As recentes declarações do Cardeal de Lisboa, D. José Policarpo nas Caldas da Rainha sobre o interesse nacional e o bem comum dando a entender que os sindicatos não deveriam fazer reivindicações neste momento não foram bem aceites, quer pela UGT quer pela CGTP !Palavras soltas, desabafos menos prudentes?Penso que não!
Segundo a noticia da Agência Ecclesia D. José Policarpo afirmaria não gostar do posicionamento dos «grupos de classes» entre os quais os sindicatos,numa altura em que têm que ser vencidas as visões derrotistas e pessimistas.Diria ainda que lhe está a «fazer muita impressão neste anuncio das medidas difíceis, que até nos foram impostas por quem nos emprestou dinheiro, os grupos que estão a fazer reivindicações.Não gosto, falta pensar no bem comum».
A relação hierarquia da Igreja Católica e sindicatos nunca foi verdadeiramente pacífica em Portugal.Duas razões entre outras,explicam esta situação que nem a democracia nascida com o 25 de Abril resolveu de facto.
A primeira tem a ver com o facto da maioria dos sindicatos serem e terem sido ao longo da nossa história distantes ideologicamente da Igreja; a segunda é o facto da Igreja em Portugal ter um percurso bastante conservador e ter uma leitura em geral muito superficial do mundo do trabalho.A
Hierarquia ao longo dos tempos teve inclusive serias dificuldades de relacionamento com os próprios movimentos operários católicos, em particular no tempo do Cardeal Cerejeira!Verdadeiramente a Igreja em Portugal nunca teve uma Pastoral para o mundo do trabalho.Apenas teve alguns padres carismáticos que se dedicaram ao mundo operário.
Esta questão foi assim relativamente atenuada após a Revolução do 25 de Abril pela influencia dos grupos de trabalhadores e sindicalistas oriundos do sector operário católico empenhados na UGT, CGTP e sindicatos independentes.
Mas a impressão que se tem é que a Hierarquia continua distante dos problemas do trabalho e dando pouca importancia aos seus próprios movimentos de trabalhadores (LOC/MTC e JOC).Este é, sem dúvida, uma questão a aprofundar por esses mesmos Movimentos.
Ora as declarações recentes do Cardeal de Lisboa mostram mais uma vez uma leitura superficial do momento que estamos a viver, da situação dos trabalhadores em geral , declarações que a meu ver vão para alem do que está balizado na «doutrina social da Igreja».
Esta doutrina defende por exemplo que a Igreja não deve adoptar uma organização económica e social concreta, Todavia, acreditando nas notícias, o Cardeal de Lisboa deu a entender que o memorando da troika é para respeitar sem qualquer reparo, crítica ou contestação!E que isso era defender o interesse nacional e o bem comum...Ora o texto da troika é questionável e revela nas medidas que propõe uma organização económica e social concreta.Mais grave ainda o Cardeal nem sequer põe em causa a elevada taxa de juros a que sujeitam Portugal!
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