quinta-feira, 26 de março de 2009

INSPECÇÕES DO TRABALHO REUNEM EM LISBOA!


Inspecções do trabalho de todo o mundo vão reunir em Lisboa a 16 e 17 de Abril, para acerto de estratégias face ás mudanças no mundo do trabalho.A crise está como pano de fundo dos debates.
O evento é organizado pela Autoridade para as Condições do Trabalho e pela Associação Internacional da Inspecção do Trabalho (IALI).Ver

terça-feira, 24 de março de 2009

Desafios e combates do sindicalismo (IV)


A última grande manif da CGTP, no passado dia 13 do corrente deu azo a um assinalável número de comentários de políticos e analistas políticos.O Governo, como já era esperado, reagiu muito mal atacando a CGTP com o estafado anátema de partidarização.

Mário Soares, como político sénior e avisado, convidou o Governo a ouvir e ler o que subjaz por baixo de uma tão grande manif.Vários comentadores vieram a terreiro dizendo que efectivamente a CGTP é controlada e que representa sempre o que sempre representou.Curioso que quase ninguém achou mal que o Secretário Geral do PS estivesse no encerramento da corrente socialista da UGT onde falou juntamente com o Proença.

Após estes dias a ler estes comentários todos continuo a pensar que a quase quatro décadas de liberdade o problema das relações entre política e sindicalismo continua na maioria dos casos muito confuso em Portugal.

O problema é que a maioria dos políticos defende a independencia dos sindicatos mas não a sua autonomia.Aqui reside a questão principal de toda esta polémica.Os sindicatos na sua maioria são formalmente independentes dos partidos políticos mas não são autónomos.A maioria dos políticos ataca a CGTP porque esta tem uma forte influencia do PCP e defende um modelo sindical que no actual quadro político interessa que seja reivindicativo e de luta.
Se o PCP estivesse no Poder a CGTP faria acordos de concertação todos os anos, mesmo que os trabalhadores não tivessem aumentos.É o que acontece à socialista UGT que passa a vida a fazer acordos com os governos PS e PSD! Claro, os mesmos partidos que têm governado o nosso País nas últimas décadas.
Mesmo assim o sindicalismo da CGTP é neste quadro mais útil aos trabalhadores portugueses que o da UGT.Este é uma caricatura de sindicalismo!

O sindicalismo autónomo, sendo político, obedece a uma estratégia própria, gizada pelos próprios tabalhadores, pelos órgãos das suas oranizações!Este sindicalismo não obedece a directrizes de nenhum partido ou entidade exterior.Faz a sua análise política , analisa a situação concreta e define a sua estratéga de actuação, quer seja de reivindicação e luta quer seja de negociação.Não luta porque agora é necessário ganhar eleições!Luta porque há condições para se alcançarem objectivos concretos a favor dos trabalhadores, dos seus interesses, dos objectivos políticos, sociais e económicos!
O sindicalismo autónomo é político e não deixa a política apenas para os políticos dos partidos.Ora, isto é inaceitável para a maioria democrata.Eles são os detentores da política.Para eles os sindicatos devem tratar dos assuntos económicos e sociais.É o sindicalismo bem comportado, que luta por migalhas em tempo de maré alta e por nada no prato em tempos de crise!Pretendem uma espécie de corporativismo de cariz democrático!

O sindicalismo autónomo é cultural , procura lutar para mudar!Para mudar as mentalidades, para mudar as condições materiais e espirituais dos trabalhadores.Os trabalhadores pelo facto de o serem não estão sempre com razão.O atestado de trabalhador não me dá de imediato razão, nem me dá credibilidade perante os companehiros, nem honradez nem verticalidade!O sindicalismo, não sendo moralista, não pode deixar de ser ético!

Para se conseguir a autonomia sindical é necessário que os dirigentes não integrem as direcções dos partidos políticos nem recebam deles orientações.Os sindicalistas terão eventualmente as suas simpatias partidárias...todavia, antes de tudo mais, serão sindicalistas e não militantes partidários a fazerem carreira nos sindicatos.O futuro está com um novo sindicalismo que não obedeça aos partidos .As lutas quanto mais autónomas mais sucesso terão no futuro!As novas gerações vão escolher organizações autónomas para lutarem!

sexta-feira, 20 de março de 2009

RENOVAR O SINDICALISMO!


