terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

PARA QUE SERVEM AS GREVES!

 Frequentemente encontramos trabalhadores que ou nunca fizeram greve ou deixaram de participar nesta
ação sindical!Quando questionados desabafam:«para que servem as greves?pouco ou nada muda!»
Não são raros os trabalhadores que aderem a uma greve para ficar em casa, para descansar.É uma folga, embora cara para quem um magro salário!Estes trabalhadores quando solicitados para participarem numa manifestação laboral ao sábado já não participam, arranjam várias desculpas ,em geral com afazeres domésticos, no caso das mulheres!
 Historicamente a greve foi sempre uma arma do movimento sindical em todo o mundo.Um sindicato que diga que não recorre à greve é automaticamente um sindicato sem credibilidade, olhado com desconfiança quer pelos trabalhadores quer pelas instituições democráticas!Embora não reconhecida como um direito pelas entidades patronais, nomeadamente na OIT, a greve é considerada um direito fundamental dos trabalhadores pela Carta Social Europeia, bem como mais tarde pela Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais, pilar essencial da dimensão social da União Europeia.A nossa Constituição proibe a greve patronal, parte mais forte da relação laboral, e reconhece o direito à greve dos trabalhadores e suas organizações de classe.
Todavia, a greve é a principal arma dos trabalhadores em democracia e tem várias virtualidades.É um instrumento que pode ser utilizado por solidariedade para com causas ou lutas de outros trabalhadores,para obrigar a entidade patronal a negociar, em caso de impasse nas negociações,e para se alcançarem objetivos e conquistas ao nível das condições de trabalho, repor direitos sonegados na prática pela empresa, valorização salarial e regalias estabelecidas ou a estabelecer nos acordos e convenções.Cada conflito, cada processo, exige uma análise concreta da situação concreta e a organização sindical fará essa análise, essa avaliação, no momento apropriado.
Em Portugal, e não só, vários obstáculos se colocam hoje ao êxito de uma greve.Temos obstáculos relacionados com as mudanças ocorridas no trabalho  como a destruição dos grandes coletivos operários, a individualização e fragmentação das relações laborais e, em particular a precarização e flexibilização de horários e funções, a mobilidade geográfica e uma gestão crescentemente hostil à organização sindical, inclusive nos serviços públicos!
Temos depois obstáculos, ou melhor dito, problemas relacionados com a organização sindical como seja a diminuição da representação sindical em algumas classes profissionais, nomeadamente em alguns setores operários, a dificuldade de implantação sindical nos serviços e nos jovens trabalhadores,a dificuldade em fazer a rotação de delegados e dirigentes sindicais,a identificação destes com as opções políticas partidárias.
Depois temos os problemas relacionados com a ação sindical nos locais de trabalho, a tática e estratégia sindical a nível das organizações sindicais.
Perante as dificuldades referidas e até o cansaço da estrutura sindical, após décadas de lutas sociais, o desgaste humano e financeiro que isso acarretou ás organizações de trabalhadores o movimento sindical tem vindo a a ficar de «pele e  osso».O que quero dizer com esta expressão tão pouco sindical?
Relativamente à UGT, na sua linha ultra reformista,o que se vê é uma organização burocrática, raramente vista nos locais de trabalho, privilegiando a negociação,procurando evitar o mal menor, capitulando em momentos fundamentais como os dos anos da Troika.Os seus dirigentes procuram antes de mais ser «parceiros» do Estado e «ouvidos» pelos patrões!Isso basta-lhe!
Quanto à CGTP, a única que ainda aparece em alguns locais de trabalho,vai funcionado na base dos seus milhares de delegados e dirigentes que alimentam as greves e as manifestações.Por enquanto!
A maioria das greves não conseguem os seus objetivos.Todavia, as greves são tratadas como momentos de agitação e de arvorar bandeiras e palavras de ordem , em geral identificadas partidariamente, perante os meios de comunicação que agora vão a todas!!Se na primeira greve nada se conseguiu volta-se à carga com uma segunda ou terceira! Por isso cada vez temos menos trabalhadores a fazerem greve e a manifestarem-se!Por isso temos cada vez mais trabalhadores que perguntam: para que servem as greves?
Ora, é natural que uma parte dos dirigentes sindicais não concorde comigo!Para eles no sindicato e noutros locais as coisas são feitas com os iluminados, os conscientes, a vanguarda que mostra o caminho.Outros dirigentes sabem bem do que estou a falar.Da desmobilização entre os companheiros, da descrença ou comodismo, agora que está a «geringonça»tudo virá lá de cima sem luta!Dos trabalhadores com pequeno salário que se questionam se valerá a pena pagar a quota sindical.Dos jovens trabalhadores que ignoram o acordo de empresa ou nem ouviram falar nele!
Creio que estes anos de maior acalmia não serviram para uma reflexão séria sobre o que se passa nas organizações sindicais.Será necessário fazer essa reflexão e preparar as organizações para os próximos tempos!O neoliberalismo não está derrotado nem política nem ideologicamente.Os sindicatos são organizações de massas, não é?Então basta ser trabalhador e pagar a quota sindical.Logo devem ser tratados como organizações de massas.Os ativistas sindicais não podem esquecer esta realidade tão simples.O sindicato e a greve têm que ser úteis e trazer ganhos aos trabalhadores!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

OS JOVENS E A SAÚDE NO TRABALHO!

