Em novembro de 2022 escrevi este texto que resultou de um debate realizado em Coimbra.Passados quase dois anos mantém toda a actualidade apenas acrescentando que hoje a paz também passa por um cessar fogo em Gaza!
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no início da invasão da Ucrânia pela Rússia a BASE-FUT tomou uma posição clara
relativamente a este terrível conflito que assola o centro da Europa e afecta
todo o mundo.Assim no mesmo dia desse acontecimento, 24 de fevereiro de 2022,
foi tornado público um comunicado onde dizíamos que «Quaisquer que sejam a origem e a validade das queixas russas,
o uso unilateral da força militar e os argumentos apresentados pelo Presidente
Putin para a justificar são completamente inaceitáveis e merecem a nossa mais
viva condenação e repúdio.»
O comunicado da
BASE-FUT dizia ainda« Esta invasão é o culminar de um conflito que lavra desde
2014 e que nunca foi resolvido. É também um lembrete dos efeitos nefastos de
uma ordem internacional em que os estados mais poderosos – como a Rússia e os
Estados Unidos da América – continuam a arrogar-se o direito de definir
“esferas de influência” e de interferir com as escolhas dos povos que são por
elas abrangidas.»
Ao longo dos meses
temos assistido a uma perigosa e horrível escalada da guerra com milhares de
mortos e de feridos,milhões de refugiados ,em particular ucranianos,destruição
de cidades e estruturas vitais da Ucrânia.
Para além deste
horror os efeitos nefastos desta guerra em todo o mundo, nomeadamente no abastecimento
e encarecimento de bens de primeira necessidade como a energia e os alimentos,a
inflação galopante e a desvalroização dos salários e pensões colocam em cima da
mesa a necessidade de parar esta guerra de imediato para que ao horror da fome
e da subida trágica do custo de vida não
venham outros males como a recessão económica,a convulsão social e os perigos
da extrema direita, bem como a ameaça nuclear.
O debate sobre a guerra
continua pouco dinâmico e entregue aos comentadores ligados aos sectores
dominantes das ciências políticas ou a militares de alta patente reformados ou
no activo .Na maioria das situações pinta-se o quadro a preto ou branco e
legitima-se a guerra sem margem para posições mais criticas.É óbvio que esta
visão da guerra não interessa às classes trabalhadoras portuguesas, europeias e
mundiais e, em particular, não interessa aos trabalhadores dos povos em
conflito.São os trabalhadores que irão sofrer mais com os investimentos na guerra e com a presença na frente de batalha!
Foi assim que
perante esta situação a BASE-FUT escolheu o tema« as origens da guerra da
Ucrânia suas consequências e caminhos para a paz»para o debate comemorativo dos
seus 48 anos de trabalho ao serviços dos trabalhadores portugueses.Um debate
animado por dois excelentes especialistas nas questões internacionais,o
professor José Manuel Pureza e a jornalista Sandra Monteiro.
Deste debate podemos
retirar algumas conclusões e reflexões
para o futuro.
Cosequências desta
guerra
Esta guerra está ter várias consequências locais e
mundiais com destaque para:
1.Efeitos
energéticos nomeadamente no abastecimento e preços mas também na transição
energética justa.A transição para novas energias com menores efeitos climáticos
está a ser retardada com possíveis efeitos catastróficos;
2.Efeiros na
carência alimentar com o aumento da fome em várias regiões do planeta afectando
milhares de seres humanos, em particular pessoas pobres;efeitos na subida
histórica da inflação com a desvalorização dos salários e das pensões
3.Efeitos na
qualidade da democracia com reforço da autarcia e autoritarismo ao alterar as
condições de vida das massas populares.A extrema direita alimenta-se das
tensões geradas.
As visões dominates
desta guerra
As visões dominantes
desta guerra e que em geral alimentam a comunicação social e a maioria dos
analistas são duas:
1.Visão liberal:
O que aconteceu na
Ucrânia foi a adesão aos valores de mercado e das liberdades económica e
política.É a história triunfante que no século XX hegemonizou o mundo.É a
narrativa da guerra dos bons contra os maus, das democracias contra as
autracias;É a mais divulgada entre comentadores e políticos europeus e
ocidentais em geral.Esta visão alimentada pela maioria da comunicação social
está espalhada na opinião pública ocidental.
2. Visão realista
Tudo se resume a um
jogo entre as grandes potências.Cada uma das grandes potências controla o seu
campo geoestratégico.Tudo o que acontece tem aí uma explicação.Esta narrativa
está nos discursos de académicos e comentadores.
3.A visão dos
caminhos da paz
Existe um silêncio
horrível sobre os caminhos para a paz.Afirma-se subtilmente que a guerra
termina quando uma das partes seja derrotada.Ora,há que criar espaço para um
debate com outras saídas que não seja a derrota de uma das partes.Nessas saídas
a ONU e outras organizações devem ter um papel importante mas estão a ser
marginalizadas pelos próprios estados.As saídas para a paz devem, todavia, ter
em conta os interesses de ambas as partes e do mundo.
Hoje já não é
credível ver na Rússia de Putin e dos oligarcas um polo de resistência ao
imperialismo norte-americano.Neste país, bem como na Ucrânia existe uma aliança
entre o capitalismo liberal e o autoritarismo.Porém, um reforço unilateral dos
USA levaria a uma ordem mundial pouco favorável às classes populares.A guerra
está a ser utilizada para disseminar o medo, a diminuição das reivindicações e
a imposição de uma segunda vaga de austeridade na Europa!
Neste sentido é
fundamental uma solução diplomática rápida, um cessar fogo que permita
negociações e entendimentos.Para se alcançar este objectivo é fundamental o
debate , o esclarecimento e um movimento mundial pacifista que sensibilize e
mobilize a opinião pública.
Nota: BASE-FUT-Base-Frente Unitária de Trabalhadores,organização que nasceu com a Revolução do 25 de Abril tendo como fundadores quadros dos Movimentos Operários da Ação Católica Portuguesa