quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SINDICATOS FAZEM FALTA!

Leia artigo de Sâo José Almeida , uma das jornalistas mais lúcidas do «Público».Os sindicatos, em particular a contratação colectiva, são actores e instrumento essenciais para combater as desigualdades e a pobreza!

Daí que as revisões da legislação laboral e as políticas da flexibilidade laboral procuram retirar força aos sindicatos e desvalorizar a contratação colectiva, promovendo o contrato individual de trabalho e o contrato precário!Ver

A CRISE AFECTA A SAÚDE DOS TRABALHADORES?

Já em 2008 se colocava esta questão em vários seminários e outros eventos internacionais, nomeadamente no âmbito da OIT. Esta Organização internacional lançou inclusive vários alertas para esta questão sugerindo medidas e apelando às empresas para investirem na promoção da segurança e saúde dos trabalhadores apesar da crise e contra a mesma.
Ora, a questão não é fácil. Se em plena normalidade as empresas não estavam a fazer grandes investimentos neste domínio é obvio que na actual situação de dificuldades, e até de recessão, muito menos vão investir!
As orientações da política económica vão para a redução de pessoal, para a flexibilização do vínculo, para a redução da taxa social e para tudo o que seja embaratecimento dos custos do trabalho. As questões de segurança e saúde no trabalho raramente estão no domínio público e quando muito nos últimos tempos merecem breves referências nas reuniões da concertação social.

A subida astronómica do desemprego nos últimos anos cria um quadro de desvalorização do trabalho e do trabalhador pouco propício ao investimento no mesmo, na óptica do empresário.

Por outro lado a nossa cultura dominante ainda considera «normal» e intrínseco ao trabalho a existência de riscos e sofrimento! Questão complexa esta que tem a ver com as nossas referencias bíblicas (ganhar o pão com o suor do rosto), com estratégias de defesa perante a penosidade e o sofrimento do trabalho, em particular com o sofrimento psíquico.Daí que o assédio, a pressão e a violencia sejam por vezes aceites sem contestação.Isto para alem do medo do despedimento!

O que acabo de referir em traços gerais não apaga o muito que se tem realizado nestas matérias nas últimas décadas, tanto no domínio legislativo como informativo, formativo e de sensibilização dos actores do mundo do trabalho e da opinião pública. A formação de milhares de técnicos de higiene e segurança nos últimos vinte anos é um dos sinais mais positivos a realçar. Em tempo de crise, porém, a tendência é para encolher os investimentos, em particular se os mesmos não são reprodutivos de imediato.

A crise económica e social vem assim reforçar os aspectos mais negativos existentes nas práticas das empresas, ou seja, se tiver que ser cumpriremos a lei, enviamos os papéis, preenchemos os formulários. Mas os investimentos num bom serviço de segurança e saúde ficam adiados. Quando muito procura-se no mercado uma empresa que preste barato o «serviço» de saúde.

A crise económica afecta também a própria administração do Estado que fica sem recursos para investir na fiscalização, informação e formação em saúde e segurança do trabalho. Os orçamentos terão «cortes historicos», particularmente em tudo que tem uma dimensão económico- social.

Pese o quadro geral ser sombrio penso que o Estado poderia, com os Parceiros Sociais, elaborar um plano específico para a promoção da saúde e segurança do trabalho tendo em conta a crise e por causa da mesma. Cinco medidas apenas que não estão no memorando da troica:


1.    Promover as boas práticas no domínio da segurança e saúde dos trabalhadores em todos os serviços do Estado e autarquias. Premiar os serviços públicos que se empenhem na melhoria das condições de trabalho e no bem estar dos seus trabalhadores. Com trabalhadores satisfeitos teremos melhores serviços. Esta questão está prevista na Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho.Esta acção será mais produtiva do que enviar os trabalhadores para a mobilidade!
2. Potenciar os serviços da ACT, ultimamente reforçados, para impedir as práticas ilegais de trabalho, nomeadamente o trabalho clandestino, escravo e falsos recibos verdes. Uma inspecção do trabalho atenta e eficaz é sempre importante, particularmente em tempos de crise.Valorizar a inspecção do trabalho!A Autoridade para as Condições de Trabalho e a Direcção Geral de Saúde deveriam implementar este plano de crise em articulação com os planos de acção de cada uma destas instituições e com a participação e dos Parceiros Sociais.