A Organização Internacional do Trabalho ( OIT) promove este ano uma campanha convergente entre o Dia
Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil!A dita Campanha procura sensibilizar a opinião pública mundial e nacional para a necessidade de acabar com todas as formas de trabalho infantil , melhorando a segurança e saúde dos jovens trabalhadores.Vulneráveis os jovens trabalhadores até 24 anos sofrem mais 40% de acidentes do que os trabalhadores adultos maiores de 24 anos.
O problema é que sensibilizar é importante mas também é necessário melhorar a legislação laboral e a inspeção das condições de trabalho.Tarefas que são da responsabilidade do Estado.
O Estado tem que criar as condições para que as empresas produzam e dinamizem a economia certamente.Mas nunca na base da exploração de falsos estágios , de trabalho gratuito e mal pago, de contratos precários sucessivamente renovados, gerando nos jovens trabalhadores a vontade de trabalhar no estrangeiro e de nunca vestir a camisola de nenhuma empresa.Roubando a esperança numa vida estável profissionalmente e geograficamente, em constante mobilidade e precariedade no trabalho, no namoro e na vida toda!
Os jovens não podem ser «pau para toda a colher»!Devem ganhar defesas no chamado mercado de trabalho.Alguns pensam que lhes basta as competências académicas e julgam não precisar de sindicatos e da contratação coletiva!Julgam-se auto-suficientes e vão negociando o seu trabalho!Ilusão!Na maioria dos casos irão verificar que é um erro tal prosápia!Ninguém é auto-suficiente neste mundo.Todos precisamos uns dos outros e nada melhor que nos organizarmos coletivamente para nos defendermos coletivamente.A nossa classe profissional ganha se agirmos de forma organizada.Sejamos pilotos,informáticos, professores, engenheiros ou médicos ou pedreiros o principio é o mesmo: organizados conseguimos mais vantagens para todos do que sozinhos!A melhor organização ainda é o sindicato profissional!Filiem-se nos sindicatos e participem ativamente nos mesmos!
As juventudes partidárias andam a fazer o quê?Recebem dinheiro do Estado para fazer o quê?Para aprenderem a serem políticos sectários como os adultos?Onde estão estas juventudes nestas campanhas da OIT?Para que servem estas juventudes?

domingo, 18 de fevereiro de 2018

OS TRABALHADORES E OS PARTIDOS DA DIREITA

Nunca como desta vez estive tão atento a um congresso do PSD!Ouvi atentamente o discurso do presidente cessante, Pedro Passos Coelho, os dois discursos do novo líder, Rui Rio, e pelo meio umas tantas intervenções de figuras importantes do partido.Em nenhuma delas os trabalhadores e suas organizações foram alguma vez referidas e muito menos estimadas ou valorizadas.Pelo contrário,percebi algumas vezes referências a «interesses corporativos» o que, porventura, seriam referências a reivindicações de alguns setores profissionais.
Como é possível que um partido, que se intitula de social democrata, embora sendo mais liberal e conservador,possa ignorar quem contribui de forma tão decisiva para o tal crescimento da economia?Apenas uma vez o líder agora eleito falou de «modelo de baixos salários» que não pode continuar na sua opinião.Mas nunca se dirigiu aos empresários para que mudassem esse paradigma.
Seria interessante saber as razões desta incapacidade de se ter um discurso sobre o trabalho e os trabalhadores mesmo que na sua perspectiva.Um partido inter-classista que tem inclusive uma organização chamada «Tendência Social Democráta de Trabalhadores» com a sigla TSD.Organização que fez saber não ficar nada satisfeita com a constituição da lista de Rui Rio!
Efetivamente, após um  período revolucionário traumático em que foram obrigados a dizerem-se socialistas e a verem o espaço da internacional socialista ocupado pelo PS, o Partido de Sá carneiro virou liberal-conservador e está agora ,com as novas gerações, a ser conquistado por uma direita económica reacionária que não quer nada de social democracia nem qualquer cheiro a fato de macaco!Para esta direita  o que existe são os interesses económicos e financeiros e os trabalhadores não são pessoas, mas sim factores de produção, descartáveis sempre que possível ,em particular os mais velhos, os que falam em sindicatos e direitos laborais!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

UM ESTATUTO PARA O CUIDADOR INFORMAL!

