Com os acordos dos Açores, que abrangem um partido da extrema direita, e com o acentuar das dificuldades
pandémicas tem crescido em mediatismo mais rápidamente do que se julgava a voz e portavozes da extrema direita em Portugal.A mando dos donos e ávidos de novidades, de intrigas e de excentricidades os «media» acabam por lhes insuflar vida e protagonismo e ajudá-los no seu caminho demagógico rumo ao poder ou á partilha do mesmo com a direita com menos pergaminhos democráticos. A actual situação económica e social é , de facto, propícia ao discurso populista das lideranças da extrema direita e dos fascistas.As dificuldades económicas de alguns sectores de trabalhadores mais pobres, o desemprego galopante e airritação de alguns sectores da pequena burguesia ,como pequenos comerciantes, trabalhadores independentes , proprietários agrícolas e do imobiliário podem proporcionar a adesão às teses dos direitistas e levar largos sectores da população a aderirem ao projecto autoritário financiado pelo capital mais reacionário do País.
Todavia,
teremos que dizer que a pandemia apenas acentuou e intensificou uma tendência
que já se verificava na sociedade portuguesa, nomeadamente nas redes sociais e
em algumas manifestações sectoriais, e que emergiu eleitoralmente com o
aparecimento do Chega.
Esta
tendencia mostra que sectores sociais significativos se radicalizaram e se
viraram contra o «sistema» , ou seja, contra as governações do nosso sistema
democrático.Cabe então perguntar quais as razões subjacentes a esta
viragem, este descontentamento de
sectores que porventura se abstinham eleitoralmente ou votavam PSD/CDS ou até
na esquerda.As respostas virão a prazo com estudos sociológicos fundamentados.
Dois milhões de portugueses continuam pobres
Entretanto
podemos avançar com hipóteses de trabalho que poderão ser ou não confirmadas
mais tarde:
1.O nosso regime constitucional de democracia liberal com forte dimensão económica-social foi sendo desvirtuado ao longos das décadas.Não apenas com sucessivas revisões da Constituição mas principalmente pelas políticas dos dois maiores partidos que foram governando o País.
Com
efeito passado 46 anos de democracia continuamos com cerca de dois milhões de
portugueses no limiar da pobreza.Apesar do Euro, os salários da maioria dos
trabalhadores mantiveram-se estagnados há cerca de vinte anos. No funcionalismo
público técnico ganha-se menos agora do que em 2010 graças á carga fiscal
actual e á falta de aumentos anuais. Entre 10 e 12% por cento dos trabalhadores
trabalham como burros e não conseguem um rendimento digno.As crises económico
financeiras ,entretanto, foram ainda tornando esta realidade mais crua.Aos
pensionistas pobres , até aos miseráveis 600 euros, fazem-se contas complexas
para lhes dar mais 10 euros por mês!
Todavia,
os salários de gestores e dos quadros de algumas profissões aumentaram substancilamente, alguns mesmo de forma pornográfica
como os banqueiros e gestores das empresas da Bolsa.Os portugueses fartam-se de
ouvir e ler notícias sobre os grandes salários de alguns administradores e de
estudos a dizerem que as desigualdades estão a aumentar e que os ricos estão
mais ricos.
Quer
queiramos quer não o regime saído do 25 de Abril não conseguiu resolver o
problema de instituir uma sociedade inclusiva
e coesa.Uma larga percentagem da população vive encostada ao assistencialismo,
muitos deles sem uma habitação e emprego
dignos!Não há futuro nem horizontes para muitos portugueses!
Um
Estado forte com os fracos e fraco com os fortes
2.Mas
será que conseguiu instituir uma justiça equitativa, onde fosse feita justiça independentemente dos
recursos de cada um?Não!A justiça é precisamente um dos pontos mais frágeis deste
regime democrático.O Estado é claramente forte com os fracos e fraco com os
fortes.Apesar de vários casos de corrupção e de falcatroas monumentais que
levaram á falência de bancos e grupos poderosos envolvendo políticos,
banqueiros e empresários a justiça não faz justiça.Ninguém desses magnatas está
preso!Os portugueses fartam-se de ouvir e ler notícias de que a Polícia
Judiciária faz buscas, poderá prender este e aquele, o Ministério Público
trabalha árduamente.Resultados?Nada!Todos eles têm excelentes advogados pagos a
peso de ouro.
Entretanto,
se um pobre marginal roubar um telemóvel ou comida no supermercado pode ir para
a prisão durante anos,bastando já ter uma folha pouco abonatória!
3.Mas
será que o regime conseguiu instituir uma governação amada pelo povo ou por uma
larga maioria da população?Cada vez menos.Mesmo os que votam neste ou naquele
partido quase que o fazem por inércia ou pelo tal «dever cívico».A abstenção é
enorme, mais de 50% e tende a subir!Fala-se num fosso cada vez maior entre
governados e governantes, nos privilégios dos políticos!Numa reforma que nunca
se faz, na afirmação de que em democracia o que conta são os votos que entram
na urna!E fica-se descansado!
Nestes
três pontos estão as principais razões da descrença, do afastamento e revolta
de largos sectores de portugueses.A extrema direita sabe que o regime já não
tem forças para se resgatar, para dar a
volta.Os partidos políticos á esquerda e á direita estão de certo modo
esgotados, cansados,sem ideais.O que conta é o poder, as benesses que o mesmo
pode proprocionar.Uns estão na defensiva , com medo, outros aproveitam enquanto
podem.Mas não se vislumbra um rasgo, uma ofensiva concertada dos partidos menos
instalados e menos comprometidos com os interesses económicos.
Cada
um vive na sua capelinha, alguns com as direções em contra mão com as suas
bases.Como exegetas e teólogos conventuais vivem dias e semanas a fio a
negociar artigo a artigo um orçamento que pode morrer passados alguns meses.Mas
não gastam uma manhã a questionarem-se e a pensarem na merda em que isto está e
como erguer um futuro mais autónomo,com prioridades sociais e económicas
assumidas e negociadas com um compromisso para uma legislatura para se fazerem
políticas sustentáveis doa a quem doer, sem medo do patronato e da finança,
valorizando quem trabalha e quem levanta este país.