Foi recentemente publicado o livro «A Revolta do Leite -Madeira 1936 da autoria de João Abel de Freitas, economista e estudioso das questões daquela Região Autónoma.Da obra, que saudamos, retiramos uns pedacitos para lembrar que as acções de rebeldia dos povos são frequentemente ignoradas, voluntariamente, para que as gerações mais jovens ignorem a sua história e se acomodem à domesticação!
«A Revolta do Leite consistiu num levantamento generalizado dos camponeses da Madeira, produtores de leite, contra a reorganização do sector, instituída e imposta pelo Governo Central em 1936,sob a influencia das três maiores empresas fabricantes de manteiga.
Esta revolta saldou-se por um número exagerado de prisões-quase 600-sem paralelo na história da Madeira.
Na realidade os camponeses queriam continuar a vender o leite livremente como vinha a acontecer.Isso permitia-lhes negociar melhores preços, pois havia bastante procura na compra do leite porque não abundava para a capacidade de produção de manteiga instalada nas fábricas.
As grandes empresas não estavam interessadas em tanta concorrência que lhe baixava as margens de lucro e alegavam junto das autoridades, nomeadamente do Ministério da Agricultura, dificuldades no negócio, até porque havia pequenos industriais e cooperativas que se «atreviam» a pagar o leite ao produtor a preço mais alto.Por outro lado,os camponeses queriam continuar com as suas cooperativas que se viam ameaçadas com esta reorganização do Governo como finalmente aconteceu....
Ao contrário da Revolta de 1931 esta não era elitista nem muito politizada.tratou-se de uma revolta de cariz sobretudo económico.Era o pão de muito camponês e do pequeno fabricante de manteiga que estava em causa com esta reorganização corporativa do sector leiteiro e, neste contexto, desfrutou de amplos apoios, simpatia e participação da população.
Assistiu-se nesta revolta de camponeses a uma dureza repressiva brutal por parte do Governo(Salazar) e a uma coordenação da acção entre os ministros ( Agricultura, Exército, Guerra e Interior) centrada no Ministro do Interior, Pais de Sousa, em estreita ligação com o Presidente do Conselho....»
O Padre César Miguel Teixeira da Fonte é a personalidade de maior destaque na Revolta do Leite .A PIDE expulsa-o da Madeira em 1937, enviando-o para a prisão de Caxias e mais tarde obrigou-o a residência fixa em Lisboa onde exerceu o seu trabalho em S.Sebastião da Pedreira.
«Antes do 25 de Abril, para além da sua militância nos movimentos católicos, onde foi alvo com outros de processos crime no âmbito da PIDE (Polícia Política) ,aproximou-se de movimentos da oposição unitários embora com tendência para os sectores que vieram a desembocar na formação do PS.»
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