3. Premiar as empresas que invistam em serviços de segurança e saúde no trabalho. Há diversas formas de o fazer sem custos exagerados.Seria uma contrapartida para a descida da taxa social única!

4. Resolver a questão das doenças profissionais no nosso País. A subnotificação e a incapacidade estatística é de tal ordem que ninguém sabe ao certo nada sobre esta questão. Para os médicos portugueses quase que não existem doenças profissionais!Entretanto a depressão cresce....

5. Realizar o Inquérito Nacional às Condições de Trabalho também um dos objectivos emblemáticos da Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho. É urgente saber com bases estatística o que se passa no mundo do trabalho de Portugal.

A Autoridade para as Condições do Trabalho e a Direcção Geral de Saúde deveriam implementar este  plano de crise em articulação com os seus planos de actividades e com a participação dos Parceiros Sociais.

Lembro que algumas destas questões são crónicas por nunca se resolverem adequadamente. Algumas como as questões das estatísticas dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais já eram objectivos a alcançar em 1977 pelo Ministerio do Trabalho.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

INDUSTRIA TÊXTIL.existência de riscos associados às poeiras!

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) publicou recentemente um estudo de investigadores portugueses (Universidade do Minho e outros) que confirma elevados níveis de empoeiramento nos postos de trabalho analisados no sector têxtil.

O trabalho intitulado«Estudo Epidemiológico Transversal em Empresas Têxteis de Fiação, Tecelagem e Acabamentos»,embora elaborado há alguns anos, no âmbito de uma Campanha de prevenção para o sector,parece manter pertinencia e oportunidade para quem pretende realizar medidas de prevenção nesta industria.

O estudo permitiu também verificar que, em alguns sectores como a abertura do algodão, urdissagem e tecelagem ,os valores de empoeiramento são bastante elevados e ultrapassavam frequentemente os respectivos valores limite.Que se saiba o estudo não teve continuidade!

A ACT é praticamente a única entidade a publicar regularmente estudos sobre  saúde e segurança no trabalho no nosso País.Nos seus Serviços Centrais ,na Rua Casal Ribeiro, em Lisboa, existe uma biblioteca onde podem ser adquiridas as obras publicadas e consultadas a melhores bases de dados internacionais sobre estas matérias!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MAL ESTAR NO TRABALHO-Senado francês estuda a questão!

Perante os dramas humanos produzidos recentemente em grandes empresas francesas como a Renault e a France Telecom a comissão dos assuntos sociais do senado francês procurou aprofundar as razões que conduziram ao suicídio diversos trabalhadores.Um bom exemplo para Portugal!Por enquanto por cá a AR apenas debate a diminuição dos custos do trabalho!

O relatório final do senado francês aponta a procura de rendimento a qualquer preço e a pressão sobre os trabalhadores como uma das principais causas do mal estar no trabalho acompanhada por uma outra que é o isolamento crescente dos trabalhadores.A individualização das relações de trabalho, a caça aos tempos mortos, a quebra dos colectivos e das solidariedades nos locais de trabalho, o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação as constantes reorganizações e reestruturações bem como as subcontratações  e muitos outros fenómenos inerentes ao trabalho moderno.

O relatório aponta ainda um terceiro factor explicativo: a perda de sentido do trabalho.Aparece o sofrimento quando os trabalhadores não compreendem os objectivos que lhes são distribuídos ou que o seu trabalho não é reconhecido!
Dois outros factores importantes aparecem ainda:o stress nos transportes nas grandes cidades e a «dupla jornada de trabalho» das mulheres.
Aceder ao Relatório em francês

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

FOI MORTO UM PEDREIRO DE 25 ANOS!

