Na
tradição ocidental, e também noutras regiões do globo, o trabalhador não deve
lamentar-se das agruras do trabalho, em particular se for homem! Aquele que se
lamenta constantemente da dureza do trabalho ou das doenças que o mesmo lhe
provoca, enfim, do sofrimento a que está sujeito, é olhado como um fraco, uma
pessoa que não se adaptou ao ambiente.
A esta
tradição, e no contexto da crise a que fomos sujeitos, juntou-se recentemente o
medo de ficar sem emprego se um trabalhador falar mal do seu trabalho ou
empresa, se mostrar sinais de fraqueza, enfim, de não adaptação! Daí o silencio
sobre o seu emprego praticado por uma grande percentagem de trabalhadores num
contexto de intensificação do trabalho, redução de pessoal e de flexibilidade
forçada! Daí a situação paradoxal de, por um lado, se fazerem inquéritos onde
se revela uma alta satisfação no trabalho, e, por outro, ao nível de conversas
pessoais, ouvimos muita gente a suspirar pela reforma, lamentando-se do
ambiente no seu trabalho!
Um mal estar no trabalho
Como
sintomas de que existe um mal -estar no trabalho no ocidente, provocado em
grande medida, pelas formas de gestão capitalista, temos o alto consumo de anti
depressivos e de drogas, a procura dos psiquiatras, as taxas de doenças
mentais, o assédio moral e bournout em crescendo!Um em cada português tem problemas psicológicos de alguma gravidade. O silêncio sobre o que se
passa no nosso trabalho não é um bom conselheiro! Acrescenta mais medo ao medo,
mais angustia à angústia! É fundamental termos locais para falar do nosso
trabalho! Não digo para o fazer no facebook! É arriscado! Todavia, há que criar
espaços de liberdade onde se abordem as questões laborais, não apenas numa ótica reivindicativa
coletiva mas também numa perspetiva de autonomia e saúde pessoal. O trabalhador
é uma pessoa total e não divisível!
As
mudanças na organização e gestão do trabalho introduzidas pela economia
capitalista foram debilitando os coletivos de trabalhadores. Estes ficaram cada
vez mais isolados, fragmentados e em concorrência com os seus colegas de
trabalho! Nas grandes cidades as pessoas ficaram isoladas no trabalho e nos
locais onde residem! As alternativas são os grupos de amigos para uma
escapadinha, as redes sociais e a TV.
Mas
nada disto compensa uma vida profissional pouco gratificante ou até em
sofrimento! A saída é reconstituirmos os coletivos no trabalho, organizarmos a resistência,
defendermos a nossa saúde física e mental, lutar pela cooperação e
solidariedade! É uma missão de todos, um objetivo das organizações de
trabalhadores!
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