terça-feira, 15 de outubro de 2019

O ABSTENCIONISMO ELEITORAL E SINDICAL


Todos concordam em que a abstenção, mais de 50%, nas últimas eleições foi mais alta do que em 2015.Mas o mais grave nem é o número impressionante de abstencionistas, quase metade dos eleitores.O mais grave é que a percentagem vai subindo de eleição em eleição.
Perante este quadro temos que aceitar que o abstencionismo eleitoral e político é um fenómeno subterrâneo profundo, ainda em evolução, e que nem o vasto leque de opções partidárias pôs termo até agora.Podemos assim trabalhar uma hipótese:o abstencionismo em Portugal não tem origem na falta de opções político partidárias mas por algo mais profundo.Tudo leva a crer, e haverá certamente novos estudos sobre esta questão, que os eleitores terão várias razões para não votarem.As gerações mais novas  terão razões próprias ou serão muito semelhantes às razões das gerações mais idosas?
Nos debates em que tenho participado, a maioria entre militantes empenhados e quase todos eleitores votantes aparecem duas razões fundamentais que poderão levar à abstenção.
A primeira é a falta de esperança manifestada hoje em muitas pessoas; esperança em mudar a vida para melhor, ou seja não acreditam que o sistema político actual lhes melhore a vida.A segunda razão tem a ver com a falta de credibilidade dos partidos políticos e até com outras instituições do sistema como por exemplo a justiça e os bancos.

A corrupção e o compadrio

Claro que os casos de corrupção e compadrio que emergem constantemente nos órgãos de comunicação social e a sua utilização manipuladora têm aí um papel importante.As classes dirigentes  nomeadamente políticos, banqueiros, membros do aparelho do Estado, em particular da justiça, empresários e gestores aparecem como virados apenas para os seus interesses e para o roubo do erário público.As notícias de favorecimento de amigos e familiares dos governos e o envio de milhares de milhões para os paraísos fiscais são efectivamente arrasadoras do sistema.

E os sindicalistas?

Uma outra hipótese de trabalho é se também os sindicalistas sofrem ou são abrangidos pela falta de credibilidade no sistema político.Ao contrário do que ocorreu noutros países, nomeadamente em Espanha,não temos assistido a casos graves e mediáticos de corrupção no meio sindical.Felizmente!Podemos, no entanto, verificar que são muitos os trabalhadores que praticam o abstencionismo sindical.Não se sindicalizam e, em alguns sectores, assiste-se ao abandono do sindicato.Este abstencionismo sindical, que também está em evolução,dever-se-à mais à falta de eficácia sindical e à precariedade, bem como a razões de ordem cultural e de mudanças na estrutura do emprego.
Sem menosprezar a importância da precariedade não podemos todavia sobrevalorizá-la.Na História do Movimento Operários foram mais os tempos de precariedade do que o contrário.Inclino-me muito mais para a falta objectiva de eficácia da ação sindical que não tem explorado suficientemente a negociação colectiva, a arma da greve,a concertação social e a a organização  sindical de base , nos locais de trabalho.Tudo questões para mais tarde abordar!

terça-feira, 8 de outubro de 2019

AS ELEICÕES, A NOVA CRISE E AS LUTAS DOS TRABALHADORES!



A última e histórica legislatura acabou, a chamada legislatura da «Geringonça», que teve que
afugentar vários diabos e fantasmas para poder sobreviver!Quem mais ganhou foi sem dúvida o Partido Socialista, pois  o PSD, a CDU e o CDS sofreram pesadas derrotas e o Bloco ficou mais ou menos igual!Inquestionável é a existência de uma maioria de esquerda!
O voto no PS, dando-lhe uma folgada maioria, tem diversas origens certamente e algum mistério.Até veio, talvez, de alguma direita social que viu estabilidade, apoio aos negócios e firmeza no que respeita às alterações laborais que vinham da troika.
Perante a incapacidade do PSD de Rui Rio alguma direita apostou forte no PS para que este não tivesse necessidade absoluta das esquerdas.Demonstra experiência e astúcia política de uma certa elite económica associada na sua maioria nas organizações patronais, fundações e diversas redes que promovem as negociatas.É o voto tático que certamente também existe na esquerda.Quem mais sofre são partidos tradicionais com eleitorado fiel, mas que vai sofrendo erosão (abstenção?) como são os casos do CDS e do PCP.
A corrente mais à direita do Partido Socialista vai ver assim a sua margem de manobra aumentada para evitar demasiados compromissos com os partidos mais à esquerda e com as reivindicações sindicais. Verdadeiramente o PS não precisa de fazer acordos substanciais para governar como aconteceu com o último governo.Costa ,a esquerda social e sindical do PS terá força e querer suficiente para equilibrarem essa orientação que poderá prevalecer no PS.?
Curiosa é a ideia de próxima crise que, entretanto, emerge não apenas em Portugal mas também noutras partes do mundo.Apenas alguns anos de respiração para o povo e já os «gurus» da economia ligados aos investidores falam numa nova crise para conter as reivindicações sindicais,os salários e pensões e aumentar o desemprego.Uma nova crise que resultará em aumento das desigualdades e pobreza, em descrédito da democracia e avanço da extrema direita.
Parece que nosso relaxamento vai acabar.O melhor será que nos preparemos para novos combates.Como vai gerir a situação o novo governo?Pelas alianças que fizer nos próximos dias para governar teremos as respostas!

