sexta-feira, 26 de abril de 2013

A REVOLTA DA MADEIRA!

A História dos povos dos Açores e da Madeira é pouco conhecida à escala nacional, pelo que me
proponho resumir um pouco a Revolta da Madeira, ocorrida no sábado de aleluia, de 4 de Abril de 1931.

Porém, dois meses antes, (Fevereiro de 1931) a população da Madeira terminara a “revolução da farinha”, contra a centralização no Estado, da importação de cereais, como meio de controlar o seu comércio. No seguimento dessa centralização, o Estado decretou a suspensão da importação da farinha e ao consequente aumento do preço do pão.

A crise de 1929 que afectou o Mundo, teve um particular impacto na Ilha da Madeira, provocando uma gravíssima situação económica, (em especial nos vinhos e bordados), multiplicando-se: falências, (casas bancárias) despedimentos, fome, prostituição, assaltos, furtos, muita violência e miséria. A recessão económica, pressionava os madeirenses a emigrarem, para subsistirem às difíceis condições de vida.

Assim, a Revolta da Madeira ocorre num cruzamento conjugado de diferentes factores: endógenos (situação económica política e social) e exógenos: o considerável número de deportados do continente, entre os quais, algumas figuras de destaque da carbonária, da maçonaria, sindicalistas e de alguns militares (general Adalberto Sousa Dias, coronel Fernando Ferreira e outros, da falhada revolução do Porto, de Fevereiro de 1929).

Segundo Cunha Leal, militar em serviço na Madeira, “Aqui os deportados continuam aos pontapés uns aos outros para variar e parece não terem nada para fazer”.

O principal elemento despoletador da revolta foi o “decreto da fome” de 26 de janeiro de 1931, que restabeleceu monopólio da importação de cereais a um trust de moageiros madeirense, da clientela política, e que levou a várias reações da população em geral e da própria classe média, acompanhada de greves e tumultos populares na ilha.

Aliás, este movimento de levantamento de revoltas alastrou-se no continente e em algumas ilhas dos Açores. Diga-se que na Madeira os revoltosos conseguiram apoio popular, (com a cooperação de todos os partidos que aderiram ao movimento) aproveitando-se do descontentamento gerado pela política económica restritiva do Governo do continente.

Deposto o governador do Estado Novo, foi constituída uma nova junta governativa com o objectivo de garantir o normal funcionamento das instituições. Assim, o general Adalberto Sousa Dias assumiu a presidência da junta governativa da Madeira, com o propósito de ir ao encontro as ansiedades do povo da Ilha.

Mas, para a Ilha se manter autónoma os revoltosos contavam com o apoio do exterior, que nunca chegou e com a neutralidade dos ingleses. No entretanto, chegaram a um consenso com a Igreja e com o cônsul inglês na Madeira, que protegia os interesses britânicos.

Surgem notícias do embarque das primeiras tropas do continente para a Madeira a 7 de Abril, que se afiguram insuficientes. Porém, a ditadura armara em vinte dias a maior esquadra, com um contingente de mais de 2500 homens para atacar os revoltosos. No dia 25 de abril começaram as movimentações de desembarque, coincidindo com uma grande manifestação, na cidade do Funchal.

As forças militares do regime tentam desembarcar no Caniçal a 22 de Abril. E conseguem, no dia seguinte, apear-se em São Lourenço e na Calheta. Travam duras lutas em Machico até que, com informações de populares abrem caminho até ao Funchal.

Finalmente, a 2 de maio, os revoltosos cessam a resistência, fugindo para bordo do navio de guerra HMS London que se encontrava a proteger os interesses britânicos na Madeira. Entanto, os britânicos desrespeitando o acordo firmado com a Junta, entregam o general Sousa Dias e mais de uma centena de militares revoltosos às autoridades portuguesas, que os enviam, imediatamente, para Cabo Verde. A 4 de Maio, verificava-se o fim dramático da resistência, da autonomia da Madeira, que durou 28 dias.

José Manuel Vieira- natural de Boaventura,sociólogo

Sem comentários: