domingo, 20 de março de 2022

JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE-um acto religioso com dimensão política!

 

Lisboa vai ser palco das Jornadas Mundiais da Juventude na semana de 1 a 6 de agosto de 2023 com a provável presença do Papa Francisco.Inicialmente previstas para 2022, o Papa  em articulação com os organizadores portugueses, decidiu o seu adiamento por causa da Covid 19.

Esta iniciativa é considerada a maior organização de massas da Igreja Católica e teve início nos anos 80 do século passado, sendo periódicamente realizada em várias cidades e tendo como principal entusiasta o então papa João Paulo II. Nas Jornadas do Panamá em 2019 tanto a Conferência Episcopal Portuguesa como o nosso Governo mostraram grande interesse no evento estando disponíveis para grandes e custosas ações, nomeadamente de preparação da zona lisboeta onde ocorrerá a concentração de um a dois milhões de jovens.Entretanto, e para além das ações materiais a cargo dos Municipios de Lisboa e Loures, bem como do Governo, a Igreja Católica tem vindo a preparar discretamente estas Jornadas ao nível diocesano.

A dimensão política das Jornadas Mundiais da Juventude

Um fenómeno religioso e político desta natureza merece algumas considerações a que me atrevo apenas para lançar ideias para um debate que certamente não se fará porque, por diferentes razões, à esquerda e à direita ninguém estará interessado.

Uma ação de massas desta amplitude tem necessariamente uma dimensão política que os actores irão naturalmente negar.O governo tem todo o interesse nesta iniciativa porque pensa retirar dividendos ao chamar a atenção mundial para o nosso País e para o facto de, sendo um governo laico e até com governantes não crentes,mantém excelentes relações com a igreja Católica.O poder mediático e smbólico que emana desta iniciativa reforça o seu poder e prestigio.

A Igreja Católica Portuguesa, que tem estado confrontada com a diminuição da participação dos portugueses nos actos litúrgicos,onde em algumas regiões é uma Igreja de idosos e idosas,aparece com uma iniciativa mobilizadora de juventude ao mais alto nível, afirmando-se como uma instituição que, apesar das grandes deserções, poderá revitalizar-se e vislumbrar um futuro.As Jornadas serão assim um momento de poderosa afirmação religiosa e política da Igreja Católica.

Os perigos e os desafios

Como em tudo na vida este tipo de iniciativas de massas  comportam alguns perigos e desafios.O primeiro perigo é que estas manifestações não passem de cenas de folclore, e romarias tipo festivais.São iniciativas muito boas e agradáveis para a juventude e, em geral, nunca mais se esquecem ao longo da vida.Todavia, se não existir uma pastoral continuada da juventude em cada diocese e cada paróquia,tudo não passará de um bela experiência para contar aos filhos e netos.

O quadro pós Jornadas é por isso mesmo muito importante.Ao lermos as mensagens dos papas aos jovens nestas iniciativas elas insistem muito na necessidade de nos voltarmos para os outros, no caminharmos com os outros ,os que precisam de nós,na esperança, na construção de um outro mundo, mais fraterno.Ora, se a nossa catequese e discurso fôr burguês e individualista, de grupinho fechado e de «meninos de bem e acomodados», de movimentozinho de paróquia, de nada valerá esta grande manifestação de massas.Será showoff e manifestação efémera de poder!

Uma manifestação de massas que coincide com uma caminhada sinodal

Curiosamente esta manifestação coincide com a caminhada sinodal da Igreja Católica visando a sua renovação ao nível das formas de participação na mesma, do exercício do poder,da desclericalização e de um compromisso mais forte com os mais pobres ,refugiados e imigrantes.

Ora as Jornadas Mundiais da Juventude não são alheias a esta dinâmica e apelo a uma conversão de todos os cristãos a uma Igreja mais comprometida com os movimentos populares,com os perseguidos por causa da justiça,com os que para sobreviverem precisam de abandonar a sua terra e casa.Se não se inscrever no coração das Jornadas Mundiais da Juventude esta inspiração apenas assistiremos a um grandioso espectáculo estético e folclórico juvenil com dimensão política, óbviamente.

 

Sem comentários: