quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A QUESTÃO INTERNACIONAL NO CONGRESSO DA CGTP!

Por diferentes razões e em diferentes épocas o sindicalismo português nem sempre esteve devidamente ligado ao sindicalismo internacional! Por razões externas ao próprio sindicalismo e por razões internas. A periferia do país não será alheia às dificuldades do nosso sindicalismo em participar no movimento europeu e mundial. Estar longe do centro e pertencer a organizações também tem custos, inclusive económicos 
No entanto, existem e existiram no passado razões de ordem ideológica e política que condicionaram e condicionam ainda hoje essa participação. São estas que mais nos interessam para o debate sempre necessário no mundo sindical!

No passado e em particular nas décadas da Primeira República o movimento sindical esteve dividido a nível internacional e sofreu profundamente o conflito entre marxistas e anarquistas na Primeira Internacional e, mais tarde, entre a AIT (anarquista) e a Internacional Sindical Vermelha (comunista). Este conflito contribuiu para o enfraquecimento da CGT portuguesa e do movimento sindical português num momento tão importante como foi a implantação da Ditadura Fascista do Estado Novo.
A Ditadura acabou com os sindicatos livres , o direito à greve e à associação. Mas o conflito entre os sindicalistas continuaria. Na década de sessenta do século passado dar-se ia em Portugal o ressurgimento de uma oposição sindical que aglutinou sindicalistas de várias correntes, nomeadamente da JOC, socialistas e comunistas. Esta oposição viria a criar a Intersindical e a luta pela democratização dos sindicatos da ditadura onde estavam os trabalhadores obrigatoriamente sindicalizados. No quadro da «Guerra Fria» o sindicalismo mundial, para além de pequenas organizações anarquistas e não- alinhadas, estava dividido ideologicamente na Confederação Internacional de Sindicatos Livres (CISL), socialista, Confederação Mundial do Trabalho (CMT) de inspiração cristã e Federação Sindical Mundial (FSM) comunista.
Esta divisão política e sindical ao nível mundial foi o grande motor da divisão do movimento sindical português após a Revolução de Abril de 1974 com a criação da UGT. Já em democracia a Intersindical, agora CGTP, embora com socialistas e católicos na sua estrutura, é fortemente hegemonizada agora pelos comunistas. A UGT é a primeira a entrar para a Confederação Europeia de Sindicatos (CES), hegemonizada pela social-democracia mas onde estavam centrais sindicais tanto de inspiração cristã como comunista. Numa primeira fase a CGTP resiste á participação na CES em nome da unidade. Entraria mais tarde após um longo período de insistência, particularmente de católicos, socialistas e comunistas portugueses e europeus, pois o processo teve a oposição da UGT portuguesa. A maior central sindical portuguesa não poderia continuar de fora da organização europeia! Foi esse o entendimento de todas as correntes da CGTP, embora com reticências de alguns quadros comunistas influentes.
Já no início do século XXI, precisamente em 2006, e após um longo processo de debate e maturação, a CISL, a CMT e algumas centrais sindicais não filiadas em qualquer confederação mundial decidem criar uma central sindical mundial, a Confederação Sindical Internacional (CSI), aceitando aquelas a sua dissolução enquanto organizações históricas. Fica de fora deste processo a FSM, de inspiração comunista. A nova central mundial, a CSI, embora tenha uma maioria de organizações socialistas também tem um número significativo de centrais de inspiração cristã e comunista, nomeadamente francesas, italianas e espanholas. A CGTP, após um breve debate na estrutura dirigente, ficou de fora para, segundo a explicação oficial, salvaguardar a unidade da central. As razões de fundo, no entanto, são outras, ou seja, de caráter ideológico e político, mais uma vez.

O debate da questão internacional

As questões internacionais são tradicionalmente resolvidas em congresso de cada organização. Em geral são debatidas por alguns dirigentes da estrutura e muito pouco pelas bases, pelos sindicatos e pelos trabalhadores. Os trabalhadores sindicalizados e até alguns dirigentes não estão sensibilizados para a questão internacional. Alguns ainda têm uma noção de sindicalismo internacional igual a relações públicas sindicais. A forma de promover este debate nos sindicatos e com os trabalhadores deve ser estudada. O nosso pão, paz, habitação tanto são hoje defendidos em Lisboa como em Bruxelas, em Genebra ou Nova Yorque!
As teses a debater e aprovar no próximo congresso da CGTP não vão além do cliché em matéria internacional, nomeadamente sobre o papel da CES e da CSI, havendo uma regressão neste capítulo. Estas questões não podem ser arrumadas com meia dúzia de linhas. Hoje a luta sindical ao nível europeu e internacional é das questões mais importantes para os trabalhadores, tendo em conta a natureza do capitalismo globalizado e a sua forma de atuar, de se articular de combater os trabalhadores. A articulação das lutas nacionais com a luta europeia e internacional, o papel da CES e da CSI das Federações setoriais mundiais, dos comités de empresa europeus e outras plataformas que se organizem para uma luta concreta de dimensão regional ou mundial são fulcrais para um sindicalismo que saia da sua dimensão provinciana! Ganhar novas eficácias nesta dimensão é fulcral para o movimento sindical de hoje e para a melhoria das condições de vida e trabalho.
Participar na CSI é reforçar o sindicalismo mundial e dar-lhe outra dimensão. Tanto a CES como a CSI precisam de organizações combativas que não subalternizem os interesses dos trabalhadores a outros interesses. A situação europeia e mundial não é favorável à nossa luta e muito menos á luta de cada um por si! Só é cego quem não quer ver!


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