O desabamento de uma barreira de terra numa obra ontem em Évora matou mais um jovem operário da construção para além de um ferido!Mais um entre muitos acidentes no sector!Um jovem operário indiano que ,como de costume, não tem nome, não tem família, enfim, é um número, um recurso, que durou o que durou!

Agora vai decorrer o inquérito para apurar as responsabilidades tanto do «dono da obra» como dos empreiteiros e respectivos coordenadores e técnicos de segurança!É lastimável porque as causas estão sobejamente apuradas!A obra deve ter uma avalição de riscos e sabemos que as valas são locais de risco!Por certo que algo falhou no domínio da segurança...e neste domínio falha-se demais!E porque? Simplesmente porque temos um Pais do «faz de conta»!

Quantos donos de obra ou empreiteiros foram efectivamente responsabilizados crimialmente após tantas mortes?Quantos estão presos?Conhecem?Ah! Mas se alguém assalta um supermercado ou um banco cai o carmo a trindade e é logo engavetado?Temos efectivamente uma justiça e uma tolerancia de classe!Tolerancia zero para os crimes de «pé descalço» e magnanimidade para os grandes!Daí as nossas prisões estarem cheias de gente sem beira nem eira mas apenas um banqueiro em prisão, que ,julgo ,estará neste momento em casa!
Este mês de Agosto tem sido fatídico!Então vítimas de tractores são uma calamidade!Uma calamidade silenciosa mas real!Mas, entre as férias e a dívida soberana e respectivas ameaças os portugueses ficaram tolhidos!Será?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O CARDEAL E OS SINDICATOS!

As recentes declarações do Cardeal de Lisboa, D. José Policarpo nas Caldas da Rainha sobre o interesse nacional e o bem comum dando a entender que os sindicatos não deveriam fazer reivindicações neste momento não foram bem aceites, quer pela UGT quer pela CGTP !Palavras soltas, desabafos menos prudentes?Penso que não!

Segundo a noticia da Agência Ecclesia D. José Policarpo afirmaria não gostar do posicionamento dos «grupos de classes» entre os quais os sindicatos,numa altura em que têm que ser vencidas as visões derrotistas e pessimistas.Diria ainda que lhe está a «fazer muita impressão neste anuncio das medidas difíceis, que até nos foram impostas por quem nos emprestou dinheiro, os grupos que estão a fazer reivindicações.Não gosto, falta pensar no bem comum».

A relação hierarquia da Igreja Católica e sindicatos nunca foi verdadeiramente pacífica em Portugal.Duas razões entre outras,explicam esta situação que nem a democracia nascida com o 25 de Abril resolveu de facto.
A primeira tem a ver com o facto da maioria dos sindicatos serem e terem sido ao longo da nossa história distantes ideologicamente da Igreja; a segunda é o facto da Igreja em Portugal ter um percurso bastante conservador e ter uma leitura em geral muito superficial do mundo do trabalho.A
Hierarquia ao longo dos tempos teve inclusive serias dificuldades de relacionamento com os próprios movimentos operários católicos, em particular no tempo do Cardeal Cerejeira!Verdadeiramente a Igreja em Portugal nunca teve uma Pastoral para o mundo do trabalho.Apenas teve alguns padres carismáticos que se dedicaram ao mundo operário.
Esta questão foi assim relativamente atenuada após a Revolução do 25 de Abril pela influencia dos grupos de trabalhadores e sindicalistas oriundos do sector operário católico empenhados na UGT, CGTP e sindicatos independentes.
Mas a impressão que se tem é que a Hierarquia continua distante dos problemas do trabalho e dando pouca importancia aos seus próprios movimentos de trabalhadores (LOC/MTC e JOC).Este é, sem dúvida, uma questão a aprofundar por esses mesmos Movimentos.