No Parlamento tem sido debatido, a partir de vários projetos partidários, o eventual estatuto do cuidador
informal de pessoas idosas acamadas ou não, de doentes terminais ou com doenças crónicas.Frequentemente este cuidador é um familiar, em geral uma filha, sobrinha ou neta.Ou seja, ainda são as mulheres que mais cuidam dos seus descentes ou ascendentes.Por toda  a Europa a população envelhece e a longevidade não significa qualidade de vida.Os serviços públicos sociais são, em muitos países, deficientes e não fazem uma cobertura a todas as situações decorrentes do envelhecimento e da doença.As políticas de austeridade ferem os trabalhadores e rurais pobres e, em particular, os idosos pobres.
Dos diplomas apresentados, nomeadamente do PS, Bloco e PCP, uns mais do que outros, todos colocam algumas questões importantes a regular, com destaque para o descanso e apoio psicossocial do cuidador,formação,flexibilidade e diminuição das horas do trabalho sem diminuição do rendimento.
Considero, porém, que a questão do descanso e do trabalho/emprego do cuidador são as questões mais sensíveis de toda a situação.As duas situações estão interligadas e o apoio psicológico, embora importante será inútil se estas não forem resolvidas!A situação do cuidador é, por vezes, tão dramática que não é compatível com um emprego que seja satisfatório para o trabalhador e para a empresa.A situação de cuidador familiar é a este nível ainda mais complexa.
Parece-me ,assim, que a questão do emprego, ou melhor, dos rendimentos do cuidador, deve ser bem equacionada através de mecanismos de apoio à pessoa cuidada que revertam, mesmo que indiretamente, para o cuidador ou estabelecendo um subsídio próprio ao cuidador desempregado, ou que não tenha sido capaz de compatibilizar o seu emprego com o trabalho de cuidar.
Não me parece que as empresas paguem o mesmo salário a uma pessoa que falta frequentemente por causa da pessoa a cuidar ou tenha um horário reduzido.Terá que ser o Estado a fazer esta justiça.O cuidador está  a fazer um trabalho social ,em geral, competente e barato para a sociedade.
Relativamente ao descanso o estatuto também deve ser claro em definir onde e como pode o cuidador descansar, sabendo que a pessoa cuidada vai ficar em boas mãos durante aquele tempo definido, nunca menos de 22 dias úteis por ano.Esta situação traz encargos para os serviços de saúde e da segurança social.Mas feitas as contas o Estado poupa dinheiro.Agora, com a atual situação o que estamos a fazer é produzir mais doentes de todo o tipo.
No atual quadro de não apoio sustentado o cuidador corre importantes riscos para a sua saúde.Riscos ergonómicos (de caráter músculo esquelético) psicossociais ( a maioria vive com depressões) que comportam todo o tipo de doenças da área digestiva e cardíaca.Alguns são pessoas sem saúde, sem auto estima, sem esperança e sem uma vida afetiva  que os compense de tantas agruras!
Os senhores deputados avancem com este estatuto mas façam-no bem!

domingo, 11 de fevereiro de 2018

AINDA A AUTOEUROPA , A LUTA SINDICAL E A IDEOLOGIA!

Pelas últimas declarações do Secretário Geral da UGT, Carlos Silva, deduzo que esta Central sindical mudou de orientação relativamente ao conflito na Autoeuropa.Em vez das diatribes contra os sindicatos da CGTP  e comissão de trabalhadores decidiu ir à luta procurando ter um outro papel no processo.Assim, procura que o frágil sindicato da UGT do setor automóvel faça propostas à administração por um lado, e, por outro, tenta envolver o sindicato alemão para reforçar as suas posições.Ou seja, como as forças internas são fracas procura-se um reforço internacional e acordos de bastidores.Destino da UGT que foi sempre um engenho criado por forças partidárias internas (PS e PSD) e internacionais.
Não me parece que estas novas táticas resultem porque o que se passa na empresa Autoeuropa é complexo ,sendo um dos locais de trabalho onde os trabalhadores têm mais capacidade de avaliação das situações que os envolvem.É, aliás, um local muito especial onde os sectarismos e eventuais golpes  serão castigados pelos próprios trabalhadores.Para que os trabalhadores reforcem a confiança nas lideranças terá que existir mérito destas.
Vamos ver como decorre este processo muito interessante e que, julgo, é seguido por muita gente, nomeadamente alguns estudiosos.Um dos aspetos mais interessantes é perceber porque tanta gente está contra os trabalhadores da Autoeuropa e respetivas reivindicações.Inveja?A ideologia e manipulação do conhecimento têm aqui muita força.A estudar!

sábado, 3 de fevereiro de 2018

A DEMOCRACIA, OS TRABALHADORES E OS PODERES OCULTOS!!

