Recentemente vi um dirigente de um grande sindicato europeu afirmar que uma grande parte dos acidentes de trabalho na sua região são por culpa dos trabalhadores.Esta afirmação ainda se ouve demasiadas vezes não apenas por patrões mas até por sindicalistas como é o caso.
Ora ,sabemos que os acidentes e incidentes são sintomas de que existem disfunções nas empresas ou serviços.Os estudos efectuados revelam que as causas dos acidentes são múltiplas e nunca se pode dizer que foi apenas uma causa.Raros são os casos em que existe uma clara negligência ou má fé do trabalhador.Mesmo o caso de negligência ou de abuso de álcool ou droga revelam falta de uma ação preventiva, nomeadamente de controlo e formação dos trabalhadores.
Por outro lado, sabemos que em prevenção de riscos profissionais não podemos falar de «culpa» no sentido religiosos ou moral.Podemos falar de responsabilidade.A primeira responsabilidade é da empresa e da sua gestão.Legalmente as empresas são obrigadas a criar as condições de segurança no trabalho e a promover a saúde dos trabalhadores.É uma responsabilidade patronal.A lei também diz quais são as obrigações dos trabalhadores que devem zelar pela sua segurança e pela segurança dos companheiros, proteger-se sempre que necessário,avisar a hierarquia e serviço de segurança quando existe perigo iminente,obedecer às recomendações e directivas de segurança e comparecer aos exames médicos, participar nos órgão de prevenção.
Valorizar a «culpabilidade» do trabalhador nos acidentes de trabalho não é científico e é abrir caminho ao revisionismo da legislação social e do direito do trabalho como está a fazer o Brasil de Bolsonaro.
A extrema direita em vários países visa destruir o direito do trabalho e acabar com o tratamento mais favorável do trabalhador equiparando este ao empregador como se fossem partes em pé de igualdade nas relações de trabalho.Para eles a vítima é o empresário e o carrasco é o trabalhador que, segundo eles, está demasiado protegido!É virar o bico ao prego para dar mais lucros ao capital a quem, efectivamente servem.
Este é um blog para comunicar com todos os que se preocupam com a promoção da segurança e saúde no trabalho, sindicalismo e relações de trabalho em Portugal , na Europa e no Mundo.
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
CONTRIBUTO PARA UMA AVALIAÇÃO DAS LUTAS LABORAIS NA LEGISLATURA
Os recentes conflitos laborais que envolveram os enfermeiros portugueses,os
motoristas de matérias perigosas e os tripulantes de cabina da Ryanair foram
motivo de diversas opiniões, tomadas de posição e reflexões colocando a questão
sindical na actualidade e motivo para alguns debates.
Entre as muitas questões que se podem debater
saliento uma que poderia formular da seguinte maneira:o sindicalismo das duas
maiores confederações sindicais portuguesas tem sido um sindicalismo
conformista, servindo apenas para canalizar o descontentamento de algumas
franjas de trabalhadores mais radicalizados sem grande eficácia na melhoria das
relações de trabalho e na qualidade de vida e de trabalho dos trabalhadores
portugueses?
E uma segunda questão:será que estamos numa
fase em que alguns sectores profissionais procuram lutar fora do chapéu
sindical das grandes confederações almejando, ilusoriamente ou não, melhores
resultados para as suas lutas?
Antes mais será bom começar pelo quadro
político em que se desenvolveram as mais recentes lutas sindicais nos quatro
anos da legislatura de governo PS com
apoio da restante esquerda.Para além dos conflitos que citei acima temos os da Autoeuropa e a dos
estivadores ambas com a compreensão da UGT e CGTP mas bastante autónomas quanto
a estas organizações confederais.
Durante estes quatro anos, embora de modo
diverso, tanto a UGT como a CGTP apoiaram estrategicamente o governo PS
procurando conseguir o máximo de reivindicações .Pouco mais conseguiram para além do que estava escrito nos acordos
com o PEV,BE E PCP.A CGTP com um apoio mais crítico e mais activa nas ruas.A
UGT com algum criticismo até à assinatura do acordo sobre a precariedade que
deu origem à décima quinta alteração ao
Código do Trabalho.Todos podemos constatar
que os grandes conflitos nesta legislatura não tiveram origem nem na UGT nem na
CGTP.Por vezes, ambas as centrais sindicais tiveram que agarrrar o carro da
luta já em andamento como no caso dos enfermeiros.
Avaliação dos quatro anos de lutas
Não faltaram opiniões de vários quadrantes qualificando
estes conflitos, em especial as greves dos motoristas de matérias perigosas
como ações perigosas de sindicalismo radical.Mas também não podemos esquecer
que há quem critique o sindicalismo da UGT e da CGTP de demasiado conformista e
burocrático.Um sindicalismo demasiado comprometido com os partidos políticos.
Claro que nestas análises tanto podemos ver o
copo meio cheio como meio vazio.Mais tarde ou mais cedo convirá fazer uma
avaliação destes quatro anos de lutas no que respeita à valorização salarial e
de qualidade de trabalho.Podemos, no entanto, avançar já com algumas ideias e
interrogações.
Assim, em primeiro lugar constatamos que de
algum modo a valorização salarial foi pequena no sector privado não chegando à maioria da administração
pública, que não tem aumentos há dez anos.Mesmo os aumentos do salário mínimo
não significaram uma ruptura com o paradigma de baixos salários que persiste em
Portugal e de estagnação salarial na Europa.
