terça-feira, 1 de dezembro de 2015

INSPEÇÃO DO TRABALHO PORTUGUESA: elementos para a sua História! (3)

A primeira reorganização da Inspeção do Trabalho após a Revolução de Abril de 1974, foi precisamente em março de 1978, aquando da reestruturação da lei Orgânica do Ministério do Trabalho. Entre as suas várias atribuições destaca-se o «assegurar a aplicação das normas do direito do trabalho constantes das leis gerais, dos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho….» Ora, o País tinha mudado vivendo agora numa democracia, com sindicatos livres, negociação coletiva e uma Constituição que dava importantes garantias aos trabalhadores no domínio dos direitos sociais, nomeadamente o direito á greve.
Nos anos seguintes e até 1983 é produzida importante legislação do trabalho, nomeadamente ao nível das relações coletivas (1979) e ratificadas diversas convenções da OIT, inclusive a da Inspeção na Agricultura (1981 e 1983).É criado o Conselho Nacional de Higiene e Segurança do Trabalho (1982).A legislação do trabalho portuguesa é das mais avançadas da Europa.
Em julho de 1983 é aprovado o novo Estatuto da Inspeção Geral do Trabalho procurando responder de forma mais eficaz á nova situação económica e social de um Portugal democrático.
 A situação social é difícil com um volume assinalável de trabalhadores com salários em atraso com relevo para os distritos de Setúbal e Lisboa. Esta realidade, empresas em crise, com salários em atraso, e o combate ao trabalho Infantil são algumas das prioridades da Inspeção do Trabalho.
Em 1986 entraria em vigor o tratado de adesão de Portugal à CEE. Esta nova situação de Portugal irá ter importantes consequências no domínio social. Em 1988 a CGTP convoca uma greve geral contra o pacote laboral.
Na década de 80 seria ainda publicada alguma legislação sobre segurança e saúde no trabalho com destaque para o Regulamento Geral de Higiene e Segurança nos Estabelecimentos Comerciais de Escritório e Serviços, proteção dos trabalhadores contra o cloreto de vinilo monómero, chumbo, amianto e radiações ionizantes (1989).
Em 1989 é aprovada a Diretiva 89/391/CEE, também chamada «Diretiva Quadro», sobre segurança e saúde no trabalho comportando uma nova abordagem da prevenção e promoção da segurança e saúde dos trabalhadores e que virá dar um assinalável impulso legislativo ao nível europeu e nacional. A inspeção do trabalho assume cada vez mais na sua missão a dimensão da promoção da segurança e saúde no trabalho.
Em junho de 1990 arranca uma semana de luta da CGTP pelas 40 horas um novo objetivo em termos de tempo de trabalho e que vai ter sucesso. Em 1991 a mesma Central Sindical organiza uma Campanha Nacional de Sensibilização de Higiene e segurança no trabalho.
Nesse mesmo ano, 1991, é assinado o Acordo por todos os Parceiros Sociais e o Governo sobre Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho. É aprovado o Regime Jurídico de SHST tendo por base a «Diretiva Quando» e a Convenção nº 155 da OIT.
Em 1992 realiza-se o Ano Europeu para a Segurança, Higiene e Saúde no Local de Trabalho. São promovidas mais de 300 ações por todo o País sendo efetivamente um marco no domínio da informação e sensibilização da sociedade para as questões da SST.
O ano de 1993 é altamente produtivo em termos legislativos com a transposição para o direito interno de várias diretivas europeias com destaque para os equipamentos de proteção individual, prescrições mínimas de segurança na movimentação de cargas, proteção dos trabalhadores expostos ao amianto e prescrições mínimas para os locais de trabalho.

