Por ocasião
da greve convocada pelos sindicatos afetos á CGTP na Auto europa no início do
mês de Setembro levantaram-se diversas vozes comentando, condenando ou
ameaçando os trabalhadores e em particular os referidos sindicatos.
A dimensão partidária
do conflito foi sobrevalorizada e alguns comentadores chegaram a considerar os respectivos
trabalhadores como privilegiados, que tinham boas condições e iam fazer
greve;outros consideravam que a greve era contra o interesse nacional dada a importância
da empresa nas exportações portuguesas; outros ainda diziam que nunca se tinha
feito greve na empresa e que, portanto, esta era um tiro nos pés dos
trabalhadores pois a empresa poderia deslocalizar-se e criar desemprego na
região!
Enfim, havia argumentos para todos os gostos. Porém, nas mais de 700
noticias sobre a questão poucas faziam uma análise honesta às reivindicações
dos trabalhadores e poucos referiam que a recusa do acordo e a aprovação da
greve tinha sido votada por uma maioria esmagadora dos mesmos trabalhadores!
Quase
ninguém questionava a política da empresa que pretende fazer carros de noite e
de dia como se fosse um hospital, com 18 turnos laborais por semana e trabalho
obrigatório ao sábado, que quer recuperar o dinheiro que perdeu na maior crise
da sua história, o «dieselgate», que manipulou o nível de emissões poluentes de
alguns modelos com motores diesel. Poucos falaram que, apesar deste escândalo,
as marcas do grupo VW venderam, imagine-se, 10,29 milhões de veículos em 2016.As
vendas totais do grupo nesse ano chegaram a 217 mil milhões, quase tanto como a
dívida portuguesa, com lucros depois dos impostos de 5,4 mil milhões.
Herbert
Diesse, um dos principais mandões do grupo, disse claramente ao Expresso que
não há qualquer intenção de deslocar a produção do carro previsto para a
Autoeuropa e, claro, muito menos a empresa que lhe dá lucros. Todavia, as
nossas carpideiras fartaram-se de acenar com esta hipótese para condenar a
primeira greve realizada em décadas na empresa!
Penso que
nos finais de Setembro veremos novamente na comunicação social o conflito que
existe na Autoeuropa. Voltará o chorrilho de comentários e de artigos a
castigar as decisões dos trabalhadores e das suas organizações. Infelizmente
estes comentários têm eco em muitos portugueses que não têm formação política e
pensam pela cabeça dos comentadores televisivos!
Mas será
que este debate não terá outros desenvolvimentos no futuro? Vai ter!Em breve os
argumentos que utilizaram contra a greve na Autoeuropa serão utilizados para
todas as greves!O que esta gente, serventuária do capital, quer colocar em
questão é o direito de greve! Direito que nunca foi reconhecido pelos
empresários nem pelos seus escrivas, embora digam o contrário antes de iniciarem as suas diatribes anti-greve. Daí a importância em combater os
argumentos utilizados.
Se a greve,
umas das últimas armas de resistência dos trabalhadores, e fundamental para
reequilibrar as desiguais relações entre o capital e o trabalho, fosse inócua
sob ponto de vista económico qual seria o interesse da greve? Se a greve, um
direito fundamental de resistência e oposição, fosse sujeita ao que os governos
e empresas consideram interesse nacional qual seria a sua eficácia? Mero
folclore? Mera contestação simbólica? Seria o desvirtuamento completo da arma
fundamental dos trabalhadores! Não trabalhar de forma organizada ainda tem
muita força e podemos parar uma empresa , uma multinacional ou um país ou
países!
Limitar o
direito de greve, esvaziar a sua eficácia está no horizonte do poder económico e respetivos comparsas políticos. Rever os serviços
mínimos, legislar sobre os piquetes de greve e convocação da mesma, retirar o
poder dos sindicatos negociarem as condições de trabalho, são vias para esse objectivo!
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