sábado, 23 de maio de 2020

TRABALHADORES INVISÍVEIS ,MAS ESSENCIAIS!


Será que a pandemia global que estamos a atravessar nos abriu os olhos para novas realidades, nomeadamente sobre a maneira como olhamos para determinadas classes profissionais que desempenham tarefas essenciais importantes na sociedade mas que se tornaram invisíeis, quase clandestinos desde sempre, porque têm valor reduzido no mercado?
Estamos a falar, por exemplo, dos milhares  de trabalhadores auxiliares de saúde e de educação,dos homens do lixo ou cantoneiros, dos trabalhadores agrícolas,  dos operários da construção, da limpeza, enfim centenas de milhar de trabalhadores , muitos dos quais produzem ou prestam serviços essenciais a toda a sociedade.
Os médicos, professores, bombeiros e enfermeiros revelaram-se nas televisões,fizeram-se públicos e merecidos agradecimentos aos mesmos.Mas os trabalhadores invisíveis continuaram invisíveis. Os auxiliares de saúde continuaram a ser as formiguinhas nos hospitais e centros de saúde, os auxiliares de educação ficaram confinados em casa, na sua maioria, mas sem qualquer programa, nomeadamente de formação e actualização.Agora na retoma das escolas eles e elas vão estar novamente expostos, sendo que, alguns e algumas, têm idades avançadas e vulnerabilidades crónicas.
Para além da invisibilidade estes trabalhadores têm em geral baixos salários e deficientes condições de trabalho.Mais grave ainda é que com a retoma da economia estes trabalhadores estão ainda mais expostos ao risco.
Acontece ainda que enquanto os médicos, enfermeiros e professores têm organizações sindicais fortes e reivindicativas os trabalhadores invisíveis e de baixos salários não possuem sindicatos fortes e são pouco sindicalizados.Uma quota sindical de cinco euros por mês para quem ganha o salário mínimo é dinheiro.
Os auxiliares de educação e da saúde, que fazem todo o trabalho nas escolas e hospitais ganham o salário mínimo ou pouco mais e pertencem aos sindicatos da Função Pública que são um albergue de dezenas de profissões.Na Função Pública são os assistentes operacionais e até a categoria  e carreira de auxiliares lhe retiraram.Em geral estes trabalhadores não têm formação profissional adequada nem utilizam as horas para a mesma a que legalmente  têm direito.
O Movimento Sindical tem aqui um grande desafio: contribuir para que estes trabalhadores se tornem mais visíveis na sociedade, melhorem as suas condições de trabalho, tenham uma carreira própria e digna e valorização salarial justa.Lembram-se dos motoristas de matérias perigosas?Claro que todos nos lembramos agora destes profissionais que podem alterar as nossas vidas, parar os nossos carros, o comércio, a indústria e  a agricultura!Eles tornaram-se visíveis a partir do momento em que decidiram dizer BASTA!
Os próprios trabalhadores invisíveis também terão que se esforçar mais para darem dignidade e sentido á sua profissão.Terão que investir mais em formação e qualificação, terão que exigir mais dos patrões, das direções das escolas e hospitais, bem como dos seus sindicatos.
Qualquer profissão é digna.No entanto, são os respectivos profissionais o principal actor dessa dignidade.O sindicato é uma arma fundamental para que a nossa profissão seja reconhecida socialmente.Em determinados momentos temos que dizer colectivamente:ESTAMOS AQUI!SOMOS GENTE!

