Hoje muita gente ligada aos recursos
humanos escreve sobre o stresse e os riscos psicossociais. Ainda há pouco li um
texto curioso sobre stresse e trabalho temporário. A autora, que não fez uma
declaração de interesses, dizia que conhecia estudos que revelavam que os
trabalhadores temporários sofriam menos stresse nos dias de hoje pelo facto de
que já se tinham habituado a este tipo de trabalho num contexto em que a
alternativa era o desemprego.
E acrescentava que os trabalhadores temporários
estavam sempre perante novos desafios, que não se acomodavam à rotina e saíam
da zona de conforto ao contrário dos trabalhadores permanentes! A senhora
dourava de tal modo a pílula que ao leitor desprevenido até lhe apeteceria experimentar
um trabalho temporário. É óbvio que a dita autora estava a vender um produto!
Tal como ela podemos apresentar vários
estudos, até da OIT e de outras entidades credíveis, a dizerem que a
precariedade é uma das causas de stresse e propiciadora de instabilidade e de
risco psíquico.
Quem estuda as condições de trabalho nos call
centers, hoje um setor bem lucrativo, verifica que muitas destas entidades
recrutam nas empresas de trabalho temporário, outra atividade altamente
lucrativa nos tempos de desemprego.
Todos sabemos que as empresas de trabalho
temporário jogam na precariedade e nos ganhos á custa dos trabalhadores que
empregam. Por isso não me parece que os trabalhadores temporários tenham menos
fatores de stresse. Não é pelo facto de um trabalhador dizer num inquérito que
já se «habituou» ao stresse que efetivamente não tem stresse ou que não está a
sofrer as consequências do mesmo.
Ao contrário do que se possa esperar em
tempos de crise os trabalhadores constroem estratégias de defesa para manter o
emprego e para superar o sofrimento.
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