sexta-feira, 20 de maio de 2016

A QUALIDADE DOS SERVIÇOS EXTERNOS DE SST!

A segurança e saúde no trabalho em Portugal têm a sua história. Refletir sobre as mesmas é uma obrigação de todos os que são atores neste domínio, nomeadamente os técnicos e as organizações de trabalhadores. 
Hoje há quem se congratule por existirem milhares de técnicos de segurança e um número razoável de médicos do trabalho! É um facto positivo e diga-se em abono da verdade que ainda são necessários mais técnicos sem descurar  uma formação rigorosa dos mesmos! Há também quem se congratule por existir já um número razoável de empresas prestadoras de serviços de segurança e saúde no trabalho. Aqui já não estou de acordo! Creio que o sistema falhou nesta matéria e não são as auditorias da ACT ou da DGS que poderão superar o problema de base. E qual é o problema de base? É a falta de qualidade da prestação de serviços externos de SST.
O Estado incentivou um mercado de prestação de serviços externos, definiu regras, um quadro regulamentar de base e dois reguladores. No entanto, uma larga percentagem de empresas, a maioria pequenas e médias, não está disponível para investir na promoção da segurança e saúde no trabalho. Logo, não está disponível para pagar um valor suficiente para que as empresas prestadoras façam mais do que ação à distância e preenchimento de relatórios. O objetivo para uma maioria é cumprir burocraticamente a lei! Aliás, num recente inquérito, ESENER, as empresas portuguesas apontavam as coimas da ACT como primeira razão para fazerem algo nestas matérias.
Podemos assim dizer que a maioria das prestações de serviços de SST são puro engano e mera burocracia que sustentam um negócio relativamente pouco interessante! Um diploma voluntarista publicado pelo anterior governo abria a hipótese dos centros de saúde poderem prestar assistência a micro empresas e trabalhadores independentes no domínio da SST. Esse diploma já foi revogado porque em boa verdade os centros de saúde não tinham técnicos para fazerem este trabalho e as limitações orçamentais da Comissão Europeia não permitem a contratação de mais pessoal. Ou seja o Estado não quer, ou não pode, gastar dinheiro com a saúde ocupacional e as empresas também não!

Esta situação crua e nua faz-nos concluir que as organizações de trabalhadores não podem estar satisfeitas com esta situação do «faz de conta»! A promoção efetiva da SST é da responsabilidade das empresas e, de certo modo, é do Estado também, enquanto problema de saúde pública! Quem paga esta situação? Os trabalhadores e seus familiares! Mas a sociedade também paga com os custos dos acidentes e das doenças profissionais! Então porque andamos todos a fazer de conta?

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