sábado, 2 de maio de 2020

1º DE MAIO DE 2020 É INESQUECÍVEL PELOS PIORES MOTIVOS



Tal como o 1º de Maio de 1974 nunca será esquecido pelos melhores motivos, também o 1º de Maio de 2020 nunca será esquecido pelos piores motivos.Uma pandemia súbita alterou a nossa vida de forma bem radical.
Neste 1º de Maio duas posições mais vincadas no Movimento Sindical estiveram presentes aos olhos da sociedade:uma a da UGT que comemorou o Dia do Trabalhador pela internet e outra a da CGTP que num gesto de afirmação levou centenas de activistas sindicais para a rua no quadro das regras sanitárias acordadas com as autoridades.Embora não inteiramente consensual no interior da histórica Central Sindical, foi a posição dos sindicalistas comunistas que prevaleceu e que organizou todo o cenário.
Embora compreenda esta posição de afirmação sindical também entendo as reticencias de outros sindicalistas que queriam uma comemoração mais simbólica, com poucas pessoas expostas em pleno quadro de confinamento e de estado de emergência.É dar algumas armas aos empresários quando os trabalhadores exigirem confinamento e medidas de proteção?´É possíve!Foi uma ação contraditória com o que se exige a outros portugueses?Foi.Todavia, no plano do significado  foi semelhante ao que se passou nas comemorações do 25 de Abril.O 1º de Maio tem para os trabalhadores e para o Movimento Sindical um significado histórico e reivindicativo mais abrangente que o próprio 25 de Abril.
Claro que alguns cronistas que defendem as posições empresariais aproveitaram a ocasião para mais uma vez identificarem a ação da CGTP com as estratégias do PCP.E diga-se em abono da verdade que a Central nos últimos tempos tudo faz para que essa identificação seja cada vez maior.Este 1º de Maio, com as entrevistas a Jerónimo de Sousa, como único líder partidário presente, mais vincaram aos olhos dos portugueses essa identificação.
Históricamente a direita em Portugal sempre identificou toda a oposição com os comunistas.Existiam outras forças progressistas como socialistas, católicos, anarquistas,revolucionários de várias cores e tendências, mas para o regime tudo era comunista.Tal identificação era boa para o regime porque lhe permitia tratar duramente todo o opositor e era boa para clandestino PCP que aparecia como a única força de oposição, a única referência e medida.
Sobre a CGTP a direita faz algo semelhante.Ao identificar a CGTP com o PCP retira desta potenciais trabalhadores e activistas sindicais, empobrece o movimento sindical português, coloca um carimbo a todo o sindicalista.Mas, por vezes, parece que esta identificação não desgrada ao PCP.Por uma questão eleitoral, óbviamente, não por uma questão sindical.
O que fez grande a CGTP foi a unidade na pluralidade
Se olharmos para a História Sindical no nosso País veremos que o que fez grande a CGTP foi a unidade de várias correntes numa estratégia de aceitação da pluralidade procurando-se o consenso como método de decisão, óbviamente tendo em conta a relação de forças e a militancia sindical.
Em determinado momento, precisamente quando a CGTP estava no seu máximo, apesar das duras lutas contra as políticas da AD, alguns sindicalistas comunistas recearam perder o controlo da Central.Foi nos tempos de grande sindicalistas  como Luis Judas, Florival Lança, Maria Emília Reis, Kalidás Barreto, entre outros.
Na dinâmica social também é verdade que hoje, tanto na corrente comunista como nas outras correntes, até mais nestas, existem grandes dificuldades  de atrair militantes para a ação sindical.Existem dirigentes profundamente empenhados, com prejuízo das suas vidas pessoais.Todavia, o mundo mudou muito, os problemas no trabalho aumentaram, diminuiram os sindicalizados e centralizaram-se as estruturas sindicais.O objectivo central é hoje  manter a estrutura e o discurso repetitivo e autojustificativo.
A formação sindical e política dos sindicalistas modernizou-se na forma mas pouco nos conteúdos .Temos activistas que não fazem fronteiras entre o partido e o sindicato e ate´ficam desconfiados se, por acaso, aparece um trabalhador que, sendo activista, não é partidário.Convocam-se hoje os activistas para uma ação sindical e amanhã o mesmo dirigente convoca os mesmos para uma ação eleitoral do partido.No entanto,   em plena manifestação gritam há décadas «unidade sindical»!
Esta não transparência e promiscuidade não ajuda ao recrutamento de novos trabalhadores e ao alargamento da base sindical.Poderemos ter  um sindicato  pequeno mas coeso e útil para a pressão política, mas não teremos um sindicato que seja a casa de todos os trabalhadores da profissão ou classe.
Nas comemorações dos 50 anos da CGTP seria bom que, para além da festa e do discurso mobilizador, houvesse debate e reflexão sobre os caminhos da unidade e da renovação, de como fazer da CGTP ainda uma maior Central sindical , travando o seu continuado emagrecimento que nenhuma campanha de sindicalização ocultará!