No passado dia 28 de julho o Governo e os parceiros sociais, com excepção da CGTP, assinaram o
«Acordo sobre Formação Profissional e Qualificação: um desígnio estratégico para as pessoas, para as empresas e para o País».Numa primeira leitura do documento de 20 páginas a impressão que temos pela frente é que é um enfadonho catálogo de intenções, cheio de palavrões técnicos que apenas os mais entendidos no sistema poderão verdadeiramente apreciar.Passado um mês poucos comentários li sobre esta questão tão importante para o nosso País e para os trabalhadores em especial.
Pela minha cabeça passam-me vários episódios
vividos em particular na restauração onde cheguei a ensinar uma empregada como deveria abrir
correctamente uma garrafa de tinto com um saca-rolhas.Frequentemente vejo
empregados que nem sabem porque lado devem retirar o prato e como devem tratar
os talheres.Então não posso deixar de me interrogar como é possível que após
tantos milhões para a formação, tantos cursos de formação, tanta formação nos
encontremos nesta situação.Será que os trabalhadores formados estão todos nos
grandes hotéis e restaurantes de luxo ou estão no desemprego porque têm
formação? Será que emigraram para o estrangeiro?
Significa então que a CGTP , que não assinou o
Acordo, tem alguma razão quando olha para mais um acordo mas não vê como vai
ser cumprido e como se vai conetar a formação recebida á categoria
profissional, á melhoria salarial, à produtividade e bem estar dos
trabalhadores?Como valorizar a formação
e qualificação quando o mercado de trabalho tem as portas completamente abertas
á precariedade? Ao trabalho barato dos imigrantes que, no caso da restauração,
pode chegar a 2 euros à hora?
Vamos ter um aumento da população qualificada
tanto a nível dos trabalhadores como dos pequenos empresários.É bom!Mas não
vemos qualquer mecanismo que , para além do livre mercado, valorize a formação na carreira do
trabalhador, incentive o trabalhador a recorrer á formação para se valorizar e
melhorar o seu presente e o seu futuro.
Recordo que na Função Pública os trabalhadores
faziam cursos de formação profissional para o curriculo.Todavia, o júri dos
concursos percebendo o estrategema,começaram a desvalorizar a formação
com menos de trinta horas.A motivação da maioria dos trabalhadores não
era grande pois a formação tinha e tem pouco impacto na sua carreira.
Lembro-me ainda que durante os meus anos de
trabalho fiz vários cursos de informática.Todavia, foi no dia a dia com os meus
colegas mais jovens e instruídos na matéria que eu aprendi alguma
coisa.Coitados, eles nunca receberam nada por essa formação, enquanto os
formandos encartados ganhavam que se fartavam.
No actual contexto de apresentação de trabalho
à Comissão Europeia no quadro da «bazuca» este Acordo tem inegávelmente algum
valor político para o governo e parceiros sociais.O fulcro será o quadro
financeiro de 2021-2027.Metem-se umas buchas de digital e transição energética
e está feito o bolo.
Mas não seria altura para um debate mais
profundo e alargado sobre as debilidades do sistema de formação
profissional?Não seria necessário responsabilizar mais as empresas na formação
dos seus trabalhadores em vez de arranjar mecanismos de lhes dar subsídios para
os encargos com a formação?Afinal, os capitalistas portugueses fartam-se de
dizer que o Estado não se deve meter na vida das empresas e depois querem
dinheiro para a formação e para pagarem um salário mínimo?
O cinismo político nos dias de hoje não tem
limites!