sexta-feira, 22 de setembro de 2017

AUTOEUROPA E O DIREITO À GREVE!



Por ocasião da greve convocada pelos sindicatos afetos á CGTP na Auto europa no início do mês de Setembro levantaram-se diversas vozes comentando, condenando ou ameaçando os trabalhadores e em particular os referidos sindicatos. 
A dimensão partidária do conflito foi sobrevalorizada e alguns comentadores chegaram a considerar os respectivos trabalhadores como privilegiados, que tinham boas condições e iam fazer greve;outros consideravam que a greve era contra o interesse nacional dada a importância da empresa nas exportações portuguesas; outros ainda diziam que nunca se tinha feito greve na empresa e que, portanto, esta era um tiro nos pés dos trabalhadores pois a empresa poderia deslocalizar-se e criar desemprego na região! 
Enfim, havia argumentos para todos os gostos. Porém, nas mais de 700 noticias sobre a questão poucas faziam uma análise honesta às reivindicações dos trabalhadores e poucos referiam que a recusa do acordo e a aprovação da greve tinha sido votada por uma maioria esmagadora dos mesmos trabalhadores! 

Quase ninguém questionava a política da empresa que pretende fazer carros de noite e de dia como se fosse um hospital, com 18 turnos laborais por semana e trabalho obrigatório ao sábado, que quer recuperar o dinheiro que perdeu na maior crise da sua história, o «dieselgate», que manipulou o nível de emissões poluentes de alguns modelos com motores diesel. Poucos falaram que, apesar deste escândalo, as marcas do grupo VW venderam, imagine-se, 10,29 milhões de veículos em 2016.As vendas totais do grupo nesse ano chegaram a 217 mil milhões, quase tanto como a dívida portuguesa, com lucros depois dos impostos de 5,4 mil milhões.
Herbert Diesse, um dos principais mandões do grupo, disse claramente ao Expresso que não há qualquer intenção de deslocar a produção do carro previsto para a Autoeuropa e, claro, muito menos a empresa que lhe dá lucros. Todavia, as nossas carpideiras fartaram-se de acenar com esta hipótese para condenar a primeira greve realizada em décadas na empresa!

Penso que nos finais de Setembro veremos novamente na comunicação social o conflito que existe na Autoeuropa. Voltará o chorrilho de comentários e de artigos a castigar as decisões dos trabalhadores e das suas organizações. Infelizmente estes comentários têm eco em muitos portugueses que não têm formação política e pensam pela cabeça dos comentadores televisivos!
Mas será que este debate não terá outros desenvolvimentos no futuro? Vai ter!Em breve os argumentos que utilizaram contra a greve na Autoeuropa serão utilizados para todas as greves!O que esta gente, serventuária do capital, quer colocar em questão é o direito de greve! Direito que nunca foi reconhecido pelos empresários nem pelos seus escrivas, embora digam o contrário antes de iniciarem as suas diatribes anti-greve. Daí a importância em combater os argumentos utilizados.
Se a greve, umas das últimas armas de resistência dos trabalhadores, e fundamental para reequilibrar as desiguais relações entre o capital e o trabalho, fosse inócua sob ponto de vista económico qual seria o interesse da greve? Se a greve, um direito fundamental de resistência e oposição, fosse sujeita ao que os governos e empresas consideram interesse nacional qual seria a sua eficácia? Mero folclore? Mera contestação simbólica? Seria o desvirtuamento completo da arma fundamental dos trabalhadores! Não trabalhar de forma organizada ainda tem muita força e podemos parar uma empresa , uma multinacional ou um país ou países!
Limitar o direito de greve, esvaziar a sua eficácia está no horizonte do poder económico e respetivos comparsas políticos. Rever os serviços mínimos, legislar sobre os piquetes de greve e convocação da mesma, retirar o poder dos sindicatos negociarem as condições de trabalho, são vias para esse objectivo!

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