PERGUNTAS A ... ELISIO ESTANQUE ,SOCIÓLOGO, CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS DE COIMBRA

"Renovação sindical depende da atitude dos políticos e empresários' "

- Até que ponto a crise poderá levar os trabalhadores a aproximarem-se do movimento sindical e a inverter a crescente individualização das relações de trabalho?

É preciso equacionar o grau de profundidade e a duração da crise. Acredito que este espectro de encerramento de empresas e o aumento do desemprego conduzirá a mais carências. Nesse cenário, e sabendo que há um clima pouco favorável à filiação sindical, os trabalhadores têm medo da retaliação das chefias e da empresa se ousarem filiarem-se no sindicato. Mas o problema não é de agora, a questão da deslocalização de empresas há muito que se coloca assim com o agravamento da precariedade, que atingiu sectores vários da nossa actividade económica sem que os sindicatos conseguissem responder.

Mas também é curioso referir que nos últimos anos começaram a surgir alguns indícios de que os sectores mais precários também poderiam tomar autonomamente a iniciativa [grupos como o FERVE, ver textos ao lado].


Estes movimentos podem levar a uma renovação do sindicalismo?

Se quisermos ser optimistas diria que isso pode acontecer nas duas vertentes: dentro destes movimentos e nos sindicatos. Um dos efeitos miméticos que alguns dos movimentos tiveram foi obrigar a que alguns dirigentes sindicais prestassem mais atenção a esse campo e que estejam a fazer um esforço para acompanhar e a dirigir o discurso aos precários para os chamar à participação.

Nenhuma das centrais sindicais é indiferente a fenómenos como o "Mayday" [ um movimento independente que tem como principal objectivo lutar contra precariedade e que é transversal a toda a Europa] ou aos movimentos dos professores que se organizam autonomamente com uma linguagem diferente. As instituições sentem quando o pulsar da sociedade parece ameaçar os cargos instituídos e isso pode levar à sua abertura a outras perspectivas.

Mas haverá condições para o sindicalismo se renovar?

Acredito que há condições objectivas para uma reaproximação e um reforço do campo sindical. Mas se isso vai acontecer ou não depende muito da capacidade dos próprios sindicatos mostrarem abertura e uma vontade efectiva para se readaptarem aos novos tempos. Esta possibilidade depende também da atitude do poder político e do sector empresarial perante os sindicatos. E talvez aí a crise contribua para uma guinada de paradigma do lado da estratégia de gestão, talvez alguns sectores percebam que é importante haver organizações de trabalhadores que possam negociar com eles incentivos para uma maior dedicação ao espírito da empresa .

quinta-feira, 19 de março de 2009

PRECÁRIOS!


Emprego. Numa década, o número de empregados com contratos a prazo e vínculos atípicos cresceu 52%. No final do ano passado, o emprego caiu e o número recuou.
O emprego precário - contratos a termo, prestação de serviços, sazonal e pontual - tem vindo a subir em número e em peso.

No ano passado atingiu já 902 mil pessoas. Um aumento de 52% em 10 anos. Este valor absoluto foi calculado pelo DN a partir da informação publicada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e com base no conceito de trabalho "não permanente" utilizado pelo professor António Casimiro Ferreira, num estudo que hoje é divulgado, no âmbito de uma iniciativa organizada pela UGT. No relatório preliminar do documento "Da sociedade precária ã sociedade digna: balanço da evolução social em Portugal", o professor da Universidade de Coimbra mostra que o peso destas situações sobre o total de pessoas empregadas tem vindo a crescer,passando de 12,3% em 1998,para 17,4% em 2008. As mulheres são geralmente mais afectadas. Por outro lado, o Alentejo apresentava o valor mais alto (23,9%),seguido do Algarve (23,1%) e da região de Lisboa (21,1%)."A desestabilização dos estáveis e dos instáveis tende a constituir-se num modelo de regulação ^que, caso venha a institucionalizar-se como modelo normal de relacionamento entre empregadores e trabalhadores conduzirá ao aumento da insegurança económica e social",escreve o autor,nas conclusões do estudo. António Casimiro Ferreira alerta para a vulnerabilização de territórios, jovens e mulheres. Além da flexibilidade legal,"discutivel no plano dos principios e das consequências práticas", o caso português evidencia" sinais preocupantes" quanto ã existência de trabalho à margem das normas, acrescenta o autor.

