precariedade é de tal modo constrangedora que conduz a esse silêncio, uma certa inatividade e até afastamento da ação sindical. Outra das razões fundamentais é a erosão dos coletivos de trabalhadores. Hoje os sindicatos são frágeis ou não existem numa larga percentagem de empresas. Os trabalhadores não têm porta-vozes que exprimam os seus anseios, reivindicações e problemas. Há patrões que querem despedir um trabalhador simplesmente por ter ido duas vezes ao médico.
Hoje o desequilíbrio é tão grande entre patrão e trabalhador que este sente que não pode falar, inclusive fazer queixa às autoridades inspetivas! Vejo pessoas a dizerem que os sindicalistas exageram na análise às relações de trabalho, que usam uma linguagem agressiva e que a situação em muitas empresas não é conflituosa e que existe um bom clima laboral! Ou seja, o problema são os sindicalistas. Não podemos esquecer que o medo de ficar sem emprego (sobrevivência) conduz o trabalhador a valorizar esse aspeto, ou seja o emprego, e a desvalorizar tudo o resto, incluindo os seus direitos mínimos, e a resignar-se á situação! Não existe paz mais silenciosa que a paz dos cemitérios!
O bom clima laboral em qualquer empresa deve ser sustentado pelo diálogo e pelo respeito dos direitos fundamentais dos trabalhadores, nomeadamente do direito ao salário justo, ao direito de se organizar e falar livremente, ao direito ao descanso e a um horário legalmente estabelecido, de cuidar dos descendentes e ascendentes, de ter vida social, enfim, de ter um trabalho humano, na medida do que é possível no contexto do trabalho assalariado.

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