Ora as declarações recentes do Cardeal de Lisboa mostram mais uma vez uma leitura superficial do momento  que estamos a viver, da situação dos trabalhadores em geral , declarações  que a meu ver vão para alem do que está balizado na «doutrina social da Igreja».
Esta doutrina defende por exemplo que a Igreja não deve adoptar uma organização económica e social concreta, Todavia, acreditando nas notícias, o Cardeal de Lisboa deu a entender que o memorando da troika é para respeitar sem qualquer reparo, crítica ou contestação!E que isso era defender o interesse nacional e o bem comum...Ora o texto da troika é questionável e revela nas medidas que propõe uma organização económica e social concreta.Mais grave ainda o Cardeal nem sequer põe em causa a elevada taxa de juros a que sujeitam Portugal!



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SINISTRALIDADE LABORAL EM FRANÇA! Eles fazem estatísticas....

O balanço da sinistralidade laboral  de 2010 em França realizado pela Assurance Maladie-Risques Professionels confirma as tendencias anteriores ou seja:

-Estabilidade do indice de frequencia-36 acidentes em 1000 assalariados;
-Acidentes de trajecto continuam a subir-aumento de +4,9% em 2010;
-Subida do nº de doenças profissionais de 2,7% em 2010.

Neste País 18,6 milhões de trabalhadores são protegidos pela Assurance Maladie que tem a seu cargo mais de 1.200.000 acidentes e doenças profissionais em que cerca de 800.000 levaram a baixa.Ver

Em França as diversas instituições trabalham no sentido de fornecerem informação estatística credível e a tempo.Lamentavelmente no nosso país continuamos com um déficit  crónico insuportável!.Este problema já era apontado em 1977 como crítico no Plano de Acção para a prevenção do Ministerio do Trabalho.

A propósito, para quando algum avanço no processo de realização do Inquérito Nacional ás Condições de Trabalho previsto na Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho?

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

BANCO DE HORAS E DESGASTE OPERÁRIO!

Artigo de dois investigadores brasileiros sobre a participação nos lucros ou resultados e o banco de horas assinalando-se a relação de ambos com a intensidade do trabalho e o desgaste operário!

Os investigadores concluem que a participação nos lucros e o banco de horas são instrumentos de gestão que visam retirar mais trabalho dos operários.Esta acção combinada eleva e potencializa as cargas de trabalho e o desgaste do trabalhador!
Um tema de grande actualidade no momento em que pelo nosso País também se modifica a legislação laboral num determinado sentido que não está longe do referido acima, isto é, do embaratecimento dos custos do trabalho e da intensificação do mesmo!Ver

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

INSPECÇÃO DO TRABALHO REMETIDA AO LIMBO?

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), organismo da Administração Central tutelada pelo Ministro do Trabalho e que integra a inspecção do trabalho e a prevenção dos riscos profissionais, passou agora para o Ministério da Economia! Este Ministério é um mega organismo do Estado onde a ACT poderá ficar tutelada por um Secretário de Estado e numa espécie de limbo!O seu papel, sendo desvalorizado, seria um mau contributo para a superação da crise!

Segundo algumas filosofias económicas, a que chamam neoliberalismo, há que promover a desregulação das relações de trabalho, deixar as empresas livres de constrangimentos, em particular em tempo de crise...O ideal seria mesmo a autoregulação acabando com a legislação laboral em definitivo!Seria a lei do mercado a vigorar, ou seja a lei do mais forte e onde o trabalho é uma mera mercadoria!O trabalhador?Um factor de produção que interessa baixar o preço o mais possível!O bolo do rendimento cada vez está mais magrinho para o lado de quem trabalha!