Dos 902 mil indivíduos que o DN considera, 727 mil têm contratos a prazo, enquanto os restantes apresentam formas mais atipicas de trabalho. Os dados de 2008 apontam para 174 mil pessoas. Neste segundo grupo incluem-se pessoas que apesar de terem contratos de prestação de serviços são consideradas "trabalhadores por conta de outrem"; individuos em "trabalho sazonal e sem contrato escrito" ou em situações de trabalho pontual.São estas as pessoas mais expostas ao risco de desemprego. Os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) revelam que os despedimentos unilaterais ou por mútuo acordo estão a ganhar protagonismo, tendo explicado já cerca de um quarto das novas situações de desemprego em Janeiro. Apesar disso, o "fim de trabalho não permanente" continua a ser a principal causa de inscrição nos centros de emprego. Que inclui a não renovação de contratos a prazo ou a interrupção de contratos mais precários.O conceito de precariedade aqui considerado exclui todos os trabalhadores por conta própria. Parte deles terão contratos de prestação de serviços, tal como explica Casimiro Ferreira no estudo que hoje será apresentado.

Recuo no final do ano

Os dados relativos a todo o ano de 2008 têm a vantagem de diluir alterações pontuais, mas escondem a redução do peso dos vinculos mais precários na segunda metade do ano.Os contratos considerados neste conceito de precariedade registaram o ponto mais alto no segundo trimestre do ano, com 925 mil pessoas incluidas, mostram os dados do INE.Desde então, a economia tem vindo a destruir emprego e o número tem vindo a cair: recuou para 901 mil pessoas no terceiro trimestre e 882 mil no final do ano.

Ao mesmo tempo, e numa altura em que o emprego caiu, aumentou o número de pessoas com contratos sem termo.Uma inversão recente que pode ser explicada pela análise sectorial: Educação e Administração Pública continuam a criar emprego, em contraciclo com o resto da economia.Mulheres seguram empregoDisparidades. É a outra face da progressiva entrada do sexo feminino no mercado. O número de homens empregados caiu, nos últimos dez anos As mulheres ainda são minoritárias no mercado de trabalho mas representavam, no ano passado, uma fatia de 46,2% de toda a população empregada, contra 45% em 2000, segundo dados apresentados no estudo de António Casimiro Ferreira.Entre 1999 e 2008, o crescimento do emprego apresentou taxas muito reduzidas, sobretudo devido à evolução da população masculina, que, em quatro dos dez anos analisados, apresentaram taxas de variação negativas."O crescimento do emprego é sustentado principalmente pelo emprego feminino", conclui o autor.

Cálculos do DN mostram que nesta década o emprego entre os homens cresceu, em média, 0,3%. Já entre as mulheres não parou de crescer, para atingir a taxa média de 1,1%.Por classes de idade, revela o estudo realizado por António Casimiro Ferreira, deu-se uma redução significativa da percentagem de empregados jovens entre os 15 e os 24 anos,"a que possivelmente não será alheia a entrada mais tardia no mercado de trabalho, devido ao prolongamento dos estudos". Já no escalão de maiores de 45 anos, a tendência é inversa e regista um crescimento sustentado.A maior dinâmica de criação de emprego feminino não tem garantido às mulheres as melhores condições de trabalho.

Dados do INE referentes ao ano passado mostram que as mulheres ganham, em média, 81,9% do que ganham os homens, e que esta proporção está a cair há dois anos, consequência da maior exposição á precariedade. Catarina Almeida in Diário de Notícias

terça-feira, 17 de março de 2009

RESPONSABILIDADE SOCIAL?


Nestlé: 150 anos de responsabilidade social.

