terça-feira, 8 de maio de 2012

PINGO DOCE: novas misericórdias?

As recentes e mediáticas promoções do Pingo Doce são uma versão moderna das misericórdias e da «sopa dos pobres»? Será que os gestores e responsáveis do marketing desta cadeia são os novos samaritanos dos novos tempos? Porque será que estes homens e mulheres em geral vestidos de escuro, tipo seminarista, avançaram para ações desse género no primeiro de Maio, prolongando a difícil relação com os sindicatos do setor? Que pretendem provar? Qual é a sua mensagem? Que vantagens vão tirar desta iniciativa arriscada?


Diga-se antes de mais que a iniciativa, sendo polémica, conseguiu chamar a atenção dos órgãos de comunicação social obrigando a inúmeras tomadas de posição de partidos, sindicatos, personalidades e comentadores, sendo tema de diversos programas televisivos. Em termos de opinião pública a iniciativa foi um êxito pois «encheu as bocas do mundo»! Em termos comerciais provavelmente também, dado que a empresa conseguiu milhões em poucas horas! Todavia, também existirá o outro lado da medalha. O ter escolhido o 1º de maio trouxe a animosidade sindical e politica, bem como a repulsa de muitos cidadãos de esquerda que se sentiram ofendidos nos seus valores pelo simbolismo desta data histórica. Os atos que se seguiram, nomeadamente de discriminar os trabalhadores que não estiveram a trabalhar naquele dia prolongaram a animosidade sindical e de outros setores da opinião pública! Senti a minha antipatia a crescer por estes supermercados.

Por outro lado, não faltou quem chamasse a atenção para possíveis ilegalidades de uma iniciativa destas e do possível esmagamento dos produtores, neste caso o elo mais fraco do processo, juntamente com os trabalhadores e o pequeno comércio!

Acrescente-se ainda os conflitos entre consumidores que ocorreram em diversas localidades, o açambarcamento e as críticas de alguns clientes que, inesperadamente naquele dia, se sentiram defraudados e pasmados perante as prateleiras vazias!

A meu ver esta iniciativa comercial não beliscou minimamente as comemorações do Primeiro de Maio, embora possa ter sido um dos objetivos.

Com descontos a 50% mostraram um grande poder de mobilização? Quem não mobilizaria? Que as pessoas aproveitaram e não foram às manifestações da CGTP e da UGT? Não se notou! Que cada vez há mais gente a trabalhar no Primeiro de Maio? Certamente. Também ao Sábado e ao Domingo! E daí?

A questão central continua e agudiza-se. Portugal afunda-se com esta política de austeridade que afeta a grande maioria de portugueses, com exceção de uma minoria rica e arrogante que ainda está melhor do que antes! Enquanto existir pobreza e desigualdade haverá luta social. Não serão as sopas dos pobres nem as promoções do pingo doce que a evitarão!

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