Por diferentes razões e em diferentes
épocas o sindicalismo português nem sempre esteve devidamente ligado ao
sindicalismo internacional! Por razões externas ao próprio sindicalismo e por
razões internas. A periferia do país não será alheia às dificuldades do nosso
sindicalismo em participar no movimento europeu e mundial. Estar longe do
centro e pertencer a organizações também tem custos, inclusive económicos
No
entanto, existem e existiram no passado razões de ordem ideológica e política
que condicionaram e condicionam ainda hoje essa participação. São estas que
mais nos interessam para o debate sempre necessário no mundo sindical!
No passado e em particular nas décadas da
Primeira República o movimento sindical esteve dividido a nível internacional e
sofreu profundamente o conflito entre marxistas e anarquistas na Primeira
Internacional e, mais tarde, entre a AIT (anarquista) e a Internacional
Sindical Vermelha (comunista). Este conflito contribuiu para o enfraquecimento
da CGT portuguesa e do movimento sindical português num momento tão importante
como foi a implantação da Ditadura Fascista do Estado Novo.
A Ditadura acabou com os sindicatos livres
, o direito à greve e à associação. Mas o conflito entre os sindicalistas
continuaria. Na década de sessenta do século passado dar-se ia em Portugal o
ressurgimento de uma oposição sindical que aglutinou sindicalistas de várias
correntes, nomeadamente da JOC, socialistas e comunistas. Esta oposição viria a
criar a Intersindical e a luta pela democratização dos sindicatos da ditadura
onde estavam os trabalhadores obrigatoriamente sindicalizados. No quadro da
«Guerra Fria» o sindicalismo mundial, para além de pequenas organizações
anarquistas e não- alinhadas, estava dividido ideologicamente na Confederação
Internacional de Sindicatos Livres (CISL), socialista, Confederação Mundial do
Trabalho (CMT) de inspiração cristã e Federação Sindical Mundial (FSM)
comunista.
Esta divisão política e sindical ao nível
mundial foi o grande motor da divisão do movimento sindical português após a
Revolução de Abril de 1974 com a criação da UGT. Já em democracia a
Intersindical, agora CGTP, embora com socialistas e católicos na sua estrutura,
é fortemente hegemonizada agora pelos comunistas. A UGT é a primeira a entrar
para a Confederação Europeia de Sindicatos (CES), hegemonizada pela
social-democracia mas onde estavam centrais sindicais tanto de inspiração
cristã como comunista. Numa primeira fase a CGTP resiste á participação na CES
em nome da unidade. Entraria mais tarde após um longo período de insistência,
particularmente de católicos, socialistas e comunistas portugueses e europeus,
pois o processo teve a oposição da UGT portuguesa. A maior central sindical
portuguesa não poderia continuar de fora da organização europeia! Foi esse o
entendimento de todas as correntes da CGTP, embora com reticências de alguns
quadros comunistas influentes.
Já no início do século XXI, precisamente
em 2006, e após um longo processo de debate e maturação, a CISL, a CMT e
algumas centrais sindicais não filiadas em qualquer confederação mundial
decidem criar uma central sindical mundial, a Confederação Sindical
Internacional (CSI), aceitando aquelas a sua dissolução enquanto organizações
históricas. Fica de fora deste processo a FSM, de inspiração comunista. A nova
central mundial, a CSI, embora tenha uma maioria de organizações socialistas
também tem um número significativo de centrais de inspiração cristã e
comunista, nomeadamente francesas, italianas e espanholas. A CGTP, após um
breve debate na estrutura dirigente, ficou de fora para, segundo a explicação
oficial, salvaguardar a unidade da central. As razões de fundo, no entanto, são
outras, ou seja, de caráter ideológico e político, mais uma vez.
O debate da questão internacional
As questões internacionais são tradicionalmente
resolvidas em congresso de cada organização. Em geral são debatidas por alguns
dirigentes da estrutura e muito pouco pelas bases, pelos sindicatos e pelos
trabalhadores. Os trabalhadores sindicalizados e até alguns dirigentes não
estão sensibilizados para a questão internacional. Alguns ainda têm uma noção
de sindicalismo internacional igual a relações públicas sindicais. A forma de
promover este debate nos sindicatos e com os trabalhadores deve ser estudada. O
nosso pão, paz, habitação tanto são hoje defendidos em Lisboa como em Bruxelas,
em Genebra ou Nova Yorque!
As teses a debater e aprovar no próximo
congresso da CGTP não vão além do cliché em matéria internacional, nomeadamente
sobre o papel da CES e da CSI, havendo uma regressão neste capítulo. Estas
questões não podem ser arrumadas com meia dúzia de linhas. Hoje a luta sindical
ao nível europeu e internacional é das questões mais importantes para os
trabalhadores, tendo em conta a natureza do capitalismo globalizado e a sua
forma de atuar, de se articular de combater os trabalhadores. A articulação das
lutas nacionais com a luta europeia e internacional, o papel da CES e da CSI
das Federações setoriais mundiais, dos comités de empresa europeus e outras
plataformas que se organizem para uma luta concreta de dimensão regional ou
mundial são fulcrais para um sindicalismo que saia da sua dimensão provinciana!
Ganhar novas eficácias nesta dimensão é fulcral para o movimento sindical de
hoje e para a melhoria das condições de vida e trabalho.
Participar na CSI é reforçar o
sindicalismo mundial e dar-lhe outra dimensão. Tanto a CES como a CSI precisam
de organizações combativas que não subalternizem os interesses dos
trabalhadores a outros interesses. A situação europeia e mundial não é
favorável à nossa luta e muito menos á luta de cada um por si! Só é cego quem
não quer ver!
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