Esperamos que o Ministério da Economia não vá por este caminho pois seria desastroso para o País e seria absolutamente contrário a toda a cultura democrática que impera nomeadamente na Organização Internacional do Trabalho!
No memorando da Troika aquele espírito está lá!Todavia, as forças sociais, em particular os sindicatos, estão atentos e, na sua maioria, não estão comprados!Os trabalhadores são pessoas e as suas organizações são actores fundamentais da sociedade!A situação é difícil sem dúvida alguma.Mas olhem para os rcentes acontecimentos de Londres....

terça-feira, 16 de agosto de 2011

TRABALHADORES TEMPORÁRIOS!Melhor segurança!

O trabalho temporário tem crescido em toda a Europa, nomeadamente em Portugal.Milhares de trabalhadores não vão conhecer outro tipo de trabalho durante as suas vidas!Em todas as economias este tipo de trabalho é um bom negócio, em particular se as empresas estão fora da lei!

Com as exigências da troika e as ideias que este Governo tem para a dinâmica das relações de trabalho tudo leva a crer que o trabalho temporário vai aumentar como uma das formas de flexiblização.

Os trabalhadores temporários são dos que mais expostos estão aos riscos profissionais, nomeadamente porque mudam frequentemente de locais de trabalho.A lei estipula as responsabilidades neste domínio quer da empresa utilizadora, quer da empresa de trabalho temporário.

«O trabalhador temporário beneficia do mesmo nível de protecção em matéria de segurança,higiene e saúde no trabalho que os restantes trabalhadores ,empresa ou estabelecimento do utiliador.»(artº36 da Lei nº19/2007).Ver dossier do INRS sobre a matéria.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MEMÓRIAS DO SÉCULO XX: as juventudes sindicalistas!

«O movimento das juventudes sindicalistas foi também, por vezes, notável.O pensamento que determinou a organização dos jovens em organismos próprios obedeceu a uma dupla necessidade.O incremento da acção sindicalista,animado pela ideologia anárquica, atraía inúmeros jovens,empolgados pelas novas ideias e por um intenso desejo de luta.

Canalizar este desejo orientando-o ideologicamente dentro de amplos principios de liberdade e de emancipação só constituindo organismos que correspondessem simultaneamente a uma permanente aproximação fraternal de irmãos mais novos e ao imperativo duma educação revolucionária adquirida em comum pela troca recíproca de pensamentos e pelo comum impulso de actividades criadoras.

As Juventudes Sindicalistas originariamente destinadas ao trabalho cultural de educação bem depressa foram prejudicadas pelas perseguições.Dir-se-ia que havia  o propósito preconcebido de as inutilizar como escolas.Os jovens feridos nas suas aspirações mais caras eram deste modo arremessados para a luta.Essencialmente anti-militaristas colocaram-se com os anarquistas na vanguarda do movimento contra a guerra de 1914-1918.E o ódio dos patriotas, dos conservadores e reaccionários cresceu.

Mas a sua acção não raro se fazia sentir nos movimentos colectivos do proletariado.Por isso eram sempre perseguidos pela polícia, presos por vezes em massa, sofrendo muitos dos seus militantes os piores tratos nas prisões e alguns foram mesmo cobardemente assassinados pela polícia....

Sujeitas ás influencias aguerridas do momento mas dispostas sempre ás acções generosas de solidariedade humana, as juventudes sindicalistas organizaram também a União que mais tarde passou a ser a Federação e publicaram o seu órgão na imprensa, o Despertar, quase sempre de boa e sã propaganda anarco-sindicalista.»

Retirado de «O sindicalismo em Portugal de Manuel Joaquim de Sousa»
Ver de João Freire «As juventudes sindicalistas,um movimento singular»


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

AS REVOLTAS DE LONDRES!

As revoltas nos bairros de Londres e de outras cidades inglesas são claramente sinais dos tempos!Do tempo que se vive numa Europa sem rumo, ao sabor de interesses privados, quase num salve-se quem puder,ou quem puder que fuja!O que ali acontece,pode acontecer novamente em Paris, em Berlim ou Madrid....e até em Lisboa!

