Recentemente um semanário português noticiou que 90% dos portugueses sentiram que a pandemia os
afectou psicológicamente.A ansiedade e a depressão eram maioritáriamente referidos como resultados da vida em pandemia e o artigo referia algumas causas como o confinamento,sem abordar o probelma no âmbito do trabalho.O artigo referia, no entanto, que a pandemia da Covid ajudou a melhorar a percepção dos portugueses sobre a importância da saúde mental.
Todavia, já anos antes se falava dos problemas
de saúde mental e a relação que, em muitos casos, tinha com a profissão.Algumas
pesquisas na UE mostram que neste espaço 17% das depressões e 4% das doenças
cardiovasculares estão ligadas à tensão no trabalho. A Federação Europeia dos Quadros
anunciava recentemente que 4 quadros em cinco enfrentam problemas de stresse relacionado
com o trabalho, nomeadamente com a sobrecarga de trabalho.Há que tomar medidas
urgentes!
A pandemia apressou o trabalho digital
A pandemia apressou o trabalho digital nas
nossas sociedades.O teletrabalho até então residual, tornou-se corrente am
alguns sectores.Por outro lado aumentaram os serviços prestados à distância ou
por plataforma, como é o caso da distribuição de alimentos, transportes e
saúde.Este tipo de trabalho alagou o poder do algoritmo, a perda de autonomia,
a precariedade.
A introdução da gestão por algoritmo no
trabalho digital aperta o controlo e monitorização do trabalhador retirando-lhe
poder de negociação e autonomia.
A pandemia alargou também o trabalho no
domicílio com todas as consequências inerentes.Altera o paradigma industrial do
trabalho ao colocar o local de trabalho na casa do trabalhador.O trabalho e o
capitalismo invade o último reduto do trabalhador que fica sem horários e sem
qualquer separação entre vida privada e vida profissional.Fecha-se o circulo
tecnológico iniciado com o portátil e o telemóvel.
Ora, esta situação vai ter impacto na saúde
mental dos trabalhadores.Convém lembrar um grande principio da prevenção de
riscos.O foco da prevenção deve estar na empresa e na organização do
trabalho.Quando o trabalhador fica doente com relação ao seu trabalho é porque
previamente a empresa está doente, ou seja, temos trabalhadores doentes porque
temos empresas com uma organização do trabalho patológica que gera doença.
O que é uma empresa doente?
Neste sentido uma empresa doente
caracteriza-se por:
1.Um alto grau de precariedade e zero apoio
social aos trabalhadores.A cultura é a
do descarte;
2.Uma organização do trabalho sem participação
dos trabalhadores.Os objectivos, por vezes irrealistas, são definidos sem
consulta dos mesmos;
3.Uma organização do trabalho autoritária,
hierarquizada.Pouca autonomia das chefias e trabalhadores;
4.Uma empresa sem diálogo social organizado,
sem organizações de trabalhadores;
5.Uma empresa sem planeamento das encomendas e
tarefas, sem definição do papel de cada um;
Dada situação de risco psicossocial que existe
nos locais de trabalho na Europa os sindicatos europeus defendem uma Directiva sobre
a prevenção dos riscos psicossociais que estabeleça as obrigações dos empregadores,
a participação dos trabalhadores e mecanismos concretos de proteção dos
trabalhadores.A Comissão Europeia não considera a questão prioritária!O Parlamento
Europeu tem aporovado Resoluções pedindo que se tomem medidas.A luta agora é
essa!