Será que a pandemia global que estamos a
atravessar nos abriu os olhos para novas realidades, nomeadamente sobre a
maneira como olhamos para determinadas classes profissionais que desempenham
tarefas essenciais importantes na sociedade mas que se tornaram invisíeis,
quase clandestinos desde sempre, porque têm valor reduzido no mercado?
Estamos a falar, por exemplo, dos
milhares de trabalhadores auxiliares de
saúde e de educação,dos homens do lixo ou cantoneiros, dos trabalhadores
agrícolas, dos operários da construção,
da limpeza, enfim centenas de milhar de trabalhadores , muitos dos quais produzem
ou prestam serviços essenciais a toda a sociedade.
Os médicos, professores, bombeiros e
enfermeiros revelaram-se nas televisões,fizeram-se públicos e merecidos
agradecimentos aos mesmos.Mas os trabalhadores invisíveis continuaram
invisíveis. Os auxiliares de saúde continuaram a ser as formiguinhas nos
hospitais e centros de saúde, os auxiliares de educação ficaram confinados em
casa, na sua maioria, mas sem qualquer programa, nomeadamente de formação e
actualização.Agora na retoma das escolas eles e elas vão estar novamente
expostos, sendo que, alguns e algumas, têm idades avançadas e vulnerabilidades
crónicas.
Para além da invisibilidade estes
trabalhadores têm em geral baixos salários e deficientes condições de
trabalho.Mais grave ainda é que com a retoma da economia estes trabalhadores
estão ainda mais expostos ao risco.
Acontece ainda que enquanto os médicos,
enfermeiros e professores têm organizações sindicais fortes e reivindicativas
os trabalhadores invisíveis e de baixos salários não possuem sindicatos fortes
e são pouco sindicalizados.Uma quota sindical de cinco euros por mês para quem
ganha o salário mínimo é dinheiro.
Os auxiliares de educação e da saúde, que
fazem todo o trabalho nas escolas e hospitais ganham o salário mínimo ou pouco
mais e pertencem aos sindicatos da Função Pública que são um albergue de
dezenas de profissões.Na Função Pública são os assistentes operacionais e até a
categoria e carreira de auxiliares lhe
retiraram.Em geral estes trabalhadores não têm formação profissional adequada
nem utilizam as horas para a mesma a que legalmente têm direito.
O Movimento Sindical tem aqui um grande
desafio: contribuir para que estes trabalhadores se tornem mais visíveis na
sociedade, melhorem as suas condições de trabalho, tenham uma carreira própria
e digna e valorização salarial justa.Lembram-se dos motoristas de matérias
perigosas?Claro que todos nos lembramos agora destes profissionais que podem
alterar as nossas vidas, parar os nossos carros, o comércio, a indústria e a agricultura!Eles tornaram-se visíveis a
partir do momento em que decidiram dizer BASTA!
Os próprios trabalhadores invisíveis também
terão que se esforçar mais para darem dignidade e sentido á sua profissão.Terão
que investir mais em formação e qualificação, terão que exigir mais dos
patrões, das direções das escolas e hospitais, bem como dos seus sindicatos.
Qualquer profissão é digna.No entanto, são os
respectivos profissionais o principal actor dessa dignidade.O sindicato é uma
arma fundamental para que a nossa profissão seja reconhecida socialmente.Em
determinados momentos temos que dizer colectivamente:ESTAMOS AQUI!SOMOS GENTE!