Os gestores:

A Nestlé surgiu há 150 anos pelas mãos de um "humanista, muito preocupado com o bem comum". Henri Nestlé lançou a empresa com o objectivo de "produzir farinha láctea para combater a mortalidade infantil", recorda António Reffóios, director geral do grupo em Portugal. "O ADN da Nestlé tem muito haver com a responsabilidade social", frisa No nosso país, a multinacional apareceu em 1933 por iniciativa de Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, que obteve licença para o fabrico e comercialização da farinha láctea.

Como refere António Reffóios, Egas Moniz "tinha uma forma idêntica à da Nestlé, de ver o compromisso nos produtos de nutrição infantil". E neste produto, muito direccionado para bebés e crianças até aos três anos, a Nestlé assume um conjunto de compromissos de responsabilidade social como a isenção de pesticidas nos produtos agrícolas que compõem a farinha, baixos teores de açúcar, cereais 100% integrais.

A política de sustentabilidade da Nestlé está assente em três pilares: crianças, nutrição e saúde e bem-estar. E, nesse sentido, a Nestlé promove um conjunto de acções que visam os mais pequenos. Como referiu António Reffóios, o grupo desenvolve "com enorme sucesso o projecto Apeteceme' em escolas do 1º e 2º ciclo", iniciativa que visa sensibilizar as crianças para uma alimentação saudável. Tem como princípio doar produtos alimentares para um conjunto de organizações, como por exemplo o Banco Alimentar, "sempre com o denominador das crianças". E, adiantou ainda António Reffóios, também concede apoios, ao nível de mecenato, a instituições como os Pequenos Violinos da Orquestra Metropolitana. S.S.P"(Notícia desta semana)


O sindicalista:


"Tendo em conta o relatório da Nestlé, que apresentou bons resultados em 2007, podemos concluir que o sucesso da Empresa se deve em grande parte aos salários baixos e à política salarial que não acompanha a inflacção, situação apresentada por vários países no comité.
Em Portugal, os trabalhadores mais jovens, da Produção, fazem parte do grupo social que designamos de “geração 500”: são trabalhadores cujo salário (c. € 500) não lhes garante independência económica, dependendo da solidariedade dos pais; ou então têm de ter mais de um emprego e de trabalhar mais de doze horas por dia para poderem responder aos seus compromissos financeiros.

A Nestlé tem vindo a praticar uma política de mínimos, caracteristicamente mercantilista, segundo a lei da oferta e da procura, em que nós, trabalhadores, somos simples mercadoria.
O que move então os trabalhadores a aceitarem trabalhar sob estas condições?: A necessidade de sustentar a sua família, e também de dignificação pessoal e de responsabilidade social.
Mas a condição de salários baixos, sinal de não reconhecimento por esforços que a Empresa impõe, conduz a situações de desmotivação: pela produtividade, mas também pelas questões ambientais.

Também se reflecte na segurança, onde, apesar de adequados equipamentos de protecção individual, existe uma cultura facilitista, comum a toda a hierarquia. Como se pode, então, inverter esta cultura e criar condições para que se promova uma mentalidade de aplicação de boas práticas?(Joaquim Mesquita, dirigente sindical da Nestlé)

sábado, 14 de março de 2009

ANIVERSÁRIO DO PCP


Em Março de 1921 nasceu o Partido Comunista Português.Hoje é certamente o Partido Comunista mais significativo da Europa.

"A fundação do PCP em Março de 1921 situando-se embora na esteira da acção da Federação Maximalista não resulta do crescimento organizativo desta organização nem corresponde ao aumento da sua influência de massas.De facto, o período áureo da CGT situa-se exactamente entre 1919 e 1923/24.
São bem poucos e preparados os militantes que fundam o Partido Comunista Português.Só as idas à Russia de alguns militantes operários, o auxílio de Humbert Droz e a existencia de uma consciencia difusa das insuficiencias da organização sindical para a condução de uma luta vitoriosa puderam garantir ao partido alguma eficácia e organização"O PRIMEIRO CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA de César Oliveira,ed. Seara Nova

Uma passagem curiosa do debate da tese "O Governo dos Operários e dos Camponeses" no 1ºCongresso do PCP em 1923.


