“...O anseio de libertação do estigma de “criado doméstico” de dignificação profissional e de elevação no estatuto social, já tinha levado alguns empregados de mesa a fazerem greve e outros a deixarem de se empregar por os quererem obrigar a cortar o bigode.
Foi por isso natural que a leitura de El Syndicato - órgão dos criados de mesa de Buenos Aires- onde os camaradas denunciam “alguns maricas que assentam em cortar o bigode para servir certas pessoas nobres que agora visitam a Argentina” tivesse servido de faísca para a tomada de medidas da associação.
Na Assembleia Geral, Felício Rodrigues, no seu estilo fogoso e anticlerical, intervém a propor medidas para que a classe deixe de ser equiparada aos “caras rapadas”- os padres e jesuítas.
A questão foi debatida seguida de uma eleição de uma comissão para ir conferenciar com todos os proprietários de hotel no sentido de os levar a abdicar da humilhante exigência do corte do bigode aos seus empregados.
Na assembleia seguinte a comissão informa que os hotéis Continental, Duas Nações, Europa, Borges, aliança, Bragança, Central e Durand aceitam que os empregados possam usar bigode...
Ai fim de dois meses de negociações a comissão do bigode apresentou-se na assembleia geral e comunicou que tinha chegado a acordo com todos os hotéis de Lisboa incluindo os renitentes Avenida Palace e Francforte.
O acordo estipulava que a partir de 20 de Dezembro de 1910 todos os criados de mesa podiam usar bigode....”
Do Livro “HOTELARIA - de criados domésticos a trabalhadores assalariados “ de Américo Nunes. Um livro redigido por um sindicalista que conta a história da classe na luta por melhores condições de vida e de trabalho .
Sem comentários:
Enviar um comentário