Francisco Queirós Chamava-se Saramago , mas não era escritor .
Teve um momento defama nos jornais e televisões , mas pelos piores motivos.
Desta fama não queriam provar os familiares e amigos . Joaquim Saramago Gomes
faleceu na terça-feira quando trabalhava nas Minas de Aljustrel.
A queda de 190
metros num silo da mina provocou a morte ao trabalhador alentejano de 48 anos,
dirigente desportivo do clube da sua terra, Grupo Desportivo de Odivelas, no
concelho de Ferreira do Alentejo.
No mesmo dia, 19 de Maio, um jardineiro da
Câmara do Porto morreu esmagado por uma grua quando procedia ao levantamento e
remoção de um velho plátano na Praça Marquês de Pombal. A grua tombou, incapaz
de erguer a velha árvore centenária de seis toneladas provocando a morte ao
funcionário da autarquia de 40 anos. Segundo números oficiais de 2013, 141
portugueses foram vítimas mortais em acidentes de trabalho.
O trabalho da construção
civil continua a ser o mais perigoso. Mas nas indústrias transformadoras e na
agricultura há muito quem, para ganhar o sustento diário, sofra acidentes
incapacitantes ou mortais. Em 2013, morreram a trabalhar neste país 12 pessoas
por mês. Portugal ocupava nesse ano o sétimo lugar entre os países da Europa
com mais acidentes de trabalho grave. O trabalho é um direito – gritam de
coração partido os desempregados deste país. Trabalho com direitos – exigem os
que trabalham. Recompensa digna e justa pelo que trabalharam – exigem
pensionistas e reformados. Morrer a ganhar o pão, que permite viver, é uma
tragédia que nunca devia ser possível.
Mas tal tragédia não será estranha às
condições crescentes de exploração de quem trabalha. À proliferação de formas
de trabalho precário, num quadro de elevado desemprego. À incúria de entidades
empregadoras, que com o agravamento da crise económica, regressam a práticas de
incumprimento das normas de Segurança e Saúde e Higiene no trabalho. Para
muitas destas entidades, a prevenção dos riscos profissionais é um custo a
reduzir ou eliminar, e seja o que Deus quiser… Acresce ainda, nesta onda
neoliberal do vale tudo até arrancar olhos, a imposição de horários de trabalho
excessivamente prolongados com ritmos acelerados de trabalho. Proliferam
práticas de controlo de pausas, de vigilância de idas a casas de banho entre
outras. Práticas de um controlo sobre os trabalhadores que são revoltantes,
arcaicas e que em nada contribuem para o aumento de produtividade e de produção.
Num país de mão-de-obra cada vez mais descartável, de uso rápido e substituível
no imediato e a baixo custo, há ainda falta de formação dos próprios
trabalhadores, mal preparados muitas vezes, conhecem insuficientemente o
trabalho e os respectivos riscos. E tudo assim indica, há uma insuficiente
fiscalização por parte das entidades competentes, nomeadamente a ACT,
paralisada ou diminuída na sua acção por ausência de recursos humanos e
materiais. “Oh minha mãe, minha mãe, oh minha mãe do trabalho, para quem
trabalho eu? O trabalho mata o meu corpo, não tenho nada de meu.” Mas muito
pior…O trabalho tira-lhes a vida. Joaquim, José, Maria, Saramago ou outros,
muitos outros.(jornal AS BEIRAS de 26 de maio de 2015)
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