É criado o IDICT juntando a inspeção do trabalho à Prevenção

Neste mesmo ano, 1993, ocorre nova transformação orgânica e estratégica na Administração do Trabalho com a Criação do Instituto para o Desenvolvimento e Inspeção das Condições de Trabalho (IDICT).A Inspeção Geral do Trabalho passa a integrar a estrutura geral do IDICT, mas mantém garantida e consagrada a sua independência técnica e autonomia de decisão, sendo que o Inspetor Geral é por inerência, membro da Direção daquele Instituto. O novo organismo integra também a prevenção de riscos profissionais e a Direção Geral de Higiene e Segurança no Trabalho é extinta!
Nos anos seguintes o IDICT lançou diversas campanhas setoriais de inspeção e prevenção dos riscos profissionais, nomeadamente na construção civil, agricultura e indústria têxtil. Na mesma altura o Estado lançou grandes obras públicas e Portugal transformou-se também num país de trabalhadores imigrantes. Esta nova situação conduziu a um aumento da sinistralidade laboral levando o IDICT, e em particular a ação inspetiva, a equacionar novas abordagens e estratégias de intervenção.
Ao nível editorial o IDICT deu início ao maior volume de publicações até então verificado, nomeadamente de estudos académicos, no domínio da prevenção dos riscos profissionais e relações do trabalho. Este trabalho, único no país, seria continuado mais tarde pelo ISHST e pela ACT.
Em fevereiro de 1994 estabelece-se pela primeira vez em Portugal um regime de organização e funcionamento das atividades de SST nas empresas.
Até finais da década, e em particular no ano de 1999 foram publicados diversos diplomas sobre reparação de acidentes de trabalho e doenças profissionais e criado o Fundo de Acidentes de Trabalho. É apresentado também o «Livro Branco dos Serviços de Prevenção das Empresas, documento que propôs um conjunto de medidas para melhorar as políticas de promoção da saúde e segurança do trabalho.
Segundo dados da própria Inspeção do trabalho na década de 90 morreram em Portugal cerca de 3.500 trabalhadores nos locais de trabalho e ocorreram cerca de 2 milhões e meio de acidentes com alguma gravidade.
O novo milénio começa com o IDICT a tornar-se Ponto Focal Nacional da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho após uma iniciativa de informação inédita denominada «Semanas Europeias». É entretanto assinado um novo Acordo por todos os Parceiros Sociais e pelo Governo sobre Condições de Trabalho, Higiene e Segurança no Trabalho e Combate à Sinistralidade (2001). No mesmo ano a Assembleia da República cria o Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho ficando o IDICT de organizar as respetivas comemorações. É ainda aprovado o Estatuto da Inspeção do Trabalho (2000).

Campanhas Europeias e criada a ACT

Em 2002 Portugal integra a zona Euro e em 2003 é publicado o Código do Trabalho que codifica, altera e introduz vastíssima legislação laboral. A CGTP convoca uma greve geral contra as mudanças na legislação laboral.
Em 2004 o Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (ISHST) sucede ao IDICT. Este novo instituto continua com a dimensão da prevenção de riscos profissionais e a Inspeção Geral do Trabalho prossegue como organismo autónomo. No âmbito do Programa Nacional de Ação para a Prevenção (PNAP) e tendo em conta algumas iniciativas das últimas décadas, nomeadamente o projeto «Trabalho Seguro Melhor Futuro» o ISHST concebeu e implementou de forma inédita o Programa Nacional de Educação para a Segurança e Saúde no Trabalho- PNSST visando sensibilizar a população escolar para estas matérias e a sua integração nos curricula escolares.
No segundo semestre de 2006 é lançada uma campanha de inspeção e informação em todos os Estados-Membros da União Europeia. Promovida pelo Comité dos Altos Responsáveis da Inspeção do Trabalho, esta campanha foi coordenada em Portugal pela Inspeção-Geral do Trabalho, tendo como lema “O amianto pode provocar a morte. Evite a exposição a esta substância”.
No ano seguinte em 2007 a Inspeção Geral do Trabalho dinamiza a Campanha Europeia «Alivie a Carga» para prevenir as lombalgias.
Em setembro do mesmo ano é criada a Autoridade para as Condições do Trabalho que integra a prevenção dos riscos profissionais e assume as funções e competências da Inspeção do trabalho.
Os anos seguintes são de grande complexidade e dificuldades para o novo organismo. A ACT tem que desenvolver a sua atividade no quadro de uma das maiores crises económicas e sociais da nossa História recente, obrigando a atividade inspetiva a enfrentar fenómenos como o as altas taxas de sinistralidade laboral, trabalho não declarado, falência de empresas e salários em atraso, despedimentos coletivos e falsos recibos verdes.




Sem comentários: