quinta-feira, 16 de maio de 2024

O PARLAMENTO EUROPEU E A LUTA POR UMA EUROPA SOCIAL

 

No próximo dia 9 de junho iremos eleger os deputados para o Parlamento Europeu (PE), o único órgão da União Europeia eleito diretamente pelos cidadãos europeus.Existe alguma apreensão quanto à nova composição política do PE.As sondagens e estudos realizados em alguns países apontam para um reforço dos partidos conservadores e de extrema direita.Tal tendência, a verificar-se no dia das eleições, não augura nada de bom para a dimensão


social da União

.De facto os inquéritos realizados, nomeadamente na Bélgica e Alemanha,mostram que os deputados dessas forças e desses países têm ,no passado,votado contra as propostas de diretivas mais sociais, nomeadamente sobre o salário mínimo,plataformas digitais,direitos humanos nas empresas!

Numa recente conferencia do EZA-Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores sobre a Europa realizada no passado mês de março,onde estive numa delegação da BASE-FUT, foram referidos vários estudos que confirmam a possibilidade de um reforço da extrema direita no PE.

Hoje o PE tem um amplo poder ao nível da co-decisão, da resolução e parecer.Os pincipais actos legislativos no domínio social passam pelo Parlamento Europeu que tem sido mais progressista que a Comissão Europeia e o Conselho Europeu.Nem sempre as boas propostas do PE são aceites pelos governos das países membros!

É importante o papel do PE na elaboração das normas europeias

Basta dar uma leitura pelas  diretivas aprovadas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho e que terão  de ser transpostas para a legislação nacional neste ano e seguintes:

-A Diretiva 2024/869 -sobre a melhoria dos limites de exposição dos trabalhadores ao chumbo;

-A Diretiva  2023/2668- relativa à proteção dos trabalhadores expostos à exposição ao amianto;

-A Diretiva2023/970-relativa  à igualdade salarial entre homens e mulheres;

-A Diretiva 2022/2041-relativa aos salários mínimos;

-A Diretiva 2022/431-relativa aos riscos de exposição dos trabalhadores a produtos cancerígenos.

A Diretiva para melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores de plataformas digitais aprovada a 24 de abril passado que pode abranger cerca de 40 milhões de trabalhadores europeus e que segundo fontes do PE « introduz uma presunção de relação de trabalho (por oposição ao trabalho por conta própria), que é desencadeada quando estão presentes factos que indicam controlo e direção sobre a execução do trabalho, em conformidade com a legislação nacional e as convenções coletivas, bem como tendo em conta a jurisprudência da UE.

A diretiva obriga os países da UE a estabelecer uma presunção legal ilidível de emprego a nível nacional, com o objetivo de corrigir o desequilíbrio de poder entre a plataforma digital e o trabalhador. O ónus da prova recai sobre a plataforma, o que significa que cabe à plataforma provar que não existe qualquer relação de trabalho.

E ainda as que estão em negociação ou práticamente aprovadas como :

-A  Proposta de Diretiva que pretende melhorar a informação e consulta  dos trabalhadores ( Conselhos de Empresa Europeus);

Diretiva «Estagios» relativa à melhoria das condições de trabalho dos estagiários europeus.

Um Parlamento Europeu progressista pode ajudar nas lutas dos trabalhadores

Mas o PE tem vindo a negociar e aprovar várias  Resoluções sobre diversas matérias como a inteligência artificial, desconexão do trabalho e a necessidade de se melhorar a prevenção dos riscos profissionais,nomeadamente apelando ao  acidente zero e à necessidade de uma diretiva sobre a prevenção dos riscos psicossociais no trabalho.

É verdade que o PE não é ainda um Parlamento com poderes legislativos plenos como são em geral os parlamentos nacionais.É verdade que há muito que a União,em particular o Conselho Europeu, abandonou o principio fundamental da harmonização no progresso estabelecendo apenas mínimos para os Estados.Mas nada impede que a luta dos trabalhadores e de outras organizações sociais em cada país  consiga estabelecer patamares sociais superiores aos estabelecidos nas diretivas europeias.

Mesmo estabelecendo mínimos as diretivas europeias têm permitido historicamente avanços sociais importantes.No caso português temos ,por exemplo, a área da segurança e saúde no trabalho onde as reivindicações sindicais e as diretivas europeias permitiram, na década de 90 do século XX, um extraordinário salto legislativo com reflexos nos locais de trabalho e na melhoria das condições de trabalho

Com um PE fortalecido por votos nas forças progressitas serão criadas melhores  condições para um  diálogo social europeu mais forte.Levar à prática em todos os países os objetivos do Pilar Europeu dos Direitos Sociais exige um Parlamento Europeu onde a sua maioria de deputados defenda os direitos fundamentais dos trabalhadores como o direito ao trabalho em condições de saúde física e mental,proteção social na doença,no desemprego e velhice;direito à informação ,participação e decisão nas empresas e nas instituições democráticas.

Não entendemos assim que a CGTP, a componente mais dinâmica do Movimento Sindical Português, não apele claramente ao voto nas eleições de 9 de junho!Para a BASE-FUT é importante votar e impedir  o crescimento dos partidos de extrema direita!