A Juventude Operária Católica de Leiria vai realizar no próximo dia 10 de Março um Festival de sopas na Marinha Grande! Uma iniciativa particularmente apetitosa e com uma dimensão histórico- cultural assinalável! A sopa está ligada em Portugal á nossa história social e gastronómica. A sopa é a primeira barreira contra a fome e como tal ainda existe na memória de alguns portugueses que passaram «as passas do Algarve» nos tempos da primeira república e da ditadura de Salazar! A «sopa dos pobres» tornou-se em algumas épocas uma instituição nacional. Já em democracia ela nunca deixou de existir embora nos melhores tempos ela apenas fosse solicitada pelos sem - abrigo.
Recentemente nasceu uma outra instituição congénere, o banco alimentar, que conviveu e convive inclusive com os grandes lucros da outra banca financeira! A sopa voltou a ser para muitas famílias uma rede extraordinária de prevenção da fome! A variedade de sopas é enorme como enorme é a imaginação da sobrevivência! Daí que um festival de sopas é hoje não apenas um ato cultural mas também um ato de resistência!
Lembro-me bem nos anos cinquenta, era eu um petiz, do Mario, um trabalhador agrícola que vivia numa loja térrea sem quarto de banho com quatro filhos e a mulher, ela também a trabalhar na agricultura. O trabalho em certas épocas, nomeadamente a seguir às vindimas, era escasso e ao preço da chuva. O Mário e a família passava meses sem trabalho ou apenas com uma jorna aqui outra acolá! O que comiam? Uma ração de pão e muito caldo (sopa) de folhas de fava com uma lágrima de azeite. O pão de milho estava dependurado no teto junto às telhas para que as crianças não lhe chegassem! Era assim a vida de muitos trabalhadores no tempo de Salazar! Nesse tempo não era fácil ter os ingredientes suficientes para uma boa sopa! Em minha casa nunca faltou uma batata, feijão e uma hortaliça para pôr na sopa! Nesse tempo os trabalhadores estavam proibidos de se organizarem e fazerem greve! Não podemos esquecer!
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