sexta-feira, 19 de junho de 2009

AUTOEUROPA-Será que os alemães também cedem assim?


"São quase 15h30 e as fardas brancas engomadas que se dirigem para a entrada da fábrica da Autoeuropa, em Palmeia, confirmam que um novo turno está prestes a começar. Sobre o acordo com a administração - chumbado quarta-feira por 51 por cento dos trabalhadores - quase ninguém quer falar. "Acha que é altura para me atrasar?", chuta um rapaz novo, que apenas acena com a cabeça quando lhe perguntam se é um dos 250 contratados que correm o risco de se juntar aos cerca de 500.000 desempregados em Portugal.

Minutos depois começam a sair os colegas do turno da manhã. A pressa para os autocarros serve de escape, mas o comunicado em papel reciclado sobre as negociações (que quase todos os trabalhadores empunham) torna impossível esconder que este é o tema do dia. "No comments, no comments", grita um rapaz que tenta furar a fila, semelhante ao metro em hora de ponta, e que é agravada pelos mais de 30 graus secos que se fazem sentir.João Paulo Sousa, 37 anos, trabalha aqui desde 1994 - uma antiguidade comprovada pelo cinto amarelecido que se destaca da farda. Resume que se assiste a "uma sensação geral de incerteza" que acende os ânimos dentro da fábrica. E lamenta: "Não há nada que me garanta que as coisas vão ficar por aqui. Da minha experiência, as cedências têm sido sempre do lado dos trabalhadores."Uma opinião partilhada por muitos das pessoas ouvidas pelo PÚBLICO, que assumiram estar cansadas.

Mesmo assim, há optimistas. Ruben Cordeiro, 23 anos, contratado, acha que ficará nos quadros. Mas Sequeira Nunes, 55 anos, 13 anos de casa, olha para os mais novos e exclama: "O que será deles?" Votou a favor da proposta, "aceitável" porque pensa na "malta nova". Mesmo assim teme uma falsa "flexisegurança". E ironiza: "A flexisegurança começa assim. A flexibilidade vem por aí e a segurança... Acabamos todos na Segurança Social."Foi a falta de certezas que levou Carlos Caetano, 30 anos, há nove em Palmeia, a votar contra a proposta a que a Comissão de Trabalhadores e a Administração chegaram. "As pessoas há anos que cedem. A gente está cá para ganhar dinheiro, não é para dar dinheiro a ninguém, porque eles dizem que estão em crise mas a produção vai já aumentar na próxima semana." "Acho que é um argumento inválido estarem a jogar com os contratados", defende também Artur Silva, 50 anos, há 14 na Autoeuropa.
Segundo este trabalhador, estão "fartos de ceder e de prescindir de direitos sem se perceber bem o objectivo." Por isso questiona: "No próximo acordo o que é que vão querer mais? Se a produção está a aumentar, onde está a crise? E se a produção é reduzida, porque é que temos de vir trabalhar ao sábado?" Por outro lado, duvida que a situação da empresa noutros países esteja a ser resolvida da mesma forma: "Será que na Alemanha os alemães também cedem assim?"Paula Aleixo tem 30 anos, uma filha de seis, e centra o argumento no tempo. "Sou uma mãe separada e os dois fins-de-semana que trabalho são os mesmos que devia estar com a minha filha. Até agora tiravam-nos dinheiro, agora mexem no tempo para estar com a minha família", conta.Uma visão diferente tem Luís Rego, 35 anos. Para este supervisor de produção, que votou a favor, a preocupação está nas "consequências sociais" para os contratados. E relembra que a proposta era "razoável se tivermos em conta a alternativa".

Sobre os colegas que temem que a perda de direitos não fique por aqui, afirma que "isso já é fazer futurologia". Porém, assume que já foram feitas muitas cedências. "Adaptámo-nos sempre às condições da empresa e do mercado", assevera. Mas ressalva que sempre se tentou evitar despedimentos. Mesmo assim insiste: "Há dúvidas de que isto se vai resolver? Sempre se resolveu. Porque é que agora havia de ser diferente?"(Reportagem do dia da autoria da jornalista Romana Borja Santos do Público)

1 comentário:

Xa2 disse...

Parabéns pelo blog.
Esta área do sindicalismo é importante e deve ser mais divulgada.

Alguns dos seus 'posts' foram copiados (com a referência) para o http://Luminária.blogs.sapo.pt

Cumprimentos
xa2