Estas revoltas são fruto de décadas de políticas iniciadas com a chamada «dama de ferro», políticas substancialmente seguidas pelo Tony Blair e os adeptos da famosa terceira via que, reconhecem hoje muitos socialistas, foi a desvirtuação completa das politicas social -democratas e socialistas!

Com efeito, nas últimas décadas a Inglaterra caiu no declínio social e económico. Os sindicatos ,fortemente atacados pelos adeptos das privatizações, perderam muito do seu poder efectivo e a sindicalização baixou.
Em muitos bairros operários, outrora orgulhosos,vemos o desemprego crónico passando de geração em geração, a marginalidade a frustração!

A estes juntam-se os imigrantes e filhos de imigrantes sistematicamente tratados á margem e com desconfiança por todos, em particular a partir do 11 de Setembro.Os serviços públicos sofrem cortes, em especial os serviços sociais, em nome da austeridade e para favorecer a concentração da riqueza de uma minoria privilegiada!
Mas estas revoltas juntam gente diversificada , inclusive empregada e outrora satisfeita com o sistema.Isto quer dizer que a situação económica está a empurrar nova gente para a acção. Uma acção agora com pouca organização e liderança aparente, a mais grave de todas....

terça-feira, 9 de agosto de 2011

TRABALHAR MAIS ANOS!

Por toda a Europa se propaga agora a ideia de pôr os mais velhos a trabalhar mais!Os franceses, nas últimas reformas sobre a reforma, abordaram a questão do trabalho penoso particularmente grave para os trabalhadores com idades mais avançadas!

Estabeleceram, inclusive, na lei a obrigatoriedade de um plano de acção nas empresas com 50 ou mais trabalhadores, para prevenir a penosidade do trabalho.Nesta definição ,porém, não cabem os riscos psicossociais mas apenas os constrangimentos de tipo físico,ritmos de trabalho e ambiente agressivo no aspecto físico.Ora hoje sabemos que, em larga medida, a penosidade do trabalho está nos aspectos psicológicos, nomeadamente no stress, assédio psicológico e pressão nos ritmos, em particular nos horários de trabalho.
Todavia, é importante verificar que em França estas questões são debatidas e abordadas de forma sistemática ao nível político, social e na investigação!Ver

domingo, 7 de agosto de 2011

AS VINDIMAS NO DOURO!

 Texto inédito das memórias de Francisco Guedes, pequeno agricultor duriense:

Vindima!Festa das colheitas!No meu tempo de rapaz a alegria que eu sentia ao avizinhar-se esta época festival!Fazia balões de côr,bandeiras e festões para engalanar o armazém e lagar depois de bem caiados,gostava de vê chegar as rogas-pessoal contratado de fora da Região-com um misto de alegria e entusiasmo para comer com eles,deitar-me nas mantas e rebolar-me com eles na melhor das brincadeiras e até raspanhar nos seus instrumentos de música!

No pessoal da minha roga-entre 10 a 15 pessoas-havia um anãozito que trazia uns bonecos presos numa cana que dançavam quando ele os puxava por meio de um arame interior.A graça que eu encontrava a isso!As estradas davam o aspecto de romaria;dançava-se,cantava-se e tocava-se até chegar à casa a que o pessoal se destinava.A mesma coisa sucedia de dia e de noite.No lagar a «pousa» de quatro horas de trabalho;na vinha ou no terreiro à noite era sempre festa!Os homens com os cestos vindimos às costas em fila indiana marcavam a cadencia do passo por meio de um pífaro ou apito e muitas vezes ao som do bombo e harmónio!Ninguém dava mostras de esgotamento físico!Sempre contentes e a sua alegria era contagiosa!Ao terceiro dia de corte de uvas era era a pousa no lagar, operação que envolvia uma fila de homens abraçados pisando a uva em ritmo certo dentro do lagar.

