segunda-feira, 12 de agosto de 2024

A LUTA PELA PAZ PASSA HOJE PELA UCRÂNIA E POR GAZA

 


Em novembro de 2022 escrevi este texto que resultou de um debate realizado em Coimbra.Passados quase dois anos mantém toda a actualidade apenas acrescentando que hoje a paz também passa por um cessar fogo em Gaza!


Logo no início da invasão da Ucrânia pela Rússia a BASE-FUT tomou uma posição clara relativamente a este terrível conflito que assola o centro da Europa e afecta todo o mundo.Assim no mesmo dia desse acontecimento, 24 de fevereiro de 2022, foi tornado público um comunicado onde dizíamos que «Quaisquer que sejam a origem e a validade das queixas russas, o uso unilateral da força militar e os argumentos apresentados pelo Presidente Putin para a justificar são completamente inaceitáveis e merecem a nossa mais viva condenação e repúdio.»

O comunicado da BASE-FUT dizia ainda« Esta invasão é o culminar de um conflito que lavra desde 2014 e que nunca foi resolvido. É também um lembrete dos efeitos nefastos de uma ordem internacional em que os estados mais poderosos – como a Rússia e os Estados Unidos da América – continuam a arrogar-se o direito de definir “esferas de influência” e de interferir com as escolhas dos povos que são por elas abrangidas.»

Ao longo dos meses temos assistido a uma perigosa e horrível escalada da guerra com milhares de mortos e de feridos,milhões de refugiados ,em particular ucranianos,destruição de cidades  e estruturas vitais da Ucrânia.

Para além deste horror os efeitos nefastos desta guerra em todo o mundo, nomeadamente no abastecimento e encarecimento de bens de primeira necessidade como a energia e os alimentos,a inflação galopante e a desvalroização dos salários e pensões colocam em cima da mesa a necessidade de parar esta guerra de imediato para que ao horror da fome e da subida trágica do custo de vida  não venham outros males como a recessão económica,a convulsão social e os perigos da extrema direita, bem como a ameaça nuclear.

O debate sobre a guerra continua pouco dinâmico e entregue aos comentadores ligados aos sectores dominantes das ciências políticas ou a militares de alta patente reformados ou no activo .Na maioria das situações pinta-se o quadro a preto ou branco e legitima-se a guerra sem margem para posições mais criticas.É óbvio que esta visão da guerra não interessa às classes trabalhadoras portuguesas, europeias e mundiais e, em particular, não interessa aos trabalhadores dos povos em conflito.São os trabalhadores que irão sofrer mais com os investimentos na guerra e com a presença  na frente de batalha!

Foi assim que perante esta situação a BASE-FUT escolheu o tema« as origens da guerra da Ucrânia suas consequências e caminhos para a paz»para o debate comemorativo dos seus 48 anos de trabalho ao serviços dos trabalhadores portugueses.Um debate animado por dois excelentes especialistas nas questões internacionais,o professor José Manuel Pureza e a jornalista Sandra Monteiro.

Deste debate podemos retirar algumas conclusões  e reflexões para o futuro.

Cosequências desta guerra

Esta guerra  está ter várias consequências locais e mundiais com destaque para:

1.Efeitos energéticos nomeadamente no abastecimento e preços mas também na transição energética justa.A transição para novas energias com menores efeitos climáticos está a ser retardada com possíveis efeitos catastróficos;

2.Efeiros na carência alimentar com o aumento da fome em várias regiões do planeta afectando milhares de seres humanos, em particular pessoas pobres;efeitos na subida histórica da inflação com a desvalorização dos salários e das pensões

3.Efeitos na qualidade da democracia com reforço da autarcia e autoritarismo ao alterar as condições de vida das massas populares.A extrema direita alimenta-se das tensões geradas.

As visões dominates desta guerra

As visões dominantes desta guerra e que em geral alimentam a comunicação social e a maioria dos analistas são duas:

1.Visão liberal:

O que aconteceu na Ucrânia foi a adesão aos valores de mercado e das liberdades económica e política.É a história triunfante que no século XX hegemonizou o mundo.É a narrativa da guerra dos bons contra os maus, das democracias contra as autracias;É a mais divulgada entre comentadores e políticos europeus e ocidentais em geral.Esta visão alimentada pela maioria da comunicação social está espalhada na opinião pública ocidental.

2. Visão realista

Tudo se resume a um jogo entre as grandes potências.Cada uma das grandes potências controla o seu campo geoestratégico.Tudo o que acontece tem aí uma explicação.Esta narrativa está nos discursos de académicos e comentadores.

3.A visão dos caminhos da paz

Existe um silêncio horrível sobre os caminhos para a paz.Afirma-se subtilmente que a guerra termina quando uma das partes seja derrotada.Ora,há que criar espaço para um debate com outras saídas que não seja a derrota de uma das partes.Nessas saídas a ONU e outras organizações devem ter um papel importante mas estão a ser marginalizadas pelos próprios estados.As saídas para a paz devem, todavia, ter em conta os interesses de ambas as partes e do mundo.

Hoje já não é credível ver na Rússia de Putin e dos oligarcas um polo de resistência ao imperialismo norte-americano.Neste país, bem como na Ucrânia existe uma aliança entre o capitalismo liberal e o autoritarismo.Porém, um reforço unilateral dos USA levaria a uma ordem mundial pouco favorável às classes populares.A guerra está a ser utilizada para disseminar o medo, a diminuição das reivindicações e a imposição de uma segunda vaga de austeridade na Europa!

Neste sentido é fundamental uma solução diplomática rápida, um cessar fogo que permita negociações e entendimentos.Para se alcançar este objectivo é fundamental o debate , o esclarecimento e um movimento mundial pacifista que sensibilize e mobilize a opinião pública.

Nota: BASE-FUT-Base-Frente Unitária de Trabalhadores,organização que nasceu com a Revolução do 25 de Abril tendo como fundadores quadros dos Movimentos Operários da Ação Católica Portuguesa

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