Frequentemente encontramos trabalhadores que ou nunca fizeram greve ou deixaram de participar nesta
ação sindical!Quando questionados desabafam:«para que servem as greves?pouco ou nada muda!»
Não são raros os trabalhadores que aderem a uma greve para ficar em casa, para descansar.É uma folga, embora cara para quem um magro salário!Estes trabalhadores quando solicitados para participarem numa manifestação laboral ao sábado já não participam, arranjam várias desculpas ,em geral com afazeres domésticos, no caso das mulheres!
Historicamente a greve foi sempre uma arma do movimento sindical em todo o mundo.Um sindicato que diga que não recorre à greve é automaticamente um sindicato sem credibilidade, olhado com desconfiança quer pelos trabalhadores quer pelas instituições democráticas!Embora não reconhecida como um direito pelas entidades patronais, nomeadamente na OIT, a greve é considerada um direito fundamental dos trabalhadores pela Carta Social Europeia, bem como mais tarde pela Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais, pilar essencial da dimensão social da União Europeia.A nossa Constituição proibe a greve patronal, parte mais forte da relação laboral, e reconhece o direito à greve dos trabalhadores e suas organizações de classe.
Todavia, a greve é a principal arma dos trabalhadores em democracia e tem várias virtualidades.É um instrumento que pode ser utilizado por solidariedade para com causas ou lutas de outros trabalhadores,para obrigar a entidade patronal a negociar, em caso de impasse nas negociações,e para se alcançarem objetivos e conquistas ao nível das condições de trabalho, repor direitos sonegados na prática pela empresa, valorização salarial e regalias estabelecidas ou a estabelecer nos acordos e convenções.Cada conflito, cada processo, exige uma análise concreta da situação concreta e a organização sindical fará essa análise, essa avaliação, no momento apropriado.
Em Portugal, e não só, vários obstáculos se colocam hoje ao êxito de uma greve.Temos obstáculos relacionados com as mudanças ocorridas no trabalho como a destruição dos grandes coletivos operários, a individualização e fragmentação das relações laborais e, em particular a precarização e flexibilização de horários e funções, a mobilidade geográfica e uma gestão crescentemente hostil à organização sindical, inclusive nos serviços públicos!
Temos depois obstáculos, ou melhor dito, problemas relacionados com a organização sindical como seja a diminuição da representação sindical em algumas classes profissionais, nomeadamente em alguns setores operários, a dificuldade de implantação sindical nos serviços e nos jovens trabalhadores,a dificuldade em fazer a rotação de delegados e dirigentes sindicais,a identificação destes com as opções políticas partidárias.
Depois temos os problemas relacionados com a ação sindical nos locais de trabalho, a tática e estratégia sindical a nível das organizações sindicais.
Perante as dificuldades referidas e até o cansaço da estrutura sindical, após décadas de lutas sociais, o desgaste humano e financeiro que isso acarretou ás organizações de trabalhadores o movimento sindical tem vindo a a ficar de «pele e osso».O que quero dizer com esta expressão tão pouco sindical?
Relativamente à UGT, na sua linha ultra reformista,o que se vê é uma organização burocrática, raramente vista nos locais de trabalho, privilegiando a negociação,procurando evitar o mal menor, capitulando em momentos fundamentais como os dos anos da Troika.Os seus dirigentes procuram antes de mais ser «parceiros» do Estado e «ouvidos» pelos patrões!Isso basta-lhe!
Quanto à CGTP, a única que ainda aparece em alguns locais de trabalho,vai funcionado na base dos seus milhares de delegados e dirigentes que alimentam as greves e as manifestações.Por enquanto!
A maioria das greves não conseguem os seus objetivos.Todavia, as greves são tratadas como momentos de agitação e de arvorar bandeiras e palavras de ordem , em geral identificadas partidariamente, perante os meios de comunicação que agora vão a todas!!Se na primeira greve nada se conseguiu volta-se à carga com uma segunda ou terceira! Por isso cada vez temos menos trabalhadores a fazerem greve e a manifestarem-se!Por isso temos cada vez mais trabalhadores que perguntam: para que servem as greves?
Ora, é natural que uma parte dos dirigentes sindicais não concorde comigo!Para eles no sindicato e noutros locais as coisas são feitas com os iluminados, os conscientes, a vanguarda que mostra o caminho.Outros dirigentes sabem bem do que estou a falar.Da desmobilização entre os companheiros, da descrença ou comodismo, agora que está a «geringonça»tudo virá lá de cima sem luta!Dos trabalhadores com pequeno salário que se questionam se valerá a pena pagar a quota sindical.Dos jovens trabalhadores que ignoram o acordo de empresa ou nem ouviram falar nele!
Creio que estes anos de maior acalmia não serviram para uma reflexão séria sobre o que se passa nas organizações sindicais.Será necessário fazer essa reflexão e preparar as organizações para os próximos tempos!O neoliberalismo não está derrotado nem política nem ideologicamente.Os sindicatos são organizações de massas, não é?Então basta ser trabalhador e pagar a quota sindical.Logo devem ser tratados como organizações de massas.Os ativistas sindicais não podem esquecer esta realidade tão simples.O sindicato e a greve têm que ser úteis e trazer ganhos aos trabalhadores!
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