"Considerando que os governos burgueses não têm cuidado como deviam do problema da instrução e da educação, isto é do problema pedagógico;
Considerando que é assustadora a percentagem de analfabetismo no país;
Considerando que uma sociedade só será perfeita quando cada um dos seus componentes seja um ser consciente;
Considerando que a humanidade caminhará vitoriosa no futuro quando todos os espíritos forem inundados de luz,a luz do espírito que é a mais poderosa e produtiva em resultados;
Considerando que este papel pertence à escola, proponho:

1)Que o primeio cuidado de um governo de operários e camponeses seja a construção de edifícios próprios que comportem a população ecolar;
2)Que após a Revolução se torne um facto o ensino obrigatório, empregando-se medidas enérgicas para que os pais não subtraiam os filhos à escola;
3)Que se transforme por completo a escola fazendo adoptar processos pedagógicos inteiramente novos que expulsem a mentira e tornem a escola humana e atractiva;
4)Que se desenvolva o ensino técnico e o amor ao trabalho.( Relatado no Jornal o Comunista)

sexta-feira, 13 de março de 2009

MORRERAM À ESPERA DA INDEMNIZAÇÃO!!


Os ex-trabalhadores da Frapil estão há 24 anos para receber os salários de 1985. Dos 207 20 já morreram, alguns, dizem as viúvas, porque não aguentaram a situação.

A falência e as dívidas da empresa destruíram famílias."Foi o problema da Frapil que o matou". Luisa Oliveira, 68 anos, não tem dúvidas que os oito anos que o marido, Jorge Branco, esperou pelo pagamento dos ordenados em atraso da empresa de alternadores "contribuiu decisivamente para o ataque cardíaco que o vitimou aos 52 anos.

Luisa, igualmente ex-funcionária da Frapil, participou, ontem, em mais uma concentração de extrabalhadores da Frapil, uma empresa de Aveiro que faliu há 24 anos, deixando, até hoje, 207 funcionários com um ano de ordenados em atraso.

A lentidão do processo judicial, que levou o Tribunal Europeu a condenar o Estado português a indemnizar os trabalhadores, conheceu esta semana um novo episódio.Os ex-trabalhadores ainda não sabem quando vão receber os 2,4 milhões de euros que deverão resultar da venda do terreno da empresa.Jorge Branco não foi o único a morrer ao longo deste processo. Vinte ex-trabalhadores não viram a cor do dinheiro. "Morreram antes do processo chegar ao fim", quantifica a porta-voz dos trabalhadores, Lurdes Modesto. Tal como Luisa, também Fátima Pinto, igualmente ex-funcionária da Frapil, afirma que o marido não aguentou o "stress e o desânimo" provocado pela forma como fechou a empresa, morrendo, aos 56 anos, com um ataque cardíaco.

O fim da empresa mudou a vida de muitos. Uma dezena de casais que trabalhavam na Frapil divorciaram-se. "Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".A frase popular é relembrada por Armando Vinagre, ex-trabalhador da Frapil, e testemunha da forma como o incumprimento da empresa "acabou com o casamento do irmão mais novo".

Sem dinheiro para pagar o empréstimo, venderam a casa e cada um foi à sua vida. Ele ficou por cá, ela emigrou para a Suíça com o filho", conta Armando.Ele próprio, Armando, foi obrigado a trocar uma vivenda com jardim por uma casa camarária num bairro social.Os 20 ex-trabalhadores que morreram deixaram 60 herdeiros. Francisco Picado tem direito a 19 mil euros do pai, Albino Picado, falecido há 12 anos, tinha 59 anos. "Fui obrigado a deixar a escola e a ir trabalhar para pagar o empréstimo da casa", lembra Francisco.

quinta-feira, 12 de março de 2009

QUEM SOMOS QUANDO PARAMOS?


Artigo de Sandra Monteiro no Le Monde Diplomatique:

O desemprego em larga escala, com todos os problemas sociais e dramas individuais que origina, é o problema central com que hoje as sociedades se confrontam. Esta realidade é hoje muito visível em países como Portugal, onde vigora desde há muito um modelo assente em baixos salários e onde as protecções sociais, além de serem fracas, não abrangem grande parte dos trabalhadores precários.

Sendo os baixos níveis de rendimentos tendencialmente causadores de endividamento e não de poupança, para grande parte da população a experiência do desemprego, essa desocupação não desejada e potencialmente prolongada, depressa se torna sinónimo de acentuada perda de poder de compra, de incapacidade de fazer face a despesas e compromissos assumidos, de desestruturação de vínculos sociais e familiares, de desistência de sonhos e projectos e de degradação da saúde física e psicológica, quando não de fome, de doença, de pobreza e de exclusão.

Do outro lado desta equação, deste disfuncionamento programado e desumano, estão os trabalhadores que se encontram empregados, mesmo que sobre eles paire a ameaça do desemprego. A estes está reservado um aumento da exploração, que se traduz, entre outros aspectos, nos níveis salariais, no tempo de trabalho e no perfil do próprio trabalho.
Daí a importância da defesa do pleno emprego e, em simultâneo, do emprego com direitos. O desemprego em massa e o emprego sobreexplorado são, com efeito, dois lados de um mesmo sistema que desvaloriza o trabalho, que trata a mão-de-obra como trata tudo aquilo que transformou em mercadoria, da máquina que se usa enquanto não avaria e se deita fora, até aos recursos naturais que são desbaratados sem qualquer noção de sustentabilidade ambiental.

O tempo da globalização neoliberal é intensivo e imediatista, compõe-se de ciclos curtos em que se procura extrair o máximo rendimento e consome, nesse processo autofágico, recursos, produtos e pessoas descartáveis. Procura criar seres humanos adaptados às necessidades do ciclo de produção, não às necessidades do ciclo de vida de cada um. Algures entre a ocupação absoluta e a desocupação absoluta é elidido o tempo de descanso regular que devia contrapor-se ao tempo do trabalho e torná-lo possível; é suprimido o corte com o universo do trabalho, anulando um distanciamento que favoreceria que o trabalho fosse encarado como fonte de desenvolvimento pessoal; é abolida a oportunidade de se parar em boas condições, reflectindo criticamente sobre si mesmo e sobre a sociedade e usando essa reflexão para a transformação pessoal e social.
«O que acontece quando alguém decide parar?», pergunta Tiago Rodrigues, autor do texto que deu origem à peça de teatro A Mulher que Parou, encenada por Cláudia Gaiolas e Pedro Carraça, e interpretada pelo grupo de teatro «Nu Kre Bai Na Bu Onda» (em crioulo, «Nós queremos ir na tua onda»), composto por jovens do bairro da Cova da Moura (Amadora). A peça, recentemente apresentada no espaço da associação cultural alkantara, que produziu o projecto, resulta de um trabalho que desde 2006 junta vários parceiros, entre os quais a Associação Cultural Moinho da Juventude, e que tem como objectivo a requalificação social e urbana daquele bairro da Amadora, através do desenvolvimento de competências em várias áreas, como o desporto, a música, a dança e o teatro.

Os actores não são profissionais; são jovens que depois dos estudos, do trabalho ou de outras actividades em que estão envolvidos na sua comunidade, ocupam o teatro como espaço de liberdade e de criatividade e constroem a sua própria relação com as suas experiências, sonhos e interrogações. É certo que a peça faz um retrato de uma comunidade num tempo e num espaço específicos, mas usa essa paisagem social para reflectir sobre questões universais.

Em A Mulher que Parou há uma mulher, Marta, que um dia decidiu parar. Simplesmente isso: sentar-se, não fazer nada. Não trabalhar no café, não fazer atletismo com as amigas, não ajudar financeiramente o irmão, não dormir com o marido, não fazer o jantar ou alimentar-se… nem sequer explicar por que motivo parou. Não porque não queira, mas porque não sabe. Não o fez por impulso irreflectido, nem por doença, nem por egoísmo, nem por preguiça: afirma, aliás, que é a coisa mais difícil que já fez. A questão do ser, da radicalidade da decisão tomada, permanecerá como um mistério até ao fim. O que motivou Marta e o que pôde observar (de si, dos outros) estando parada, só a ela pertence.

Como nota o autor do texto, «esta peça é mais sobre uma comunidade do que sobre Marta», tal «como as tragédias gregas que estavam mais preocupadas com os benefícios e malefícios para a cidade do que com o destino dos seus heróis». Entre o estatuto do herói e do marginal, formas tradicionais de recusa do compromisso com a sociedade, há uma «linha ténue» que permite «compreender a forma como vivemos», afirma Tiago Rodrigues.
Caminhando sobre essa «linha ténue», a comunidade reage sem surpresa: começa por tentar demover Marta dizendo-lhe que ela precisa de manter o emprego, as actividades e as relações com os outros; em seguida, insiste no quanto a comunidade precisa dela; e depois, como não tem êxito, recupera o seu normal funcionamento, redistribui papéis e segue em frente, como fazem todos os formigueiros que também somos. Mesmo que um dia alguém mais decida parar.
Esta peça deixa muitas perguntas: Marta desistiu de lutar ou só nesse momento começou a lutar?; deixou de ser quem era ou tornou-se mais ela mesma?… Como diz uma das personagens, ela é como muita gente do bairro que não faz nada, mas no caso dela é pior – porque não finge. Quem somos quando fazemos alguma coisa? Quem somos quando paramos? O problema do sentido permanece intacto, fazendo irromper a interrogação «porquê?» por cima do «como?» com que tendemos a organizar a vida de todos os dias.

Na verdade, se nos deixarmos interpelar pela questão do sentido, descobrimos que somos todos deste bairro. Na perspectiva mais favorável, estaremos também inseridos numa comunidade. Teremos vínculos sociais, profissionais e familiares, redes afectivas e espaços de sociabilidade. Seremos capazes de distinguir e de apreciar o tempo que dedicamos ao trabalho, ao lazer… e a não fazer nada. Talvez assim possamos tentar saber quem somos quando trabalhamos, e quem somos quando paramos. Pode ser a coisa mais difícil que já tentámos fazer, é certo. Mas o resultado pode ser uma sociedade mais humana.
quinta-feira 5 de Março de 2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

SIDA NOS LOCAIS DE TRABALHO!


Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, nove em cada dez pessoas infectadas com VIH/SIDA são adultos com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos, ou seja, em idade activa e produtiva. Em Portugal, do número de casos de SIDA notificados ao Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis (CVEDT), até 31 de Dezembro de 2007, cerca de 85% inseriam-se nesse mesmo intervalo de idade. Estes números comprovam o papel fulcral que o local de trabalho tem na luta contra esta epidemia. VER video

sexta-feira, 6 de março de 2009

TRABALHO NA GALIZA: nos últimos cinco anos morreram 36 trabalhadores!


Nos últimos cinco anos morreram na Galiza 36 operários portugueses, nas estradas e nas obras", revela Albano Ribeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Norte, explicando que os "trabalhos com um nível maior de perigosidade são deixados para os nossos compatriotas".
Desde Julho de 2008 há registo da morte de, pelo menos, cinco emigrantes na Galiza - de um rapaz de 27 anos que ficou debaixo de um elevador numa obra em Betanzos, ao caso de um homem esmagado por um veículo quando estava a trabalhar na construção da auto-estrada que liga Ferrol a Vilalba.

"O expoente máximo da exploração foi o caso de um operário que morreu na sequência de uma queda de mais de 20 metros. Meteram o corpo numa carrinha e vieram trazê-lo a Portugal", diz Albano Ribeiro.De acordo com o sindicalista, o grau de exigência em termos de segurança é "muito menor" em Espanha do que em Portugal. "Já fiz vários périplos pela Galiza e sei bem do que estou a falar", garante Albano Ribeiro, apontando os horários de trabalho excessivamente longos e uma alimentação "nem sempre compatível com o esforço físico exigido" como outras causas para a elevada sinistralidade laboral."

Um operário português chega a trabalhar na Galiza mais de 10 ou 11 horas por dia para receber um salário de mil euros, enquanto um espanhol leva para casa 1200 euros por 8 horas de trabalho", conclui.

O RUÍDO E OS RISCOS ELÉCTRICOS-maioria de trabalhadores expostos


Os agentes físicos são os que se encontram com mais frequencia nos estabelecimentos ao longo dos anos, segundo foi revelado recentemente num documento que apresenta os indicadores de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho-resultados 2002-2007,a partir da análise do relatório anual obrigatório que as enmpresas apresentam.Dos agente classificados, o ruído e os riscos eléctricos são aqueles aos quais mais trabalhadores estão expostos.Ver