A pousa durava quatro horas de trabalho nocturno que se dividia em duas partes distintas a saber:  primeira parte durava duas horas de trabalho a ritmo certo-especie de marcha militar que pouco se notava no deslocamento-porém muito forte na cadencia com que os calcanhares batiam no duro lastro do lagar.O que era o lagar?Um reservatório de comprimento variável, largura adequada e altura de uns 70 cm mais ou menos.Existiam lagares de 30 a 50 pipas.Na Região do Douro a pipa é de 550 litros,22 almudes de 25 litros.
A segunda parte da pousa, mais duas horas, era um trabalho de liberdade ou seja, o pessoal desliga-se e percorre o lagar a cantar e a dançar livremente!Nesta segunda parte cantava-se uma quadra muito em voga na pousas :

Liberdade, Liberdade
Quem a tem chama-lhe sua
Eu não tenho Liberdade!
Nem de pôr os pés na rua!...

Cantava-se, dançava-se e tocavam-se toda a casta de instrumentos,desde o bombo,ferrinhos, flauta,harmónio,concertina e outros instrumentos metálicos de qualquer banda musical da qual se destacassem meia dúzia de entusiastas para irem animar a vindima e ganhar algum.

Se o vinho trabalhado nessa noite se destinava a vinho generoso-o que equivalia a dizer futuro vinho do Porto-então aproveitava-se toda a doçura ou seja todo o acúcar do mosto e para isso tinha que se deixar subir a manta-conteúdo de peles,cangaço e grainha-que pela força alcoólica do mesmo vinho impele a mesma a subir à superfície.Neste caso abre-se o lagar e transporta -se imediatamente  pelo caneco ou, modernamente pelas bombas eléctricas, esse vinho para o tonel, cuba, balceiro....
Aqui leva uma percentagem de aguardente vínica que depois será completada com outra dose, mercê de uma transfega ou lôta a meados de Novembro

Depois este vinho irá para as pipas, toneis ou cubas de castanho onde envelhecerá e então lá diz o ditado:«vinho e amigo o mais antigo»Este vinho enobrecer-se-á à medida que eu envelhecer!

sábado, 6 de agosto de 2011

QUEM SE MATOU NÃO TEM NOME?

Ontem ,durante a visita do Ministro da Saúde ao Hospital de Évora, suicidou-se uma funcionária auxiliar daquela unidade.As várias notícias publicadas não referem o nome da referida trabalhadora nem a localidade de residência nem qualquer outro dado pessoal! Para quê? Uma auxiliar não está no fim da escala?Não ganha 500 euros?

Todas as notícias dizem o mesmo:que o ministro decidiu continuar a visita e que os Bombeiros estiveram no local com quatro viaturas e 10 elementos para além da PSP.
Hoje esperava mais alguma informação sobre o acontecimento.Mas, sem espanto, verifiquei que os jornalistas ,sempre tão curiosos, não retomaram a notícia.Silêncio!Um silêncio sintomático e assustador!
A mensagem da suicida é , como dizia o outro, um murro no estômago.Neste contexto político e neste momento social de opressão e exploração no trabalho o murro é ainda maior!Todavia, o sistema não quer pensar sobre o assunto!Querem abafar o acto subversivo do suicida e com isso ocultar-nos a realidade do dia a dia!Os que não se suicidam o que fazem?A maioria aguenta muito mal mas quer dar ares de valentia!Porquê?Homens e mulheres engolem as lágrimas, a raiva, a frustração!Procuram vingar-se no colega, na mulher ou nos filhos.Fraquejar no trabalho é que não....Oh!como isso é importante para se manter o sistema!Mas a que custo?Hoje a maior doença no trabalho já é a depressão segundo a OMS!!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

TRABALHADORA MATA-SE DURANTE VISITA DO MINISTRO!

Hoje, durante a visita do Ministro da Saúde, uma auxiliar da saúde enforcou-se no Hospital de Évora.O Ministro esteve para suspender a visita mas não fez e o Hospital veio com aquela já conhecida de que a trabalhadora teria problemas familiares!