A precariedade aumenta, em particular nos
contratos com jovens trabalhadores e desempregados de longa duração e o
processo de integração dos precários na Função Pública está embrulhado sem
sabermos se ficará ainda bloqueado.
Erosão dos direitos dos trabalhadores
.A erosão dos direitos dos trabalhadores,
nomeadamente os direitos á segurança e saúde, horários que conciliem a vida
familiar e profissional e o comabte ao assédio moral é evidente e
preocupante.Temos sinais diários de espezinhamento da legislação laboral, de
trabalho clandestino e de de exploração evidenciada
na contínua diminuição da parte distribuída ao trabalho na riqueza criada em
Portugal.Aliás Portugal foi dos países onde menor foi a parte da riqueza
distribuida ao trabalho face ao capital.Por outro lado o acordo assinado entre
os patrões, o governo e a UGT não dá garantias, antes pelo contrário, de que
trave efectivamente a precariedade.Antes de mais porque o acordo assenta na
filosofia da flexisegurança da Comissão Europeia em que os contratos a prazo
são necessários, embora se deva evitar os
abusos dos mesmos.
Podemos assim concluir que as lutas sindicais
embora aumentassem de forma acentuada a partir de 2017 ficaram aquem das reivindicações inicais,
incluindo as mais radicais como o dos enfermeiros e dos motoristas.Basta ver os
dados estatisticos das greves declaradas
e os ganhos alcançados e ainda a confiança que diminui nos sindicatos.Urge
repensar a ação sindical e avaliar estes quatro anos.Existe a possibilidade de
outros sectores se radicalizarem na busca de melhores resultados salariais e de
carreira.As organizações dos trabalhadores não existem apenas para impedir o
regresso da direita ao poder e apoiar soluções políticas de controlo do deficit
e de promoção da competitividade da economia. Os trabalhadores querem mais
resultados das lutas travadas ou a travar.Querem naturalmente uma maior justiça
e melhor partilha da riqueza que não tem ocorrido no nosso país.Os
trabalhadores e suas organizações não podem aceitar limitações ao direito á
greve em nome da circulação de mercadorias e pessoas.Como fazer e o que fazer?
quinta-feira, 5 de setembro de 2019
DIÁLOGO SOCIAL E PODER DOS TRABALHADORES
Com a globalização os sindicatos enfraquceram
relativamente, em especial a taxa de sindicalização desceu de forma muito
acentuada. A flexibilidade apregoada na União Europeia veio beneficiar em
especial as empresas,ao flexibilizar os horários de trabalho as carreiras e os
vínculos laborais.O trabalho precário está a ser a norma nos novos contratos
como acontece no caso português.O quadro político mundial, nomeadamente as
grandes instituições como o FMI, Banco Mundial, OCDE e a própria União Europeia
favorecem os negócios e querem ainda mais reformas laborais para dar
competitividade às empresas retirando valor ao trabalho.
Estamos efectivamente num quadro de crescente
fragilidade do Movimento Sindical internacional e nacional.O trabalho muda com
grande rapidez enquanto que os sindicatos têm dificuldade de encontrarem formas organizativas e de ação
para enfrentar os novos desafios.A precariedade, as formas de trabalho atípico
e a individualização dos contratos de trabalho são desafios importantes.
No quadro do centenário da OIT a Confederação
Sindical Internacional (CSI) lançou uma ofensiva para sensibilizar as instituições mundiais e
regionais para a necessidade de um novo contrato social .Uma ideia que comporta
uma renovação do papel da OIT na luta pelo trabalho com direitos em todo o
mundo.
Todavia, o quadro mundial e regional, acionistas
das multinacionais, empresas, governos e instituições económicas e políticas
não é favorável ao compromisso e ao diálogo social .E porquê?Porque a relação
de forças é hoje muito mais favorável ao capital do que ao trabalho.O progresso
tecnológico trouxe muitas vantagens a todos por certo,mas trouxe em particular
vantagens aos negócios,às grandes companhias e plataformas que trabalham pel
internet. Em espanha desde 2012 mais que duplicaram os milionários ou seja as
pessoas com mais de 30 milhões de euros.
O diálogo social apenas tem viabilidade quando
existe algum equilibrio de poderes.Ora, sabemos que neste momento este
equilibrio não existe em parte alguma do mundo.Mesmo na Europa, onde o
Movimento Operário e Sindical teve e ainda tem algum poder,metade das empresas
não tem qualquer representação colectiva dos trabalhadores.Por outro lado os
sindicatos têm perdido muitos associados e mostram dificuldade em filiar os
mais jovens.
Esta situação foi assim pouco propícia para
que se conseguisse construir uma Declaração da OIT mais ambiciosa
comemorando o centenário desta
Organização que também ela foi perdendo força e capacidade de tornar o trabalho
digno efectivo na maior parte do mundo.
Não se pode , no entanto, perder a
esperança nesta luta pela dignidade do trabalho e pela emancipação dos
trabalhadores.
Mas por melhores intenções que tenhamos não
podemos ignorar que apenas com o reforço do poder dos trabalhadores nos locais
de trabalho e nas sociedades pode existir um verdadeiro diálogo social.Sem esse
poder,em particular nas empresas, teremos apenas a decisão unilateral dos
patrões e acionistas.Teremos apenas uma economia vista pelo prisma do lucro e
da competitividade,uma economia que mata, ambientalmente insustentável e que
nos torna a todos descartáveis.
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