Os últimos acontecimentos ocorridos em Portugal, nomeadamente na área da justiça, levam-nos a pensar que existem poderes que mandam mais do que o poder legitimamente eleito pelos portugueses.Há até quem diga que os deputados são os quem menos poder têm no nosso país.Há quem diga que as sociedades democráticas de matriz liberal se estão a esvaziar e a descredibilizar na medida em que aumentou o poder financeiro, das multinacionais, dos grupos privados de comunicação social,das máfias e de poderes ocultos que corrompem políticos e outros membros influentes da sociedade como juízes transformando-os em marionetes.Nas  chamadas elites existe uma acentuada promiscuidade entre os poderes financeiros e políticos, branqueamento de capitais e colocação destes em offshores,enfim, um comportamento de impunidade que ameaça o chamado estado de direito.
Uma das instituições que os poderes financeiros e mafiosos procuram destruir são os sindicatos, em particular os sindicatos reivindicativos e que mobilizam os trabalhadores para a luta social.E Porquê?Porque os sindicatos são um dos principais baluartes de uma sociedade democrática na medida em que com as suas lutas e reivindicações combatem a pobreza e promovem a distribuição da riqueza.São um poder que se opõe à concentração da riqueza e do poder em poucas mãos.Nesta linha é fundamental que os trabalhadores reforcem as suas organizações e participem nas mesmas de forma crescente.Os sindicatos e a Igreja ainda são as instituições que merecem mais credibilidade nas nossas sociedades. Não podemos defraudar as pessoas, em particular os trabalhadores.Por outro lado há que desmascarar e combater todos os que pretendem atacar as organizações de trabalhadores!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

OS TESTES DA VOLKSWAGEN E COMPANHIA ILIMITADA!

Mais uma vez a Volkswagen está metida em escândalos de enorme dimensão ética que mostra  o tipo de gente que atualmente governa as grandes multinacionais, mesmo as mais credenciadas!Agora esta empresa juntamente com Daimler,a BMW e a BOSCH aparecem no chamado caso do «Monkekygate» ou seja num caso sórdido de experiências com macacos e humanos.O Grupo europeu de investigação sobre o ambiente e a saúde no setor do transporte (EUGT) organismo financiado pela Volkswagen e pelas restantes empresas referidas realizaram testes em macacos e humanos para medir os efeitos dos óxidos de azoto (NO2) nomeadamente do dióxido de azoto, gás muito tóxico emitido pelos veículos a diesel.
O estudo do EUGT sobre macacos tinha como fim provar que os veículos diesel de tecnologia recente são melhores que os velhos modelos.No teste encerraram dez macacos durante quatro horas a respirar o dito gás.Para evitar o enjoo ficaram instalados a ver desenhos animados.A experiência foi levada a cabo num laboratório de Albuquerque ,Novo México em 2014, segundo a imprensa americana.Dois anos antes a Organização Mundial de saúde tinha classificado o diesel como cancerígeno!Mais tarde a empresa assumiria as culpas dizendo que o método científico escolhido era errado.Um membro do governo alemão considerou o caso como imundo e absurdo.
Mais recentemente, no passado mês de janeiro, um jornal alemão revelou que as experiências conduzidas pelo EUGT tinham abrangido também seres humanos.Com efeito,entre 2012 e 2015 vinte cinco jovens adultos de boa saúde foram feitos cobaias.Desta vez o teste foi feito no hospital universitário d,Aix-la- Chapelle. Uma vez por semana estes jovens ficavam expostos a concentrações para lá dos limites de NO2 durante três horas num quarto de 40 metros quadrados.Em cada sessão deveriam ter um momento a pedalar uma bicicleta de apartamento.:O grupo Daimler veio posteriormente a condenar o estudo.Mais tarde o EUGT afirma que estes últimos testes tinham como objetivo avaliar os efeitos da exposição de NO2 no local de trabalho.
Entretanto, e segundo o jornal  LE MONDE, outro estudo publicado em em maio de 2017 na revista Nature estimava em 38.000 o número de mortos prematuros no mundo,em 2015, causados pelo excesso de óxidos de azoto do «dieselgate».
Existem estudos da Organização Mundial de Saúde que indicam que o dióxido de azoto, um dos principais poluentes da atmosfera, não é bom para os nossos pulmões e ataca em particular as pessoas mais vulneráveis como crianças e pessoas asmáticas.