LIA TIRIBA(1)
Ao mesmo tempo, a flexibilização das relações entre capital e trabalho tem oportunizado a geração de postos de trabalho cada vez mais precários, assim, não é por acaso que também nos países centrais do capitalismo, cresce o número de pessoas que fazem da rua o seu local de trabalho. Quem anda pelo Rio de Janeiro ou em qualquer outro centro urbano já percebeu que se faz sol e o trânsito engarrafa, é dia de muitos vendedores de água mineral. Como se fosse um mistério da natureza, quando chove, ‘chovem’ guarda-chuvas por todos os lados. Se nos perguntassem que profissões, atualmente estão ‘em alta’ no mercado, poderíamos dizer que, são a dos moto-taxis e catadores de latinha, além de psicólogos e psiquiatras para tentar driblar os problemas de saúde mental agudizados pela mais nova crise econômica (leia-se crise do capital).
Tornando-se uma mercadoria cada vez mais lucrativa para os empresários do ensino, a escola e a universidade-empresa prometem desenvolver as chamadas competências básicas para a empregabilidade e para o empreendedorismo (sendo este último, a mais nova versão do ‘ganhar a vida por conta-própria’). No atual contexto em que a capacidade destrutiva do capital repercute na deterioração do planeta e das condições de vida dos seres humanos, seria pura ‘ideologia’ dizer que o problema do desemprego será superado com aumento de escolaridade e com a melhor qualificação profissional dos trabalhadores. Na verdade, apesar da esperança dos trabalhadores e seus filhos, a escola ajuda, não pode ser considerada como a ‘redentora da humanidade’, no sentido de propiciar um lugar ao sol a todos os cidadãos. No regime de acumulação flexível, assegurado pelas políticas neoliberais que retiram da população os direitos sociais historicamente conquistados, não há lugar para todos. Com poucas oportunidades de “trabalho decente” (conforme apregoa a Organização Internacional do Trabalho – OIT), apenas os ‘mais aptos’ sobreviverão.
É fundamental garantir uma Educação Básica que seja pública, gratuita e de qualidade social para todos. Esta é uma palavra de ordem atual. No entanto, é hora de perceber que o objetivo da educação não é atender ao mercado, mas o bem estar social e humano. A qualificação profissional de que precisamos é a que capacite reflexões e pensamentos, possibilitem a criação de propostas e práticas que modifiquem as relações econômico-sociais em todos os seus aspectos. Afinal, o sistema capital não é um sistema inexorável.
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1 Professora da Universidade Federal Fluminense, Brasil, e pesquisadora do Núcleo de Estudos, Documentação e Dados sobre Trabalho e Educação (Faculdade de Educação/UFF). Lia Tiriba esteve recentemente em Portugal a fazer uma pesquisa sobre pedagogia,autogestão e movimentos ds trabalhadores.A Lia ofereceu-se generosamente para colaboradora deste blog o que é, sem dúvida, uma honra para mim.
E-mail: liatiriba@gmail.com.
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