Dei-me ao trabalho de ler, embora por alto, o documento do famoso António Costa Silva intitulado
pomposamente «Visão estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social» com um total de 120 páginas na versão que me chegou.Depois de analisar o indice e de ir lendo
capítulo a capítulo nota-se que o grande
ausente desta grande visão é quem trabalha
e respectivas organizações.Ausente como actor porque como não poderia
deixar de ser o documento contém um capítulo sobre a qualificação.Qualificação
óbviamente dos recursos humanos.Estes são mais uma das questões que devem ser tratadas como o mar, a
floresta, as tecnologias etc.
Assim, neste documento retintamente tecnocrata
onde se diz com todas as letras que é necessário pensar «fora das ortodoxias de
direita e de esquerda e encontrar um equilibrio virtuoso entre Estado e
Mercado»» os trabalhadores e suas organizações estão ausentes como actor
social, económico e político.Não podemos deixar de sorrir com este virtuoso, um
conceito tão pouco rigoroso num economista ou cientista social.Mas afinal onde
se situa políticamente o sr. Costa?Lendo o documento ficamos a saber.
Embora se diga em vários locais que a
competitividade não deve ser conseguida pelos baixos salários nada contém este
documento no sentido de evitar essa estratégia empresarial.O Sr.Costa fala
antes num ridículo pacto Empresas/Estado, dizendo claramente em várias páginas
que o estado existe antes de mais nada para apoiar a competitividade e
capitalização das empresas, para além da estafada função de regulador.
Esta visão estratégica do Sr. Costa é assim
uma visão neo corporativa onde se desenha uma sociedade altamente tecnológica,
verde e competitiva tendo por base uma «santa aliança» entre o Estado e o mercado,
ou seja,teoriza um capitalismo pós corona, um capitalismo verde e digital, pretensamente regulado, mas
igualmente explorador dos trabalhadores.
Mas então a «visão» do sr. Costa não tem nada,
mesmo nada que se aproveite?Terá certamente, embora algumas ideias ali
plasmadas já o foram por outros visonários do sistema e, em alguns casos, há
décadas.A necessidade de se ter uma estratégia para o mar,para a floresta, para
o digital, para as energias renováveis, etc,etc.
Apenas um reparo:embora dizendo que vamos ter
fundos europeus como nunca tivemos,o que ainda não é absolutamente certo, esta
visão estratégica para dez anos exigiria milhares de milhões de euros para se
implementar.No entanto, mesmo com todos esses fundos europeus, a nossa dívida é
enorme.Mas sobre este assunto, tão importante relativamente ao investimento o
sr. Costa pouco ou nada diz.
Mas sendo esta visão estratégica tão pouco
pertinente qual é a sua importância?Apenas porque o sr Costa poderá vir a ser
ministro a curto ou médio prazo.Mais um ministro que tem uma visão moderna e
futurista de um capitalismo verde mas onde não cabem as organizações de
trabalhadores e o seu importante papel na sociedade, no aprofundamento da
democracia, no bem estar dos trabalhadores, numa economia que não mate mas que
alimente todo um povo.