A entrevista do Secretário Geral da UGT, Carlos Silva,publicada hoje, dia 18 de dezembro, no jornal«Negócios» é mais um sinal de declínio de um certo sindicalismo em Portugal e no mundo!A entrevista, a ler com atenção, valerá pelo que diz mas também pelo que subentende.Sobre a negociação do salário mínimo para 2018 e sobre a legislação laboral Carlos Silva mostra-se claramente disposto a alinhar nas pretensões das organizações patronais não mexendo na legislação da troika/Passos Coelho e ficando satisfeito com a proposta governamental de 580 euros.
Sobre o conflito da Autoeuropa Carlos Silva culpa os sindicatos por não desempenharem o seu papel na empresa, o que pode ser verdade,e dá um reprimenda à Comissão de Trabalhadores, onde a UGT não tem sequer um membro, por exercer a democracia operária dizendo textualmente que «o tempo das assembleias diretactas já lá vai».
Em poucas entrevistas de sindicalistas é tão óbvia a vontade de colaborar com o poder económico e político, colocando-se o Secretário Geral da UGT numa posição negocial de partilha do poder e abdicando de uma atitude genuinamente sindical de reivindicação.Carlos Silva pertence ao grupo no PS que não gosta da «geringonça» e considera boas as alterações ao Código do Trabalho efetuadas pelo Governo de Passos Coelho.Mas há muitos camaradas seus no PS e na UGT que não concordam nada com essa posição.Elas serviram para embaratecer o valor do trabalho, retirar capacidade reivindicativa e poder aos trabalhadores!
Por outro lado Carlos Silva ao afirmar de uma forma tão brutal que o tempo das assembleias diretas já lá vai assume as posições mais conservadoras e tecnocráticas apenas aceitáveis a alguns gestores,políticos de direita e empresários!Com as novas tecnologias é hoje mais possível do que nunca a participação alargada dos trabalhadores no voto e nas reuniões.E na Autoeuropa não esteve a votação uma media qualquer, mas sim um acordo de empresa que justifica perfeitamente uma ampla discussão com todos os trabalhadores!Porventura o modelo sindical da UGT não prevê este tipo de prática que é inerente à própria identidade operária, ao sindicalismo mais genuino.A Comissão de Trabalhadores faz muito bem e tem uma prática excelente e verdadeiramente ao serviço dos trabalhadores.Não pratica o sindicalismo de cúpula, de gabinete, em que os eleitos decidem sem dar cavaco às bases!O facto de um trabalhador ser eleito para uma estrutura sindical ou outra de representação não lhe dá o poder de decidir sempre e sobre todas as questões sem consultar os mesmos trabalhadores!
Apenas posso dizer sinceramente que, com esta entrevista, mais uma vez Carlos Silva desiludiu muita gente e deixou outros intrigados!
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