O caso exige ser mais conhecido através de um inquérito independente realizado por equipa que queira estudar o problema numa perspectiva  para evitar outros!O suicídio no trabalho, tal como o acidente, é um sintoma de que algo está mal nesse local de trabalho.Uma pessoa que se suicida não toma esta decisão de ânimo leve.Pensa na forma e no local para o fazer!
Os estudos realizados em França (Dejours) , nomeadamente com os vários suicídios na Renault e na France Telecom revelaram que os problemas no emprego são agravados , por vezes, com as questões familiares e vice-versa.Curiosamente, porém, no início os dirigentes dessas empresas ou serviços recusam fazer ligação do caso com as condições de trabalho (stress,bulling,assédio) e deitam as culpas para os «problemas familiares».
Caberá aos respectivos sindicatos fazerem algo para que este caso não fique na clandestinidade como tantos em Portugal!ver France Telecom

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

UM OUTRO PS!

Em MANIFESTO POLÍTICO quarenta e cinco socialistas, a maioria de Coimbra, pretendem mudar o Partido Socialista, fazendo uma renovação profunda que transforme este partido histórico da sociedade portuguesa num partido da esquerda toda!

O documento pode ser consultado em blog próprio estando aberto à subscrição de todos os militantes socialistas sendo posteriormente debatido e levando eventualmente a um congresso.
«A repartição da riqueza produzida entre o capital e o trabalho tem de passar para primeiro plano da concertação social e ser explicitada com transparência nos programas políticos socialistas.»-diz a dado passo o referido Manifesto .

 Iniciativas destas são poucas em Portugal, infelizmente!Se existisse mais debate político e melhor preparação dos dossiês não teríamos metade dos problemas na governação.Não é aceitável que um Partido ganhe as eleições e depois o primeiro ministro  escolha, por exemplo um ministro do trabalho que faz a sua política e não a do Partido que a deveria preparar na oposição!Não seria expectável que neste momento o actual governo em vez de ter tantas hesitações tivesse mais certezas fundamentadas? E porquê?Porque verdadeiramente não preparou a governação!São uns brincalhões!  Ver

INDÚSTRIAS EXTRACTIVAS-Guia para o uso de explosivos

 Em 2001 0 Órgão Permanente para a Segurança e Salubridade nas Minas de Carvão e nas outras indústrias extractivas editou um guia para a avaliação de riscos relativos ao uso de explosivos nessas indústrias.

O acesso ao documento em português foi agora facilitado no site da Autoridade para as Condições do Trabalho  em «Publicações Electrónicas».Ver

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O VELHO HIPÓLITO!

O Hipólito é uma arqueologia duriense.Falar com ele é abrir um livro de memórias e de sabedoria.Está neste mundo mas há muito que dele saíu.Paira pelas ruas da Vila com um sorriso rasgado como se fosse um tolinho!Mas não é, pelo contrário.O que acontece é que tem mais de oitenta anos e já viveu muito.Viveu outros tempos e é deles que se lembra.Quando lhe puxam pela língua nunca mais se cala.
Como trabalhador agrícola reformado fala sempre dos tempos de escravatura que viveu na juventude.Quando se levantava cedo, quase de noite e se colava no portão da Quinta para conseguir trabalho.O caseiro, o Lopes,escolhia os trabalhadores que queria e fechava o velho e senhorial portão.Os outros, resignados,voltavam para casa à espera de melhores dias.
Os que tinham sido escolhidos não tinham leite e mel à sua espera.Ai daqueles que levantavam as costas para descansar.O Lopes caía-lhes em cima com o seu palavreado indigno e cheio de ameaças de virem para o «olho da rua».Fossem homens ou mulheres porque ele tratava os trabalhadores como meros animais de carga.
Sereno o Hipólito conta estas cenas sempre a sorrir como já tivesse perdoado a todos e se preparasse para a Grande Viagem.Impressionante este homem!Um verdadeiro monumento!