Há dias pasmei com um artigo de 27 de julho passado, no Observador ,de um senhor Paulo Marcos, Presidente do Sindicato dos
Quadros Bancários, intitulado «O CES-o último reduto marxista».Para meu espanto aqui o CES é o Conselho Económico e Social,Órgão tripartido da mais pura social democracia europeia,um figurino de poder partilhado entre sindicatos,patrões e governos defendido desde 1919 pela Organização Internacional do trabalho (OIT) e pelas instituições da Comunidade Europeia e mais tarde pela União Europeia!Pois este senhor escreve dizendo que toda a construção e trabalho deste órgão estão imbuidos da ideologia marxista e que denfende interesses corporativos sindicais caducos!Como não leio o Observador não me tinha dado conta de que este jornal,pretensamente de uma direita ilustrada, publicava tais barbaridades, ou deixava tais ignorantes escreverem sobre matérias que não dominam.
Já temos estudos
suficientes de investigadores credenciados sobre esta matéria.Basta procurar
alguns no ISCTE,no Centros de Estudos Sociais e no próprio Conselho
Económico.Estudos críticos que demonstram que a ação do Conselho Económico
poderá ser tudo menos marxista e muito menos leninista!
O facto de
existir demasiado protagonismo do Estado neste Órgão tal não significa que seja
marxista!Salazar ainda era mais intervencionista nas relações de trabalho e não
era marxista!O facto de alguns sindicatos ou confederações não estarem
representados no CES e na Comissão Permanente de Concertação não é um indício
de marxismo pois tem que ver com a representatividade das organizações,sem
grandes critérios de apuramento,admito.Os interesses sindicais representados
são reconhecidamente maioritários! Esses «interesses sindicais» são a UGT e a
CGTP.São caducos?É uma apreciação subjetiva.Quais seriam então os «interesses
sindicais» a representar?Os «interesses» do sindicato do articulista?
Se alguma crítica
pode ser feita ao CES é a de que ao longo da sua existência ajudou a legitimar
políticas laborais e sociais na sua maioria contrárias aos interesses dos
trabalhadores,nomeadamente em todo o processo da facilitação do despedimento e
precariedade, dos horários de trabalho,do trabalho temporário,rendimentos e contratação coletiva.Não vejo que o CES tenha
defendido mais os interesses sindicais do que os interesses do patronato,antes
pelo contrário!
Como pode assim um sindicalista vir para um jornal dizer que o CES é «o último reduto marxista que defende interesses sindicais caducos que nos colocam na cauda da Europa» apenas por interesse, despeito e excentricidade?Um jornal que publica tais enormidades não pode ser credível!
Admito que seja necessário repensar o CES,que algumas entidades também deveriam estar ali representadas.Admito, no entanto, que não é algo prioritário nem urgente!É muito mais preocupante a situação da contratação coletiva e da fragilidade dos chamados «parceiros sociais».Embora deficiente o CES ainda é o único forum macro onde os sindicatos podem debater e apresentar propostas que defendam os seus interesses.
Os centros de difusão das ideologias do
retrocesso social e cultural estão muito ativos.Há que lhes dar combate!
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