Nos últimos tempos temos verificado felizmente
um aumento da investigação sobre as condições de trabalho em alguns sectores
profissionais com destaque para os professores, médicos e enfermeiros.É uma boa
notícia!Todavia, nos sectores onde estes trabalhadores exercem a sua profissão
existem também outras classes profissionais que nunca são estudadas e até são
ignoradas, não apenas pelos estudiosos, mas também pela comunicação social e
naturalmente pelos governantes.
O ano passado ocorreu um episódio exemplar
numa escola da Margem Sul que foi visitada por um governante.Quanto este
discursou perante a população escolar agradeceu e analteceu o trabalho dos
professores, alunos, pais e encarregados de educação e esqueceu-se dos chamados
trabalhadores não docentes, «as contínuas», antigas auxiliares de educação» e, actualmente,
incluídas no exército geral da Função Pública com o nome de asssitentes
operacionais.Os alunos deram-se conta da «gafe» do governante e começaram a
gritar e a dizer « e elas ,as
contínuas?»O político veio de seguida dar uma satisfação às trabalhadoras
silenciosamente revoltadas, mas sem pedir formalmente desculpa!
Este episódio vem a propósito da exsistência de
trabalhadores que são quase invisíveis na nossa sociedade.São incluídos em
grandes sindicatos, as suas lutas são frequentemente ignoradas e as suas
profissões por vezes desprezadas!São as mulheres da limpeza e empregadas
domésticas, auxiliares da saúde, e da educação,cantoneiros/recolha do lixo e
jardineiros, operadores de call centers, caixas de supermercados, coveiros,
enfim, uma lista infindável!
Claro que se entende a relevancia social e
económica de umas profissões e de outras.É óbvio que um estudo sobre os médicos
terá muito mais leitores e eco mediático do que um estudo sobre as empregadas
domésticas ou os cantoneiros das autarquias.Todavia, os centros de investigação
universitária, em particular os públicos, não podem esquecer que todas as profissões
têm um peso económico e social e que as boas condições de trabalho e de
qualidade de vida é um direito fundamental de todos os trabalhadores.É verdade
que médicos esgotados são uma ameaça e um risco para eles, sua família e
doentes e um encargo para o sistema de saúde e de segurança social que muitas
vezes a sociedade não contabiliza.Mas também não é menos verdade que outros
profissionais estão em situações semelhantes.
Os estudos gerais e específicos sobre as
condições de trabalho não deveriam ser uma actividade assessória na
investigação mas antes uma questão central da investigação em ciências
sociais.O não empenhamento do Estado e das universidades públicas nesta questão
mostra bem a óptica de classe subjacente a estas matérias.Para alguns o
trabalho é uma questão meramente económica.A impressão que temos é que se não
existissem uns quantos investigadores que, com parcos meios, se dedicam a estas
matérias, quase por carolisse, ainda teríamos menos conhecimento sobre a
realidade das condições de trabalho em Portugal!A estes investigadores o nosso
aplauso!
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