PERGUNTAS A ... ELISIO ESTANQUE ,SOCIÓLOGO, CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS DE COIMBRA
"Renovação sindical depende da atitude dos políticos e empresários' "
- Até que ponto a crise poderá levar os trabalhadores a aproximarem-se do movimento sindical e a inverter a crescente individualização das relações de trabalho?
É preciso equacionar o grau de profundidade e a duração da crise. Acredito que este espectro de encerramento de empresas e o aumento do desemprego conduzirá a mais carências. Nesse cenário, e sabendo que há um clima pouco favorável à filiação sindical, os trabalhadores têm medo da retaliação das chefias e da empresa se ousarem filiarem-se no sindicato. Mas o problema não é de agora, a questão da deslocalização de empresas há muito que se coloca assim com o agravamento da precariedade, que atingiu sectores vários da nossa actividade económica sem que os sindicatos conseguissem responder.
Mas também é curioso referir que nos últimos anos começaram a surgir alguns indícios de que os sectores mais precários também poderiam tomar autonomamente a iniciativa [grupos como o FERVE, ver textos ao lado].
Estes movimentos podem levar a uma renovação do sindicalismo?
Se quisermos ser optimistas diria que isso pode acontecer nas duas vertentes: dentro destes movimentos e nos sindicatos. Um dos efeitos miméticos que alguns dos movimentos tiveram foi obrigar a que alguns dirigentes sindicais prestassem mais atenção a esse campo e que estejam a fazer um esforço para acompanhar e a dirigir o discurso aos precários para os chamar à participação.
Nenhuma das centrais sindicais é indiferente a fenómenos como o "Mayday" [ um movimento independente que tem como principal objectivo lutar contra precariedade e que é transversal a toda a Europa] ou aos movimentos dos professores que se organizam autonomamente com uma linguagem diferente. As instituições sentem quando o pulsar da sociedade parece ameaçar os cargos instituídos e isso pode levar à sua abertura a outras perspectivas.
Mas haverá condições para o sindicalismo se renovar?
Acredito que há condições objectivas para uma reaproximação e um reforço do campo sindical. Mas se isso vai acontecer ou não depende muito da capacidade dos próprios sindicatos mostrarem abertura e uma vontade efectiva para se readaptarem aos novos tempos. Esta possibilidade depende também da atitude do poder político e do sector empresarial perante os sindicatos. E talvez aí a crise contribua para uma guinada de paradigma do lado da estratégia de gestão, talvez alguns sectores percebam que é importante haver organizações de trabalhadores que possam negociar com eles incentivos para uma maior dedicação ao espírito da empresa .
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