sábado, 2 de maio de 2020

1º DE MAIO DE 2020 É INESQUECÍVEL PELOS PIORES MOTIVOS



Tal como o 1º de Maio de 1974 nunca será esquecido pelos melhores motivos, também o 1º de Maio de 2020 nunca será esquecido pelos piores motivos.Uma pandemia súbita alterou a nossa vida de forma bem radical.
Neste 1º de Maio duas posições mais vincadas no Movimento Sindical estiveram presentes aos olhos da sociedade:uma a da UGT que comemorou o Dia do Trabalhador pela internet e outra a da CGTP que num gesto de afirmação levou centenas de activistas sindicais para a rua no quadro das regras sanitárias acordadas com as autoridades.Embora não inteiramente consensual no interior da histórica Central Sindical, foi a posição dos sindicalistas comunistas que prevaleceu e que organizou todo o cenário.
Embora compreenda esta posição de afirmação sindical também entendo as reticencias de outros sindicalistas que queriam uma comemoração mais simbólica, com poucas pessoas expostas em pleno quadro de confinamento e de estado de emergência.É dar algumas armas aos empresários quando os trabalhadores exigirem confinamento e medidas de proteção?´É possíve!Foi uma ação contraditória com o que se exige a outros portugueses?Foi.Todavia, no plano do significado  foi semelhante ao que se passou nas comemorações do 25 de Abril.O 1º de Maio tem para os trabalhadores e para o Movimento Sindical um significado histórico e reivindicativo mais abrangente que o próprio 25 de Abril.
Claro que alguns cronistas que defendem as posições empresariais aproveitaram a ocasião para mais uma vez identificarem a ação da CGTP com as estratégias do PCP.E diga-se em abono da verdade que a Central nos últimos tempos tudo faz para que essa identificação seja cada vez maior.Este 1º de Maio, com as entrevistas a Jerónimo de Sousa, como único líder partidário presente, mais vincaram aos olhos dos portugueses essa identificação.
Históricamente a direita em Portugal sempre identificou toda a oposição com os comunistas.Existiam outras forças progressistas como socialistas, católicos, anarquistas,revolucionários de várias cores e tendências, mas para o regime tudo era comunista.Tal identificação era boa para o regime porque lhe permitia tratar duramente todo o opositor e era boa para clandestino PCP que aparecia como a única força de oposição, a única referência e medida.
Sobre a CGTP a direita faz algo semelhante.Ao identificar a CGTP com o PCP retira desta potenciais trabalhadores e activistas sindicais, empobrece o movimento sindical português, coloca um carimbo a todo o sindicalista.Mas, por vezes, parece que esta identificação não desgrada ao PCP.Por uma questão eleitoral, óbviamente, não por uma questão sindical.
O que fez grande a CGTP foi a unidade na pluralidade
Se olharmos para a História Sindical no nosso País veremos que o que fez grande a CGTP foi a unidade de várias correntes numa estratégia de aceitação da pluralidade procurando-se o consenso como método de decisão, óbviamente tendo em conta a relação de forças e a militancia sindical.
Em determinado momento, precisamente quando a CGTP estava no seu máximo, apesar das duras lutas contra as políticas da AD, alguns sindicalistas comunistas recearam perder o controlo da Central.Foi nos tempos de grande sindicalistas  como Luis Judas, Florival Lança, Maria Emília Reis, Kalidás Barreto, entre outros.
Na dinâmica social também é verdade que hoje, tanto na corrente comunista como nas outras correntes, até mais nestas, existem grandes dificuldades  de atrair militantes para a ação sindical.Existem dirigentes profundamente empenhados, com prejuízo das suas vidas pessoais.Todavia, o mundo mudou muito, os problemas no trabalho aumentaram, diminuiram os sindicalizados e centralizaram-se as estruturas sindicais.O objectivo central é hoje  manter a estrutura e o discurso repetitivo e autojustificativo.
A formação sindical e política dos sindicalistas modernizou-se na forma mas pouco nos conteúdos .Temos activistas que não fazem fronteiras entre o partido e o sindicato e ate´ficam desconfiados se, por acaso, aparece um trabalhador que, sendo activista, não é partidário.Convocam-se hoje os activistas para uma ação sindical e amanhã o mesmo dirigente convoca os mesmos para uma ação eleitoral do partido.No entanto,   em plena manifestação gritam há décadas «unidade sindical»!
Esta não transparência e promiscuidade não ajuda ao recrutamento de novos trabalhadores e ao alargamento da base sindical.Poderemos ter  um sindicato  pequeno mas coeso e útil para a pressão política, mas não teremos um sindicato que seja a casa de todos os trabalhadores da profissão ou classe.
Nas comemorações dos 50 anos da CGTP seria bom que, para além da festa e do discurso mobilizador, houvesse debate e reflexão sobre os caminhos da unidade e da renovação, de como fazer da CGTP ainda uma maior Central sindical , travando o seu continuado emagrecimento que nenhuma campanha de sindicalização ocultará!

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