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A LUTA PELO TRABALHO DIGNO É GLOBAL


Neste 7 de outubro terá lugar 12ª edição da Jornada Mundial pelo Trabalho Digno.Centenas de organizações de trabalhadores vão promover diversas manifestações para afirmar que a luta pelos direitos dos trabalhadores e pela sua emancipação económica, sócio-cultural e política está na ordem do dia em todo o mundo. O recente relatório da Confederação Sindical Internacional  (CSI) mostra como tem aumentado a repressão dos trabalhadores em todos os continentes, incluindo a na UE que ainda há pouco tempo aprovou o Pilar dos Direitos Sociais.
Hoje os trabalhadores, incluindo quadros e gestores, vivem e trabalham num ambiente a que chamam «mercado» onde a competição é feroz,as carreiras instáveis e curtas e tudo é flexível e volátil.Sistemas de avaliação profissional pagos a ouro obrigam a objectivos inalcansáveis, a frustrações e culpabilizações, bem como ao sabor do stresse diário que nos corrói a saúde e a dignidade.É o capitalismo predador de resultados imediatos e que descarta as pessoas sem dó nem piedade.
No mesmo «mercado» ou fora dele vivem e trabalham também milhares de trabalhadores imigrantes clandestinos ou precários, uns na agricultura e construção, mas também na limpeza, a entregar produtos ao domicílio, a fazerem mil biscates à hora ou à tarefa.Milhares encontram-se mesmo em situação de servidão dominados por redes mafiosas que exploram em negócio chorudo as crianças, jovens e mulheres.É o crime organizado para explorar seres humanos!Isto nas nossas barbas,em Portugal,na Itália,na Espanha na Inglaterra e outros países europeus.São mais de 25 milhões de seres humanos segundo algumas estimativas.
Mas, no «mercado» também existem centenas de milhares de trabalhadores nas fábricas do calçado, da cortiça e dos têxteis que continuam a suportar deficientes condições de trabalho, salários de miséria, horários prolongados.Quem manda é o patrão e o cliente, a empresa e o mercado mandam nos ritmos e na nossa vida.Para ter um aumento de alguns cêntimos no subsídio de almoço é necessário lutar com unhas e dentes e não é certo que se obtenha esse mísero aumento.
A entrada é de manhã cedo e a saída para ir buscar o filho é sempre muito tarde .Muitas das mulheres têm o trabalho doméstico suplementar ao trabalho suplementar da fábrica por causa do «banco de horas», que agora até vai ser sufragado, nome tão interessante que outrora  continha promessas de emancipação mas que agora vai servir para prender mais o trabalhador á fábrica.
Isto para não falar dos milhões de trabalhadores que em todo o mundo trabalham na economia informal onde não existem horários,nem regulamentos, nem contratos.É o reino do «safe-se quem puder», do ganhar algum dinheiro para não morrer, do pedir ou até pagar para ter um trabalho miserável.
É por estas e outras que o sindicato ainda continua a ser a nossa organização, a arma possível de milhões de trabalhadores sem terra, sem pão e sem teto .Onde eles existem vamos dar-lhes força, se necessário reconstruí-los, onde não existem há que organizar os trabalhadores em sindicatos ou algo que sirva os mesmos fins ,ou seja,  a luta pelo trabalho digno para todos e para todo o planeta.As alterações climáticas podem matar o planeta.As alterações laborais e sociais em curso também nos podem matar a todos!